Marco da modernidade da então
capital brasileira, o Edifício A Noite foi o primeiro arranha-céu da América
Latina, atração turística da cidade e um mirante que competia com o Pão de
Açúcar e o Corcovado. Foi construído por um grande jornal da época, A
Noite, e sediou desde a fundação a mais importante emissora do país, a Rádio
Nacional. É também um dos mais destacados exemplares daart déco, estilo
arquitetônico característico de grande parte das edificações das décadas de
1920 a 1940 nas grandes cidades do mundo.
O nome soa exótico para os que não
conhecem a história do prédio, que pode ganhar o status de patrimônio
cultural brasileiro. A decisão deve ser tomada hoje (3), em Brasília, a partir
das 10h, em reunião do Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (Iphan), a última etapa do processo de tombamento em nível
federal.
O prédio, de 22 andares e 102 metros
de altura - o que corresponde a 30 andares de um edifício atual - está
desocupado desde o final do ano passado, com a mudança, para outras
instalações, da Rádio Nacional e da Agência Brasil, da Empresa
Brasil de Comunicação (EBC) e do Instituto Nacional da Propriedade
Industrial (Inpi). O edifício já é tombado pela prefeitura do Rio de Janeiro.
Considerado um dos primeiros jornais
populares do Rio, o vespertino A Noite foi criado em 1911 por Irineu
Marinho, que se afastou de sua direção em 1925 para fundar O Globo. Em
1929, já pertencente ao jornalista Geraldo Rocha, A Noite inicia a
construção de seu edifício-sede na Praça Mauá. No local, existia o Liceu
Literário Português, a primeira escola do país a oferecer cursos noturnos,
ainda em 1854, no Império, quando nem luz elétrica havia ainda no Rio de
Janeiro. Para fazer frente aos elevados custos da obra, o jornal, que havia
sido de oposição, passou a apoiar o governo do presidente Washington Luís.
A edificação, em uma época em que os
prédios mais altos do Rio não passavam de dez a 12 andares, causou grande
impacto na população carioca. “A conclusão de cada andar era celebrada como se
fosse uma vitória da raça brasileira. O Brasil finalmente entrava na era dos
arranha-céus, embora o edifício, com seus 22 andares, sequer se comparava aos
seus equivalentes norte-americanos”, conta o professor Milton Teixeira,
estudioso da história carioca.
O projeto foi do arquiteto francês
Joseph Gire, com os cálculos estruturais a cargo do engenheiro alemão Emilio
Baumgart, ambos radicados no Brasil e responsáveis por várias obras importantes
na cidade. Mesmo assim, lembra Teixeira, não faltaram especulações negativas
durante a construção. “Falava-se que aquilo poderia cair, que o vento iria
derrubar o prédio”, diz o professor.
A Revolução de 1930 não poupou o
edifício que acabava de ser inaugurado, devido ao apoio do jornal A Noite à
República Velha, derrubada por Getúlio Vargas. O prédio foi alvo de ataques e
de um incêndio por parte dos revoltosos. Em 1933, sob nova orientação, o
jornal, que ocupava os cinco primeiros pavimentos do prédio, decide criar uma
emissora de rádio. Inaugurada em 1936, a Rádio Nacional ocupava os
quatro últimos andares do prédio.
Mergulhado em dívidas, o grupo que
detinha o controle do jornal e da rádio, além de diversas outras empresas, foi
incorporado ao patrimônio da União. E assim, a Nacional, que nasceu como
emissora privada, se tornou uma rádio pública.
Agência Brasil
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