Ao anunciar a ação judicial contra a Siemens,
Alckmin quer evitar o questionamento sobre a participação tucana no esquema e
se auto-absolver, sem que os cidadãos paulistanos percebam
por Wálter
Maierovitch, no site da Revista Carta Capital
Nos
bancos acadêmicos aprendi uma velha e definitiva lição. Nas democracias, o
comando é do povo.
A palavra grega demokratia, como todos sabem, é composta por ´demos´, que quer dizer povo, e kratos, a significar
‘poder’. Por isso, e na melhor conceituação, significa ‘poder do povo’, ou
seja, regimes e sistemas políticos nos quais é o povo que comanda.
O problema é como atribuir poder ao povo. No velho berço de
Atenas, com cerca de 30 mil habitantes, tínhamos a democracia direta. Assim
mesmo, impunha-se uma odiosa exclusão às mulheres. Elas não participavam das
assembleias, a tornar imperfeito, por vício de origem, o sistema.
Segundo Aristóteles, ‘demos’ eram os pobres, enquanto, para os
marxistas, o povo era o proletariado.
Com o passar do tempo, consolidou-se a democracia representativa e
o princípio de maioria limitada e moderada. Trocado em miúdos, a maioria tem o
direito de governar mas com respeito aos direitos da minoria.
Colocado isso, soa diversionismo barato e marquetagem de quinta
categoria o pronunciamento do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).
O governador Alckmin disse que irá, por meio de ação judicial contra a empresa
multinacional Siemens, postular indenização (dano emergente e lucro cessante)
por ter essa empresa denunciado e confessado participação em licitação fraudada
nas implantações de linhas do metrô paulistano. No fundo, uma maracutaia,
segundo informado, consumada nos governos tucanos, desde Covas-Alckmin e a
passar por José Serra, que sempre se apresenta em panos de Varão de Plutarco
mas já está identificado como tartufo.
Duas colocações, no particular. O povo está legitimado, pelo seu
representante na chefia do governo (Alckmin), a buscar indenização pelos
prejuízos. Só que o povo (leia-se também cidadão paulista) também está
legitimado a buscar a responsabilização dos seus representantes que, ainda não
se sabe se dolosamente ou por incompetência, permitiram as ‘maracutaias’.
Mais ainda, ainda não se sabe nada sobre o preço da corrupção, ou
melhor, se foi para engordar carteiras e bolsos ou se para fazer caixa para
campanhas eleitorais tucanas. Alckmin, ao anunciar a ação judicial, quer evitar
o questionamento sobre a participação de todos os governadores nesse esquema.
Ele quer se auto-absolver, sem que os cidadãos paulistanos percebam.
No direito administrativo, está patente que os secretários do
governador são apenas agentes da sua autoridade. Todos os secretários de
Alckmin e Serra agiam, atuavam, por delegação. Se abusaram e trapacearam por
conta própria, fica claro que o (s) governador (res) foi inepto nas escolhas e
fiscalizações.
Como se percebe, o governo Alckmin é pródigo no exercício de uma
ética ambígua, que, certamente, seria reprovada pelo santo Josemaria Escrivá de
Balaguer. E não se trata, como se informou ter acontecido no passado, de
acordos com o chefão do Primeiro Comando da Capital (PCC). Refiro-me, agora, às
declarações de que o governo Alckmin não vai rescindir os contratos com a
Siemens e referentes a outras obras. Com efeito, a Siemens foi ‘bandida’ apenas
em certa e determinada obra. Para as demais, não é bandida.
Num pano rápido, está patente a ética ambígua de Alckmin pois a
Siemens, depois de admitir participação criminosa e os seus responsáveis
livraram-se em face do instituto da delação premiada, continuará, por contratos
cujo princípio básico é a confiança recíproca, a participar das realizações do
governo Alckmin.
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