Por João
Batista Herkenhoff
A
imprensa tem registrado, como é de seu dever, episódios criminais gravíssimos
protagonizados por adolescentes. Dentro da linguagem estatística, esses delitos
representam dez por cento do total. Entretanto o crime praticado por um jovem
assusta mais do que o mesmo crime praticado por um adulto.
De
um adulto que tenha folha corrida negativa não se esperam comportamentos
exemplares. Já com relação a uma criança ou adolescente, o que se quer é que
esteja na escola, torce-se para que tenha um futuro, a criança é mesmo
esperança. Como o inconsciente social é emocional, não é numérico, a
estatística é abandonada. Um único homicídio, roubo ou até mesmo furto,
praticado por alguém que tenha apenas dezesseis anos, fere profundamente a
sensibilidade.
À
face desta situação, muitas vozes, inclusive de autoridades e líderes sociais,
propõem a redução da idade da maioridade penal. A ideia alcança apoio popular a
partir de um raciocínio apresentado com a aparência de silogismo: a prisão
reduz a criminalidade (primeira premissa); mais presos no sistema prisional, menos
crimes nas ruas (segunda premissa); logo o encarceramento de menores
contribuirá para a redução das taxas de crime (conclusão).
Vamos
tentar liquidar com esse suposto silogismo que, na verdade, é um sofisma.
A
prisão não reduz a criminalidade. Seu efeito é o oposto. A prisão incentiva o
crime, é uma escola do crime. Permite o intercâmbio de experiências entre seus
atores, aprimora as práticas delituosas.
O
aumento da população carcerária, longe de constituir prevenção do crime, é
instrumento eficaz para seu recrudescimento.
Pesquisas
científicas realizadas no Brasil e no Exterior sustentam as duas afirmações
acima. Mas não devo me alongar. Estou escrevendo um artigo para jornal, e não
uma tese acadêmica.
Sendo
falsas as premissas, a conclusão é enganosa. A redução da maioridade penal não
atenuará o panorama das transgressões à lei.
A
proposta de redução da idade da maioridade penal esconde um problema, evita o
seu enfrentamento. O que a sociedade deve exigir dos governantes é isto: a)
políticas públicas para assegurar vida digna a crianças e adolescentes; b)
mudanças estruturais que ataquem os verdadeiros males do país, em vez de “tapar
goteiras” com falsas soluções; c) respeito ao crescimento da cidadania que
ocorreu no Brasil, o que leva parcela significativa do povo a rejeitar leis de
fácil aprovação, porém de nenhum resultado prático.
O
sistema carcerário não é um sucesso, de modo a que se pensasse ser um mal
privar crianças e adolescentes da possibilidade de desfrutar dos benefícios do
sistema. Muito pelo contrário, é péssimo. Como se pretende então incorporar um
contingente de crianças e adolescentes a um sistema falido?
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