Há muitos anos se sabia do cartel, mas o Ministério Público Estadual e o Tribunal de Contas do Estado pouco investigavam
por Luis Nassif
Para
entender o caso Siemens – a acusação de que a empresa pagou propinas em
licitações dos Metrôs de São Paulo e Brasilia – primeiro passo é
identificar adequadamente os personagens.
Em
praticamente todas as instâncias públicas – do governo federal aos municipais –
as relações obscuras entre fornecedores e governo seguem determinado padrão,
com personagens bem definidos.
O
primeiro personagem relevante é o operador do serviço público, o funcionário
público que sabe atuar nas brechas da legislação, servindo ao governante do
momento.
O
segundo personagem é o lobista, o sujeito de fora da máquina que faz a
interface entre o funcionário (ou o mandatário) e a empresa subornadora.
O
terceiro personagem é a subornadora, a empresa que paga para conseguir vantagem
nos contratos.
O
quarto personagem é o é o operador político – o representante do governante,
incumbido dos acertos finais.
O
quinto personagem é o ministro, governador ou prefeito do momento e seus
respectivos secretários.
***
Há
muitos anos se sabia da existência do cartel atuando em São Paulo. Em 2008, o
Tribunal de Contas do Estado (TCE) estranhou compra de trens pela CPTM
(Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) sem licitação. A vendedora foi a
espanhola CAF. Para eximir-se da licitação, a CPTM apresentou um laudo do
sindicato da categoria – avalizado por todos os grandes competidores (Siemens,
Allston, Bombardier etc.).
Em
qualquer economia avançada, acordos dessa natureza, sancionados pelo sindicato
da categoria, são a prova inconteste de atuação do cartel. Na época, no
entanto, o Ministério Público Estadual considerou o documento como legítimo e
suficiente para se abrir mão da licitação. E aparentemente o TCE concordou.
***
Com
poucos promotores empenhados em apurar os casos – e arquivando a maioria das
denúncias – com o TCE pouco ativo, uma Assembleia Legislativa sob controle e os
grandes jornais fechando os olhos para a as operações, avançou-se além do que
se recomendaria a prudência.
***
A
alemã Siemens e a francesa Alston tinham sido pressionadas pelas autoridades de
seus países a realizar um compliance –
isto é, um conjunto de práticas que extirpasse de vez as ilegalidades cometidas
internacionalmente. E, nos Estados Unidos, foram montadas estruturas visando
coibir as más condutas corporativas.
Esse
ajustamento de conduta surgiu depois que se soube que ambas as corporações
estimulavam suas filiais em países emergentes a pagar propina para conseguir
grandes negócios. As práticas geraram escândalos de monta e ambas as empresas
tiveram que assumir, diante da Justiça, o compromisso de coibir a prática.
Mas
não o fizeram.
***
Apanhadas
novamente, deram início a um processo interno de apuração de responsabilidades.
O primeiro a cair foi o presidente da Siemens Brasil, Adilson Primo, sob
suspeita de aproveitar a falta de contabilização para proveito próprio.
Reincidente,
a Siemens procurou autoridades do Cade (Conselho Administrativo de Defesa
Econômica) e propôs um acordo de leniência – espécie de delação premiada.
É
a partir dele que as investigações foram retomadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi