Uma
brincadeira que acabou virando caso de polícia. É o que sugere o autor do blog Joselito
Müller –Jornalismo
Destemido sobre as consequências de ter publicado um texto informando
que a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, ficou comovida ao ver um
vídeo em que um bandido é baleado por um policial durante tentativa de assalto
em São Paulo.
Interpretado
por muitas pessoas como uma notícia verdadeira, o texto foi amplamente
reproduzido nas redes sociais, levando a ministra a acionar a Polícia Federal (PF) e a anunciar a
intenção de processar o blogueiro, além de pedir que a página do blog seja
tirada do ar.
O autor do
blog acredita que seus leitores sabem que, geralmente, ele escreve
"pilhérias”, reconhecendo, contudo, que muita gente tomou a piada como
verdade. “Mas isso é algo que independe da minha vontade”, disse em entrevista
à Agência Brasil.
O blogueiro,
que prefere não revelar seu verdadeiro nome e profissão, informou apenas que
mora em Natal (RN), onde sua identidade já é conhecida devido a um caso
parecido ocorrido em maio deste ano. Na ocasião, o blog atribuiu à senadora Ana
Rita (PT-ES) a autoria de um projeto de lei que criaria uma bolsa de R$ 2 mil
mensais para prostitutas. A proposta jamais existiu, mas a falsa notícia acabou
reproduzida não só nas redes sociais, mas em veículos de imprensa de grande
circulação.
A repercussão
motivou Ana Rita a acionar a Polícia Federal, a Procuradoria Parlamentar do
Senado e o Ministério Público Federal. A senadora ingressou com ação judicial
por danos morais e quebra do sigilo eletrônico do blogueiro, pedindo que a
falsa matéria postada por ele fosse tirada do ar. O juiz oficiou o Facebook e o
Wordpress (onde o blog está abrigado).
"As
medidas tomadas contra esse senhor não podem ser consideradas, em hipótese
alguma, censura ou cerceamento à liberdade de expressão", declarou a
senadora à Agência Brasil. "Ele se utiliza de critérios jornalísticos para
espalhar inverdades país afora. Muitos veículos deram a notícia como verdadeira
e a repercutiram nas mais variadas regiões do Brasil, causando um enorme
prejuízo a mim e ao nosso mandato, dado o trabalho que tivemos para responder a
todas as notícias falsas. Esse tipo de caso deve ser tratado de forma exemplar,
para que outras pessoas não sejam vítimas de práticas irresponsáveis dessa
natureza”, concluiu a senadora.
Em junho deste
ano, um texto de grande repercussão do mesmo blog envolveu o
Ministério da Cultura, acusado de gastar R$ 4 milhões para construir um
Memorial do Funk. O texto, escrito como todos os outros como se fosse uma
notícia real, atribuía a um porta-voz da pasta a declaração de que o governo
pretendia ensinar estudantes a compor e a dançar funk, rap e hip-hop.
Sobre a falsa
notícia envolvendo a ministra Maria do Rosário, publicada na terça-feira (15),
o blogueiro disse que a ideia surgiu enquanto ele imaginava possíveis reações
de alguns setores da sociedade diante do vídeo em que o policial paulistano
alveja o assaltante.
“Como o Brasil
vem sendo palco de situações surreais no campo político, resultado da explícita
inversão de valores capitaneada por setores progressistas, qualquer mentira
absurda se torna verossímil. Talvez por isso muita gente toma como verdade o
que escrevo”, comentou o blogueiro, explicando que escolheu a ministra Maria do
Rosário como personagem da falsa notícia porque, na sua avaliação, “ela
representa muito bem os clichês a respeito do tema violência”.
O blogueiro
garantiu não ter difamado a ministra e minimizou a chance de vir a ser processado.
“Acredito que a Polícia Federal tem muito trabalho e que não é justo ficar
perdendo tempo comigo. E nem é necessário acionar a PF, uma vez que me
prontifiquei a informar meus dados. Basta pegar os dados que já estão no outro
inquérito”, comentou o blogueiro, em alusão à polêmica com a senadora Ana Rita.
“Não faço
parte de nenhuma conspiração “liberal-fascista” que recebe grana para
desestabilizar o governo por meio de mentiras”, concluiu o blogueiro à
reportagem. A ministra Maria do Rosário não vai se pronunciar sobre os
comentários do autor do blog.
Agência Brasil
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