A contratação
de médicos cubanos para as vagas não preenchidas por brasileiros no programa
Mais Médicos voltou a ser motivo de polêmica entre representantes da categoria
e os que apoiam as iniciativas do governo durante debate que o Senado realizou
nesta quinta-feira (22). A audiência, realizada pela Comissão de Direitos
Humanos e Legislação Participativa (CDH), visava discutir detalhes do programa
criado pela Medida Provisória 621/2013, como a contratação de
estrangeiros e o estágio obrigatório para acadêmicos de medicina no Sistema
Único de Saúde (SUS).
O presidente
da Federação Nacional dos Médicos, Geraldo Ferreira, disse que a medida viola
os direitos dos estrangeiros e pode levar ao "trabalho escravo". Já
os defensores da contratação, como a senadora Ana Rita (PT-ES), destacaram a
falta de atenção básica em diversas regiões do país – alguns, inclusive,
acusaram os médicos brasileiros de corporativismo.
Para Geraldo
Ferreira, a contratação de cubanos "tem características de trabalho
escravo e representa uma clara violação de direitos trabalhistas, porque eles
vêm sem uma revalidação [do diploma] e sem concurso, ficando
desprotegidos".
– Do modo como
está sendo feito, há uma simulação de ensino a profissionais que vêm para
trabalhar. Isso é irregular do ponto de vista dos tratados internacionais –
acusou.
Defensor da
contratação, o senador Humberto Costa (PT-PE), que é médico e já foi ministro
da Saúde, lembrou que o primeiro edital do programa Mais Médicos comprovou a
falta de interesse dos médicos brasileiros em trabalhar com atenção básica em
regiões carentes ou mais distantes. Além da baixa procura, cerca de 700
municípios – a maior parte no Norte e no Nordeste – não foram escolhidos por
nenhum profissional.
– Os médicos
de Cuba são bem formados. Esse país tem um dos melhores sistemas de saúde do
mundo. E, na área de atenção básica, se não é o melhor, é um dos melhores –
assinalou Humberto Costa.
Necessidades
Ao apoiar a
contratação de estrangeiros, e não apenas cubanos, o senador Anibal Diniz
(PT-AC) afirmou que é "preciso tomar muito cuidado para que o
corporativismo não prejudique a população". Na mesma linha de raciocínio,
Jorge Solla, secretário de Saúde da Bahia e membro do Conselho Nacional de
Secretários de Saúde (Conass), declarou que as entidades médicas, em vez de
discutir quantos médicos serão necessários daqui a dez anos para atender as
demandas de saúde, discutem quantos médicos poderá haver daqui a dez anos para
que mantenham os salários atuais.
– O que tem de
pautar a discussão sobre o número de profissionais é a necessidade do sistema
de saúde de atender os cidadãos – frisou Jorge Solla.
Por outro
lado, o senador e médico Paulo Davim (PV-RN) disse que "apenas colocar
médicos em locais longínquos não adianta, pois isso somente escamoteia o
problema". Assim como diversas entidades médicas, ele ressaltou que, sem a
devida infraestrutura e equipes multidisciplinares, o trabalho dos médicos fica
inviável. Por isso, argumentou, é necessário questionar o Executivo "para
colocar o dedo na ferida": o financiamento do SUS.
– Nas
condições em que virão para trabalhar, como será o compromisso dos estrangeiros
quando constatarem a falta de estrutura? Vão enfrentar os secretários de Saúde
ou vão ficar omissos para não perder o emprego? – questionou Davim.
Atenção
básica
Ao ressaltar a
importância da atenção básica, que é o foco do programa Mais Médicos, Jorge
Solla, representante dos secretários estaduais de Saúde, observou que é nesse
tipo de atendimento que se revolvem entre 80% e 90% dos problemas de saúde.
Mas, conforme apontou a prefeita de Guarujá (SP) e integrante da Frente
Nacional dos Prefeitos, Maria Antonieta de Brito, os médicos "não
querem" trabalhar com atenção básica. Ela defendeu a vinda de
profissionais de Cuba.
– Uma vez
colocamos em Guarujá um edital para pediatras. Ninguém apareceu – contou a
prefeita, acrescentando que "no Norte e no Nordeste é pior, mas não é
apenas nessas regiões que faltam médicos".
Jorge Solla
questionou os médicos que apontam falta de infraestrutura para trabalhar. Ele
argumentou que, para atuar na área de atenção básica, "não é necessário
tomógrafo, equipamentos de ressonância ou centro cirúrgico".
– Qual é
infraestrutura de que eles estão falando? Vamos discutir isso – pontuou.
Xenofobia
Para o médico
e pesquisador Heleno Rodrigues, há em relação aos médicos cubanos contratados
uma tentativa de desqualificação que revela xenofobia e "raiva de médicos
formados em um sistema socialista de acesso público à saúde".
Essas
acusações foram negadas pelo presidente da Federação Nacional dos Médicos.
Geraldo Ferreira disse que as entidades médicas do país não são contra a vinda
de profissionais de outros países, mas sim contra aspectos dessa iniciativa,
"que levam à exploração dos estrangeiros". Paulo Davim também negou
que haja xenofobia em sua posição. O senador argumentou que são necessários
critérios mínimos para a seleção e a vinda desses profissionais.
Por sua vez,
Heleno Rodrigues disse que "o que existe, em muitos casos, são cidadãos
com cuidados e cidadãos sem cuidados".
– Não se trata
de se o médico é bom ou mau profissional. A questão é que esse profissional
está ausente em vários lugares – protestou.
Agência Senado
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