A
educadora e blogueira Ana Rita Duarte, especialista em Educação em Direitos
Humanos e feminista, analisa o assédio machista contra mulheres fora dos
padrões
Quadro da artista Mara Sicca (Reprodução) |
Por Ana Rita
Duarte, para o Blogueiras
Feministas
“Na luta das
mulheres contra a balança, a gente que sai ganhando”
Essa frase eu
ouvi a uns dias atrás quando estava próxima a um grupo de caras que conversavam
sobre os planos para o final de semana. Um dos rapazes comentou que estava com
tanta vontade de transar, que naquele dia “comeria” até uma mulher gorda. Nisso
um outro rapaz complementa dizendo que então o dia estava ganho, porque mulher
gorda não diz não, ela transa com qualquer homem, as gordinhas aceitam qualquer
coisa.
Esse diálogo
grotesco acabou me lembrando que há um bom tempo atrás existiam (devem existir
ainda) comunidades pelo Orkut voltadas especificamente para mulheres gordinhas:
Sou gordinha linda, sou gordinha e feliz, gordinhas sexys. Nesses espaços
mulheres com os corpos fora do padrão de beleza se encontravam para conversar
sobre suas frustrações, qualidades, expectativas, baixa estima, autoestima.
Outra questão marcante desses espaços: o número imenso de homens que
surgiam para cantar as garotas.
Cantar,
elogiar, falar pornografia, convidar para um sexo escondido e rápido, pois a
mulher gordinha não diz não. Alias, ela não pode dizer não. Para esses homens,
esses locais eram verdadeiras lojas de produtos de segunda mão. Era um serviço
rápido, um produto com defeitos, mas que fazia o serviço básico, que é abrir as
pernas.
Lembro-me aqui
da “piada” de que para algumas mulheres o estupro é na verdade um favor, elas
deveriam agradecer seu violentador. É a idéia de que a mulher acima do
peso não diz não, que faz com que ao andarmos na rua ouçamos: Ei vem aqui
que te como e resolvo teu problema, ei eu como gordinha vem aqui. Além das
falas vem também o toque sem convite, a mão na bunda, no seio, porque afinal
você quer isso e logicamente aceita, pois ninguém quer comer você, você esta
naturalmente disponível. Aliás na nossa cultura, existe mulher não disponível?
É o machismo
do dia a dia! É o machismo avassalador de nossa sociedade, de nossa cultura,
que coloca as mulheres em categorias como fácil, comestível, não comestível e
por ai vai. E a vítima de tudo isso? Bom essa mulher muitas vezes sofre
calada e acredita que este é seu fim, que este é seu destino, que sim ela deve
erguer as mãos para o céu se algum homem quiser manter relações sexuais com
ela, pois afinal ela não vale nada, e sim ela precisa de um homem para legitima-la.
Sim, meninas são educadas de forma machista e crescem envolvidas nessa
mentalidade absurda e cruel.
Enquanto
continuarmos imersos em uma cultura machista, patriarcal, mulheres continuarão
sendo mercadoria fácil porque são gordas demais para dizerem não, magras demais
para dizerem não, altas demais, baixas demais, feias demais para dizer não,
gostosas demais para dizer não. Afinal, o fato de ser mulher já lhe incube a
necessidade nata de precisar de um homem.
Educar,
militar para romper com essas concepções é tarefa árdua! Há de se lutar contra
essas estruturas dominadoras e violentas que agridem as mulheres. Há de se
gritar aos quatro cantos que a mulher é fim em si mesmo, que mulher é gente,
que seu corpo é sua propriedade.
Mulheres!
Espero que essa violência não nos atinja mais. Espero que essa violência finde
um dia.
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Abração
Dag Vulpi