Governo de São
Paulo usa subterfúgios contábeis para cumprir previsão orçamentária e mostrar
serviço no aumento da arrecadação; o que foi duramente atacado como
'contabilidade criativa' do governo federal é chamado de 'ajuda de parcelamento
de tributos' pelo jornal especializado Valor Econômico, das famílias Frias e
Marinho; tratamento diferenciado para movimentos semelhantes comprova, outra
vez, que regra vigente na mídia é "ao amigos tudo, aos inimigos a lei
segundo a nossa interpretação"
Dois pesos e
duas medidas jornalísticas foram dados pelo veículo especializado Valor
Econômico, das famílias Frias e Marinho, para o mesmo tipo de ajuste nas contas
públicas feitas pelos governos federal e estadual de São Paulo. O que foi
jocosamente chamado de "contabilidade criativa", que teria sido usada
pelo Ministério da Fazenda para demonstrar superávit primário em 2013, mereceu
a definição de "parcelamento de tributos" quando, agora, um recurso
contábil também foi utilizado com o mesmo fim pela Secretaria de Fazendo do
Estado de São Paulo. Como se sabe, o governo federal é administrado pela
presidente Dilma Rousseff, do PT, enquanto o governo paulista é tocado pela
terceira vez por Geraldo Alckmin, do PSDB.
Com o título
"Com ajuda do parcelamento de tributos, SP atinge arrecadação projetada
para 2013" – e sem nenhuma referência entre as 18 notícias destacadas em
sua primeira página nesta terça-feira A2 --, o jornal Valor Econômico escolheu
um tratamento bastante amistoso para dizer que "de forma semelhante ao
governo federal" o governo de São Paulo fechou suas contas do ano passado.
No caso do
governo federal, que cerca de três meses atrás informou antecipadamente
operações contábeis que seriam feitas em torno suas contas, o trabalho foi
ironicamente chamado de "contabilidade criativa" e o ministro Guido
Mantega e o secretário do Tesouro, Arno Augustin, foram atacados numa
verdadeira razia feita pela mídia tradicional e familiar. A expressão foi usada
de maneira crítica não apenas no Valor, mas também por veículos como as
revistas Veja e Exame e o jornal O Globo.
Agora, porém,
quando um recurso contábil – a inclusão de parcelamentos do ICMS – serve para
elevar de 0,2% para 5% a alta real da receita tributária do Estado de São
Paulo, nenhuma palavra irônica ou jocosa ainda foi escrita na mesma mídia
tradicional e familiar.
Graças ao
recurso utilizado pelos auxiliares de Alckmin na Secretaria da Fazenda,
comandada pelo tucano de quatro costados Andrea Calabi, São Paulo fechou 2013
com uma receita tributária positiva 2,6% maior que a projetada inicialmente.
Sem os recursos parcelados do ICMS – um dinheiro que ainda deve entrar nos
cofres do Estado, mas que efetivamente não entrou --, São Paulo teria fechado o
ano passado com um déficit de 0,8% sobre o orçado. Ou seja, fecharia no
vermelho.
Enquanto
Mantega e Augustin foram fustigados por perguntas sobre a sua suposta
"contabilidade criativa", desta vez o Valor não se deu ao trabalho
nem mesmo de ouvir o secretário tucano Calabi, contentando-se com a palavra do
chefe de Assistência Fiscal de Planejamento Estratégico da Secretaria da
Fazenda.
Tudo
justificado para os tucanos, o jornal de economia que as famílias Frias e
Marinho tem em sociedade ainda publicou abaixo da matéria simpática ao governo
Alckmin um reportagem associada ao tema. É claro, agora sim com duras
críticas... ao governo federal. "União precisa de ajuste fiscal 'crível',
dizem analistas", com mais ataques à política econômica. Nesse contexto, a
matéria principal soou como um verdadeiro elogio aos economistas tucanos sob a
chefia de Alckmin
Como se pode
ver pela edição de hoje do Valor Econômico, está vigorando na mídia tradicional
e familiar, cada vez mais acentuadamente, a velha regra: "ao amigos, tudo;
aos inimigos, a lei segundo a nossa interpretação"
Do Brasil 247
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