terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Mídia elogia contabilidade criativa de tucano Alckmin


Governo de São Paulo usa subterfúgios contábeis para cumprir previsão orçamentária e mostrar serviço no aumento da arrecadação; o que foi duramente atacado como 'contabilidade criativa' do governo federal é chamado de 'ajuda de parcelamento de tributos' pelo jornal especializado Valor Econômico, das famílias Frias e Marinho; tratamento diferenciado para movimentos semelhantes comprova, outra vez, que regra vigente na mídia é "ao amigos tudo, aos inimigos a lei segundo a nossa interpretação"

Dois pesos e duas medidas jornalísticas foram dados pelo veículo especializado Valor Econômico, das famílias Frias e Marinho, para o mesmo tipo de ajuste nas contas públicas feitas pelos governos federal e estadual de São Paulo. O que foi jocosamente chamado de "contabilidade criativa", que teria sido usada pelo Ministério da Fazenda para demonstrar superávit primário em 2013, mereceu a definição de "parcelamento de tributos" quando, agora, um recurso contábil também foi utilizado com o mesmo fim pela Secretaria de Fazendo do Estado de São Paulo. Como se sabe, o governo federal é administrado pela presidente Dilma Rousseff, do PT, enquanto o governo paulista é tocado pela terceira vez por Geraldo Alckmin, do PSDB.

Com o título "Com ajuda do parcelamento de tributos, SP atinge arrecadação projetada para 2013" – e sem nenhuma referência entre as 18 notícias destacadas em sua primeira página nesta terça-feira A2 --, o jornal Valor Econômico escolheu um tratamento bastante amistoso para dizer que "de forma semelhante ao governo federal" o governo de São Paulo fechou suas contas do ano passado.

No caso do governo federal, que cerca de três meses atrás informou antecipadamente operações contábeis que seriam feitas em torno suas contas, o trabalho foi ironicamente chamado de "contabilidade criativa" e o ministro Guido Mantega e o secretário do Tesouro, Arno Augustin, foram atacados numa verdadeira razia feita pela mídia tradicional e familiar. A expressão foi usada de maneira crítica não apenas no Valor, mas também por veículos como as revistas Veja e Exame e o jornal O Globo.

Agora, porém, quando um recurso contábil – a inclusão de parcelamentos do ICMS – serve para elevar de 0,2% para 5% a alta real da receita tributária do Estado de São Paulo, nenhuma palavra irônica ou jocosa ainda foi escrita na mesma mídia tradicional e familiar.

Graças ao recurso utilizado pelos auxiliares de Alckmin na Secretaria da Fazenda, comandada pelo tucano de quatro costados Andrea Calabi, São Paulo fechou 2013 com uma receita tributária positiva 2,6% maior que a projetada inicialmente. Sem os recursos parcelados do ICMS – um dinheiro que ainda deve entrar nos cofres do Estado, mas que efetivamente não entrou --, São Paulo teria fechado o ano passado com um déficit de 0,8% sobre o orçado. Ou seja, fecharia no vermelho.

Enquanto Mantega e Augustin foram fustigados por perguntas sobre a sua suposta "contabilidade criativa", desta vez o Valor não se deu ao trabalho nem mesmo de ouvir o secretário tucano Calabi, contentando-se com a palavra do chefe de Assistência Fiscal de Planejamento Estratégico da Secretaria da Fazenda.

Tudo justificado para os tucanos, o jornal de economia que as famílias Frias e Marinho tem em sociedade ainda publicou abaixo da matéria simpática ao governo Alckmin um reportagem associada ao tema. É claro, agora sim com duras críticas... ao governo federal. "União precisa de ajuste fiscal 'crível', dizem analistas", com mais ataques à política econômica. Nesse contexto, a matéria principal soou como um verdadeiro elogio aos economistas tucanos sob a chefia de Alckmin

Como se pode ver pela edição de hoje do Valor Econômico, está vigorando na mídia tradicional e familiar, cada vez mais acentuadamente, a velha regra: "ao amigos, tudo; aos inimigos, a lei segundo a nossa interpretação"

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Dag Vulpi

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