Paulo
Nogueira, editor do Diário do Centro do Mundo, respondeu a crítica feita por
Joaquim Barbosa aos meios de comunicação que, segundo ele, glorificam os
condenados na Ação Penal 470; "Ora, os condenados são chamados
continuamente pela mídia de mensaleiros, petralhas e coisas do gênero. JB, em
compensação, é “o menino pobre que mudou o Brasil”. JB consegue ver
glorificação onde existe, na realidade, demonização", diz ele
O jornalista
Paulo Nogueira, editor do Diário do Centro do Mundo, contesta a tese de Joaquim
Barbosa sobre uma suposta glorificação dos condenados na Ação Penal 470. O que
existe, diz ele, é o inverso: a demonização. Confira abaixo:
Ostracismo
para os reus
E eis que
Joaquim Barbosa agora decidiu ser editor. Ou professor de jornalismo. Em
Londres, ele diz que a mídia não devia dar tanto espaço aos condenados do
Mensalão.
Melhor:
nenhum espaço. Eles deviam ser condenados ao “ostracismo”. Faz parte da pena,
segundo ele.
E
a imprensa comete o crime de “glorificação” dos condenados.
Todo
mundo tem cabeça complicada, mas JB excede. Glorificar juízes pode?
Temos
então dois tipos de glorificação segundo JB. Um, dos magníficos magistrados, é
permitido. Outro, dos condenados, não.
O
caso parece patológico quando se examina a mídia acusada por JB. Onde ele terá
visto glorificação? Ora, os condenados são chamados continuamente pela mídia de
mensaleiros, petralhas e coisas do gênero. JB, em compensação, é “o menino
pobre que mudou o Brasil”. JB consegue ver glorificação onde existe, na
realidade, demonização.
Alguém pode
chamar um psiquiatra para nos ajudar a entender este paradoxo? E o paradoxo de
alguém que diz que não vai ficar de conversinha com um réu, como explicá-lo?
Pausa para
rir.
Se quer ser
editor, Joaquim Barbosa podia aprender com o maior dos jornalistas, Joseph
Pulitzer. Pulitzer inventou, na segunda metade do século 19, a primeira página,
tal como a conhecemos, com manchete e notícias de destaque com hierarquia
clara. Antes, a primeira páginas era um amontoado de informações.
Pulitzer tinha
a seguinte divisa: jornalista não tem amigo.
Ele sabia que
a amizade corrompe o jornalista. Como você pode escrever com isenção sobre um
amigo? Uma vez ele viu um político de grande influência na redação de seu
jornal. Teve um acesso de fúria.
Foi uma divisa
que tomei para mim em toda a minha carreira, e procurei passá-la a todas as
pessoas que trabalharam comigo: jornalista não tem amigo.
Assim como o
jornalista, juiz também não pode ter amigo. Mas os nossos têm, sobretudo entre
os jornalistas. Quando a mídia e a justiça são amigas a vítima é o interesse
público, já que uma deveria fiscalizar a outra.
A amiga Globo
deu ao filho de JB um emprego. Que isenção se pode esperar de JB se um dia um
caso da Globo for decidido por ele?
Pior ainda:
que exemplo ele dá a jovens juízes?
JB, já que
decidiu posar de editor, poderia ler Pulitzer. Tarde demais? Sejamos orimistas,
como Epicuro: nunca é cedo demais nem tarde demais para aprendermos alguma
coisa.
Como editor,
JB tem o mesmo espírito que o caracterizou como juiz. Aos poderosos é dada voz,
e eles podem (e devem) ser glorificados.
Aos que estão
por baixo, o ostracismo, o silêncio. E a perseguição, e até o terrorismo moral,
como se tem visto tão bem no caso Genoino.
Absoluta
coerência entre o JB juiz e o JB editor.
Rir da miséria
humana é melhor que chorar, ensinou Montaigne. Então riamos.
Riamos como deve
estar rindo João Paulo Cunha ao ver o tamanho do estrago que sua tirada sobre o
“rolezinho europeu” de JB provocou numa das maiores vaidades da República, um
sabe tudo que agora entende que pode dar lição aos jornalistas.
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site
de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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