terça-feira, 2 de abril de 2013

Obama lança programa para mapear cérebro humano


'Iniciativa BRAIN' prevê gastos de três bilhões de dólares em dez anos, mesmo em tempos de crise financeira e cortes no orçamento federal americano

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, observa Francis Collins, diretor dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), discursar durante o lançamento da Iniciativa BRAIN (Official White House Photo/Chuck Kennedy)
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou nesta terça-feira um ambicioso programa multidisciplinar que, com um investimento inicial de 110 milhões de dólares, pretende traçar um mapeamento do cérebro humano para auxiliar a cura de doenças como Alzheimer e epilepsia.

"Os Estados Unidos são uma nação de sonhadores, de gente que se arrisca", afirmou Obama no Salão Oval da Casa Branca diante dos cientistas e empresários envolvidos na iniciativa. "Agora é o momento de alcançar um nível de pesquisa e de desenvolvimento que não observávamos desde os tempos mais intensos da corrida espacial", completou o presidente. "Os computadores, a internet e outros avanços nasceram com financiamento do governo, e o próximo grande projeto dos Estados Unidos será a iniciativa do cérebro", ressaltou Obama.

Oficialmente conhecida como Breakthrough Research And Innovation in Neurotechnology(Pesquiva de ponta e inovação em neurotecnologia - BRAIN, na sigla em inglês), a iniciativa tem uma atribuição de 110 milhões de dólares no projeto de orçamento para o período fiscal 2014, que, por sinal, o governo de Obama divulgará ainda neste mês.


No começo do programa, se Obama obtiver o apoio do Congresso, os Institutos Nacionais de Saúde (National Institutes of Health - NIH) gastarão 40 milhões de dólares, a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (Defense Advanced Research Projects Agency - DARPA) do Departamento de Defesa repassará outros 50 milhões de dólares, enquanto a Fundação Nacional de Ciências (National Science Foundation - NSF) cederá outros 20 milhões.

Segundo declarações de cientistas envolvidos no projeto ao jornal The New York Times, a pesquisa demandará recursos federais da ordem de 300 milhões de dólares ao ano. Vários institutos particulares de pesquisa estão envolvidos no projeto, entre eles o Allen Institute, criado pelo milionário fundador da Microsoft Paul Allen, que destinará 60 milhões de dólares ao ano para o projeto, o Howard Hughes Medical Institute, maior instituição de pesquisa médica privada (30 milhões por ano), o Salk Institute (28 milhões de uma vez só) e a Fundação Kavli (4 milhões por dez anos).

Em busca da cura — Entre os objetivos da iniciativa lançada nesta terça-feira, destaca-se o auxílio aos cientistas para encontrar maneiras de tratar, curar e, inclusive, prevenir doenças como o Alzheimer, Parkinson e a epilepsia, além de tentar encontrar maneiras de reparar traumatismos crânio-encefálicos e patologias psiquiátricas.

"Fizemos avanços científicos e tecnológicos assombrosos em apenas poucas décadas, mas ainda não deciframos o mistério desses 1.300 gramas de matéria situados entre nossas orelhas", disse Obama. "Há ali 100 bilhões de neurônios que fazem trilhões de conexões."

Retorno financeiro — Obama já tinha anunciado sua decisão de lançar um programa de prospecção cerebral durante seu discurso sobre o Estado da União, no último dia 12 de fevereiro, quando se referia a outra iniciativa parecida: "cada dólar investido no Projeto Genoma Humano rendeu 141 dólares em benefícios econômicos."

O governo dos EUA investiu 3,8 bilhões de dólares no Projeto Genoma Humano ao longo de 13 anos e, de acordo com alguns analistas, os resultados gerados pela ampla pesquisa geraram aproximadamente 796 bilhões de dólares em atividade econômica.

Mapeamento minucioso — A iniciativa do BRAIN foi iniciada em uma conferência de neurocientistas em 2011 na Inglaterra, onde foi proposto um esforço de grande magnitude e coordenado para o desenvolvimento de tecnologias para o estudo da atividade do cérebro e para "medir cada faísca de cada neurônio" em um circuito neural.

O estudo das complexas estruturas neurais do cérebro poderia combinar ferramentas tradicionais, como imagens de ressonância magnética, com tecnologias mais inovadoras, como os nanossensores e as sondas sem fios de fibra óptica implantadas no cérebro, além de células modificadas geneticamente que podem ser conectadas com células do cérebro para registrar sua atividade.

Ralph Greenspan, co-diretor do Instituto Kavli para o Cérebro e Mente na Universidade de Columbia, afirmou que "o projeto de mapeamento cerebral é diferente do Projeto Genoma, já que essa questão se mostra muito mais complexa. Foi muito fácil definir qual era a meta do Projeto Genoma Humano. Mas, neste caso, temos uma questão mais difícil e fascinante: quais são os padrões de atividade em todo o cérebro e, em última instância, como eles funcionam", afirmou Greenspan.

Além das novas nanotecnologias, o plano mobilizará a enorme capacidade de processamento, análise e combinação de dados nos computadores, o que atraiu empresas como Google, Microsoft e Qualcomm.

Cientista-em-chefe — A iniciativa norte-americana divulgada por Obama não é a única anunciada neste ano sobre o cérebro. Em janeiro, foi lançado um projeto europeu com orçamento de 1 bilhão de euros (1,283 bilhão de dólares) para uma pesquisa chefiada por um grupo suíço, destinada a produzir um modelo do cérebro baseado em uma simulação feita por um supercomputador, usando as pesquisas feitas até agora sobre as funções cerebrais.

No evento de lançamento do projeto na Casa Branca, Obama foi apresentado como o "cientista-em-chefe" pelo diretor do NIH, Francis Collins, e sua administração não hesita em demonstrar que, apesar dos tempos de austeridade, os investimentos em ciência são essenciais.

"Estou feliz por ter sido promovido a cientista-em-chefe - levando-se em conta minhas notas em física, não sei se eu merecia", disse o presidente. "Mas dou à ciência a importância adequada, então talvez eu tenha algum crédito", completou.

No entanto, a iniciativa também tem seus críticos. "Uma coisa é que se atribuam fundos para a neurociência. Outra coisa é termos um projeto centralizado de dez anos para 'resolver o cérebro'', criticou em seu blog o biólogo Michael Eisen, da Universidade da Califórnia.


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