No
atual estágio da política corrupta brasileira nenhuma reforma política poderá
vir de cima para baixo, sem a aprovação preliminar da sociedade. Isso é
princípio de moralidade que o legislador precisa sensibilizar-se.
As
decisões corporativistas de interesses políticos não podem mais prosperar no
país. A sociedade eleitoral (o povo) precisa, como agente principal da
democracia, ter outro tratamento. Apenas ela terá de dizer qual o sistema
político representativo lhe é mais conveniente, e não certos grupos políticos,
oportunistas e interessados em obter vantagens, vir vender o seu peixe à
sociedade como lhe convém.
Vejam,
por exemplo, a esperteza do relator da Comissão Especial da Reforma Política da
Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS), quando, em 2011 apresentou
anteprojeto de reforma, que cria o sistema “proporcional misto”, uma verdadeira
arquitetura da irracionalidade para enganar o eleitor e de complexo
entendimento, mas, certamente, atendendo aos seus interesses: “(...) nossa
proposta é que cada eleitor passe a ter direito a dois votos: no primeiro, ele
vota numa lista de candidatos do partido de sua escolha; no segundo, ele vota
no candidato de sua preferência. No caso da lista, (...) que os candidatos
sejam definidos em votação secreta pelos filiados ou convencionais dos
partidos.” Com um critério intricado como este, que mantém o nefasto sistema
proporcional e institui o voto cego de lista fechada, só pode mesmo afastar o
cidadão das decisões políticas.
Se
for feita uma consulta popular, porque este deveria ser o caminho correto,
certamente a melhor proposta seria a adoção do voto distrital puro. Por quê?
Porque é o sistema eleitoral mais simples, objetivo, barato e que combateria a
corrupção política pela fiscalização direta do eleitor ao parlamentar eleito.
No
voto distrital, a eleição seria descentralizada e cada estado dividido em
distritos com um número fixo de eleitor. Cada partido apresentaria um candidato
por distrito. Quem receber mais voto ficaria com a vaga. E os eleitores teriam
um leque mais reduzido de candidatos a escolher. Assim, com um representante
por distrito fica mais fácil para o eleitor fiscalizar o parlamentar, o que não
ocorre no sistema atual em que a maioria dos eleitores não sabe em que deputado
federal votou.
No
sistema distrital haverá o barateamento das campanhas, pois cada candidato
só disputará voto em seu distrito, reduzindo os custos com viagens e gastos com
material de propaganda, que poderão ser suportados com recursos do fundo
partidário e do próprio bolso do candidato, porém jamais com financiamento
público. Dinheiro público deve ser direcionado para financiar as necessidades
sociais e não para campanha política.
Os
deputados distritais não vão se transformar em vereadores de luxo para só
tratar de sua paróquia. O eleitor distrital, conhecendo o seu representante
político, saberá fazer exigências de caráter nacional, bem como de combate ao
fisiologismo, ao cabide de emprego e a outros comportamentos políticos imorais.
O
sistema não prejudicará minorias. No Brasil não existem minorias
permanentemente alijadas, como os sunitas, em alguns países árabes, conforme
afirma o cientista político Amaury de Souza. Na prática, os candidatos de
um distrito terão de buscar o apoio de todos os grupos de eleitores, se
quiserem vencer.
Não
haverá dinastias locais eternizadas pelo poder econômico e político, como no
sistema atual - José Sarney, Jáder Barbalho etc. – em que o dinheiro faz a
diferença para aqueles que precisam se deslocar em grandes territórios para
disputar votos. Ao concentrarem a campanha em um distrito, os candidatos menos
poderosos terão mais facilidade de chegar ao eleitor no corpo a corpo.
Os
partidos não ficarão mais enfraquecidos. Na realidade no Brasil não existe
partido político, mas sim um cipoal de siglas partidárias, composto
internamente de políticos com várias tendências ideológicas. No sistema vigente
vota-se em candidatos e não em partidos. Quem votou em Tiririca, na
realidade, não votou no partido, pois se Tiririca pertencesse a outro partido
seria eleito da mesma forma. O voto distrital fortalecerá a qualificação dos
partidos na medida em que estes se vejam obrigados a terem em suas fileiras
candidatos competentes e de ilibada conduta para disputar pleitos
individualmente por distrito.
Não
é verdadeiro o pressuposto de que o voto distrital não vai eleger grandes
cabeças pensantes. No sistema atual porventura são eleitas grandes cabeças
pensantes?Nesta legislatura, 36 dos 513 deputados federais elegeram-se com
votos próprios, o restante entrou graças ao facilitador coeficiente eleitoral.
Desses 36, quantos são grandes pensadores? E o que dizer dos 477 caronistas?
Aqui
está o maior mérito do voto distrital: a aproximação do eleito com o eleitor.
Como cada político representa uma região delimitada, os eleitores do lugar
poderão acompanhar mais atentamente o trabalho dos parlamentares em Brasília.
Hoje, temos um sistema que distancia o eleito do eleitor, e a maioria não sabe
em que parlamentar votou.
Qualquer
cidadão de mediana cultura sabe que nenhum partido político brasileiro traz em
seu bojo consistência de um projeto alternativo ao país. Nem o PT do Lula, que
na realidade copiou o modelo de política econômica de FHC, com algumas
alterações. Portanto, o voto distrital puro é o caminho mais eficaz para se ter
um Parlamento efetivamente representativo e fiscalizado. É o voto da
transparência em que se conhece o candidato e não o voto cego de lista fechada.
Nada de sistema esdrúxulo “proporcional misto” para beneficiar partido
político.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi