Segundo Celso Roma, o senador mineiro quer forçar a disputa antes da possibilidade de o ex-governador paulista mudar de legenda
O ex-governador de São Paulo José Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Aécio Neves falam com a imprensa após visita ao velório do senador e ex-presidente Itamar Franco |
por Matheus Pichonelli na Carta Capital.
José Serra, candidato duas vezes derrotado à Presidência pelo PSDB, já anunciou: será candidato novamente em 2014. A um ano do início oficial da campanha, a declaração atiçou o ninho tucano no momento em que a construção da candidatura do senador mineiro Aécio Neves, atual presidente da legenda, parecia pavimentada.
Após a declaração, Aécio passou a defender publicamente a realização de prévias para ungir o candidato tucano. Serra, ao menos publicamente, disse topar o desafio. E fez um adendo: quer condições iguais para a disputa.
O acirramento da disputa deixou a candidatura em aberto a um ano da eleição. E deixou clara a possibilidade de o PSDB caminhar mais uma vez rachado para a disputa. “É uma sinuca de bico para José Serra”, afirma o cientista político Celso Roma, especialista em partidos políticos. “Se Serra aceitar prévias após o dia 5 de outubro, Aécio tem chance de vencê-lo e eliminar um concorrente do mesmo campo político, visto que não haverá tempo para Serra obter a candidatura por outro partido, como o PPS. Se aceitar prévias somente antes de 5 de outubro, Serra perderá credibilidade entre os próprios filiados do PSDB. Não há condições de o PSDB realizar prévias fora do prazo.”
Estudioso do PSDB, Roma lembra que, nas últimas eleições, Serra atuou para tirar do páreo a candidatura dos colegas da legenda. "Com os olhos voltados para a eleição de 2002, o então ministro da Saúde boicotou os demais pré-candidatos. Pode repousar nesse episódio o maior erro da história do PSDB. No governo Fernando Henrique, o ministro da Educação Paulo Renato de Souza propôs uma campanha publicitária para divulgar a bolsa escola. A proposta foi rejeitada. Paulo Renato estava na linha de sucessão. O governo perdeu a oportunidade de deixar uma marca social."
Em 2010, completa o cientista político, Serra pressionou para que a direção nacional do PSDB descartasse a realização de prévias e reafirmasse a tradição de definir o candidato. O pedido foi atendido. “Os líderes engavetaram o projeto de prévias, que havia sido concebido desde 2006 para resolver os problemas em torno da definição da candidatura. Aécio Neves teve de aguardar a vez. O evento acirrou a rivalidade entre paulistas e mineiros, aprofundando as rachaduras do partido”.
Enquanto isso, o principal adversário, o PT, deixou mais do que claro, há algum tempo, que a candidatura está fechada em torno de Dilma Rousseff. Roma compara as duas situações: “Pelo bem do PT, Lula influencia as decisões dos dirigentes, seleciona candidatos para as eleições e costura alianças com outros partidos. É de conhecimento público que, desde a fundação do partido, Lula trata líderes e demais filiados como membros da própria família. Pelo mal do PSDB, José Serra questiona as decisões das lideranças, rivaliza com os correligionários e renega as alianças históricas do partido. É reconhecido também que, desde a criação do partido, Serra usa o critério de conveniência para se relacionar com os demais filiados”.
Segundo o especialista, nas duas ocasiões em que Serra disputou a Presidência, o PSDB perdeu mais do que uma corrida eleitoral. “O problema de José Serra é a alta taxa de rejeição registrada nas pesquisas de intenção de voto. Se ele se apresentar como candidato por outro partido, um número maior de eleitores rejeitará o nome dele. Eleitores estão menos propensos a aceitar oportunismo”.
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