Por: Pedro
Valls Feu Rosa*, no site do Jornal O
Porrete
Há
pouco mais de um ano, escrevi o artigo que segue abaixo:
"Eis
uma boa notícia para todos aqueles brasileiros que se preocupam com o país que
será entregue à geração seguinte: segundo um relatório do Conselho Nacional de
Inteligência dos EUA, sobre como estará o planeta em 2025, a economia do Brasil
crescerá muito.
Sim,
este estudo traz uma boa notícia. Previu-se que dentro de poucos anos nossa
economia receberá um vigoroso impulso em função da crescente produção de
petróleo, gás natural, biocombustíveis e até de alimentos.
Porém,
o que há de mais importante neste relatório é um alerta sério para a nossa
geração: se o Brasil não conseguir, a curto prazo, ter instituições mais
eficientes e índices de criminalidade menores, toda esta riqueza que está por
chegar pouco significará.
A
aposta dos norte-americanos é que não conseguiremos. Afirmam que “a
competitividade da América Latina continuará inferior à da Ásia”, e que “partes
[do continente] continuarão entre as áreas mais violentas do mundo.
Organizações criminosas voltadas para o tráfico de drogas e quadrilhas locais
continuarão a comprometer a segurança pública”, sendo que “estes fatores,
somados à fraqueza do sistema legal”, se traduzirão em países falidos.
Nada
mais verdadeiro. Nossa geração está a um passo de ver o crescimento real do
Brasil – mas, no entanto dele está abrindo mão por conta de uma omissão quase
criminosa. Esta apatia me traz à memória uma famosa frase de Martin Luther
King: “nossa vida começa a acabar quando nos calamos frente às coisas que
realmente importam”.
Vergonhosamente,
grande tem sido o nosso silêncio! Vivemos em um país embrutecido, no qual são
gastos US$ 16 bilhões a cada ano só com a criminalidade, e achamos ingenuamente
que “as vítimas é que deram bobeira”. Por conta dos vergonhosos índices de
criminalidade perdemos 11% do nosso PIB. E preferimos “mudar de assunto e falar
de coisas mais agradáveis”.
Nosso
sistema legal está falido e não sabe – apenas 2,5% dos crimes acabam em
processo, e somente 1% dos condenados cumprem suas penas até o fim. Mas
evitamos falar nisso – preferimos ir linchando os criminosos pelas ruas, na
incrível média de quatro por semana. O Brasil perde US$ 100 bilhões a cada ano
só com a morosidade do Poder Judiciário, mas nossa geração resiste a
simplificá-lo - prefere se perder na perfumaria dos formalismos inúteis.
A
administração pública vai mal - segundo diversos estudos, somos o país que tem
a maior carga de burocracia do mundo! Por conta disso nossos imóveis são até
425% mais caros, e deixamos de aumentar nosso PIB 2,2% a cada ano. Mas nossa
geração já concluiu que "isso é assim mesmo", e prefere ir buscando
seus já tradicionais "jeitinhos".
Perdemos
outros 5% do nosso PIB com a corrupção. Segundo o IBPT, 32% de todos os
impostos pagos no Brasil são desviados por conta desta falta de vergonha. E
tudo indica que nossa geração não deixará para a seguinte sequer a proibição de
que pessoas que respondam a processos por corrupção possam se candidatar a cargos
públicos!
Temos
visto a riqueza sorrir como nunca para o nosso país - arrisco dizer que se não
formos omissos nossos filhos habitarão o Brasil grande com o qual sempre
sonhamos. Se falharmos, seja nosso epitáfio a advertência de Martin Luther
King: "nossa geração não lamenta tanto os crimes dos perversos quanto o
estarrecedor silêncio dos bondosos".
Hoje,
com alegria, ao contemplar nosso povo nas ruas, posso dizer que estava errado:
o Brasil acordou!
Pedro
Valls Feu Rosa* e Desembargador e Presidente do Tribunal de Justiça do
Estado do Espírito Santo
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