Lisboa – O
Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Central Europeu (BCE) e a
Comunidade Europeia esperam que o governo de Portugal apresente, nos próximos
dias, propostas de cortes de gastos para reduzir o déficit orçamentário. Apesar
de as equipes técnicas das três entidades credoras de Portugal (que formam a
Troika) terem deixado Lisboa na última sexta-feira (15) e o ministro das
Finanças de Portugal, Vitor Gaspar, ter feito o balanço da missão, a
sétima avaliação do programa de ajustamento econômico de Portugal ainda não
está concluída.
“O
governo está empenhado em adotar e publicar nas próximas semanas uma versão
detalhada do quadro orçamental de médio prazo, permitindo assim a conclusão
formal da presente avaliação”, descreve comunicado do FMI.
As
avaliações antecedem as liberações das parcelas do empréstimo que Portugal
obteve em 2011 com a Troika. A próxima parcela é de dois bilhões de euros (1,3
bi da UE e 0,7% do FMI) e deverá ser liberada em maio, de acordo com a
avaliação.
Para
continuar liberando parcelas do empréstimo, os credores esperam que o governo
do primeiro ministro Pedro Passos Coelho apresente, no próximo mês, a proposta
(já adiada) de cortes “estruturais” (definitivos) de quatro bilhões de euros
nos gastos públicos (incluindo despesas em áreas sociais). Além dos ajustes
fiscais duradouros, FMI, BCE e a União Europeia esperam que Portugal efetue
reforma tributária, reforma do Poder Judiciário e reestruture empresas
públicas.
O
governo formado pela coalização do Partido Social Democrata (PSD) e do Partido
Popular (CDS-PP) mantém maioria na Assembleia da República para alterar
legislação e executar o programa econômico acertado com os credores
internacionais, mas é crescente o descontentamento com o governo que enfrentará
eleições regionais em outubro. No último fim de semana, os jornais estampavam a
insatisfação da opinião pública com Vitor Gaspar que admitiu desemprego de
mais de um milhão de pessoas para breve e mais um ano de recessão (redução
do Produto Interno Bruto de 2,3%).
A
manchete do semanário Expresso, publicado sábado (16), estampava:
“Troika culpa governo pelo falhanço [fracasso] das políticas”. O editorial
do Diário de Notícias assinalava, no último domingo (17), que “o
ministro das Finanças [Vitor Gaspar] conseguiu retirar o país de uma
encruzilhada e empurrá-lo para um beco sem saída”.
Na
avaliação dos jornais, o governo perdeu força, neste terceiro ano de mandato,
para executar reformas: a base aliada de sustentação política é instável;
as manifestações contra a Troika, Passos Coelho e Gaspar estão na rua; a
pedido do presidente da República (Aníbal Cavaco Silva) o Tribunal
Constitucional pode julgar a qualquer momento o Orçamento do Estado ilegal e a
oposição já circula pelo país como se estivesse em pré-campanha eleitoral. De
acordo com a Agência Lusa, o líder do Partido Socialista, António José
Seguro, começou no último dia 11 “um périplo nacional de um mês, que o levará a
todos os distritos do território continental e as regiões autônomas”, para
deixar a mensagem de “plena disponibilidade para estar na rua e para auscultar
agentes da sociedade civil”.
Falta
pouco mais de um ano para o término do programa de ajustamento da Troika em
Portugal (junho de 2014), mas os fundamentos da crise econômica lusitana
parecem mais duradouros. A dívida pública portuguesa chega a 124% do PIB (para
comparar, a do Brasil é 35,2%) e o déficit orçamentário em 2012 foi 6,6% (o
Brasil teve superávit de 2,13% em janeiro último). Entre alguns economistas, há
expectativa de que a crise resulte em empobrecimento da população e
aumento da desigualdade socioeconômica.
Depois
da crise, Portugal caiu três postos no ranking do Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas e chegou ao 43º lugar (de 187
países) do indicador que leva em consideração dados referentes a renda
familiar per capita, escolaridade (acesso ao ensino básico e
analfabetismo) e saúde (mortalidade infantil e expectativa de vida). Em melhor
situação macroeconômica, o Brasil ainda tem situação social e IDH (85º lugar
no ranking da ONU) bem distante dos de Portugal.
Ministro das Finanças admite que crise será mais longa que o
previsto em Portugal
Lisboa
– A crise econômica em Portugal deve ser mais aguda e longa do que o previsto
inicialmente, admitiu hoje (15) o ministro das Finanças, Vitor Gaspar. As novas
projeções do governo indicam que o desemprego chegue a quase 19% no fim deste
ano e que o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços
produzidos no país) caia mais 2,3% este ano.
Vitor
Gaspar fez as previsões em entrevista coletiva que marcou o término da sétima
avaliação do programa de ajustamento econômico, feita pela troica Monetário
Internacional (FMI), Banco Central Europeu e União Europeia. “A taxa de
desemprego é muito elevada”, disse o ministro, ao ressaltar que o problema é “um
flagelo” que afeta especialmente os mais jovens.
O
governo também anunciou que o corte de 4 bilhões de euros nas despesas do
Estado, que inicialmente seria feito em dois anos (2013 e 2014), irá até 2015.
Neste ano, o governo promete economizar 500 milhões de euros com o enxugamento
de despesas administrativas e o programa de rescisões por mútuo acordo, a ser
negociado com sindicatos, o que pode elevar as despesas públicas por causa do
pagamento de indenizações.
Conforme
o ministro, a prioridade do governo é fazer ajustes permanentes e cortes
estruturais nos gastos que forçam o déficit público e aumentam a dívida do
Estado português – este ano, a previsão é que a dívida atinja 124% do PIB.
Mesmo durante a intervenção da Troica FMI, Banco Central e União Europeia,
Portugal não conseguiu atingir as metas do déficit público e renegociou os
percentuais para este ano e os dois próximos (2014 e 2015), acima do previsto
inicialmente e adiante do prazo do programa de ajustamento.
Além
dos cortes de gastos para diminuir a dívida e o déficit, o governo português
promete fazer reforma tributária para atrair mais investimentos estrangeiros e
retomar o programa de privatização de empresas estatais até o fim do ano –
inclusive da companhia aérea TAP, que não foi vendida no fim do ano
passado para os controladores da Ocean Air por falta de garantias do grupo
comprador.
Com
tai medidas, Portugal espera que, no último trimestre deste ano, a atividade
econômica pare de cair e o PIB do período tenha variação positiva de 0,6%. De acordo
com nota divulgada em Washington pelo FMI, o país precisará ter coesão
social para conseguir voltar a crescer economicamente. “O amplo consenso
político e social continua a ser um importante fator do êxito do programa”, diz
a nota.
A
entrevista de Vitor Gaspar foi seguida de protestos dos quatro partidos de
oposição com representação na Assembleia da República e críticas das centrais
sindicais e pela convocação de novas manifestações pelas redes sociais pedindo
a demissão do gabinete do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho.
Apesar
dos protestos crescentes, uma pesquisa de opinião divulgada hoje pelo pelo
Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa
revela que 45% da população entendem que o governo deveria demitir-se, enquanto
46% preferem que fique até 2015, terminando o mandato.
Portugal fechou 2012 com mais de 923 mil pessoas desempregadas
Lisboa
– O Instituto Nacional de Estatística (INE) de Portugal contabiliza que o país
fechou 2012 com 923,2 mil pessoas desempregadas, uma taxa de 16,9%. O número de
desempregados relativo aos meses de outubro a dezembro é 1,1 ponto percentual
superior ao do trimestre anterior e 2,9 pontos percentuais em relação ao mesmo
período de 2011.
De
acordo com o INE, o aumento da população desempregada se deu “essencialmente”
na faixa etária dos 25 aos 44 anos, com escolaridade básica (12 anos de estudo)
e egressas da indústria, construção civil, companhias de energia e de água. A
taxa de desemprego é ligeiramente maior entre as mulheres (17,1% de
desempregadas e 16,8% desempregados).
Segundo
o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, o desemprego está “muito elevado” e é
“socialmente muito doloroso”. Ele reconhece que a falta de trabalho “é a
situação talvez mais dramática” que o país vive no processo de reajustamento
econômico.
Portugal
sofre com a crise econômica na zona do euro e por causa da perda de confiança
no mercado financeiro internacional. Por causa disso, mantém um programa
acordado com o Fundo Monetário Internacional; o Banco Central Europeu e a
Comissão Europeia para equilibrar as finanças do país.
As
medidas adotadas para zerar os déficits fiscais e de transações correntes de
Portugal acabaram por enxugar o crédito disponível no país (fundamental para
setores com o da construção) e também afetam os gastos sociais (inclusive o
seguro-desemprego).
O
dado do desemprego divulgado hoje é mais um indicador da recessão econômica. Em
2012, a economia encolheu 3% e deverá continuar diminuindo este ano. Conforme
projeção do Banco de Portugal, o banco central do país, o Produto Interno Bruto
(PIB) entre 2009 e o fim de 2013 deve registrar queda de 7,4%.
Portugal faz grande manifestação contra a Troika e pede demissão
do governo de Passos Coelho
Lisboa
– Os portugueses fizeram na tarde de hoje (2) uma grande manifestação contra a
política econômica do governo e contra o programa de ajustamento em andamento
no país desde abril de 2011, quando Portugal assinou acordo de empréstimo e de
intervenção no gerenciamento das contas públicas com o Fundo Monetário
Internacional, com o Banco Central Europeu e com a Comunidade Europeia, a
chamada Troika.
Em
40 cidades em Portugal e também no exterior, em frente a embaixadas e
consulados lusitanos e nas representações da União Europeia, os portugueses
pediam a demissão do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. Os manifestantes
também querem o fim das medidas que diminuíram os recursos públicos da
seguridade social, da saúde e da educação, agravando as condições do país, que
enfrenta recessão. Em 2012 foi registrada uma queda de 3,2% do Produto Interno
Bruto e, segundo a estatística oficial, a taxa de desemprego está quase em 17%.
A
mobilização neste sábado foi articulada pelas redes sociais e liderada pelo
movimento Que Se Lixe a Troika! Queremos Nossas Vidas. Não há estimativa
oficial do número de participantes em todos os locais. Em Lisboa, os
organizadores avaliam que a manifestação tenha superado o ato de protesto
realizado em setembro do ano passado, quando 500 mil pessoas teriam ido às
ruas.
Enquanto
aumentam os protestos em Portugal, o governo continua tentanto reduzir o
chamado Estado Social. Uma missão da troika esteve reunida com o governo
durante toda a semana para verificar os indicadores da macroeconômica e
discutir o corte de mais 4 bilhões de euros (quase R$ 11 bilhões) nos gastos do
governo, inclusive na área social.
Austeridade fiscal
diminui atividade econômica e aumenta desigualdade social em Portugal
Lisboa
– Passado o primeiro mês de entrada em vigor do Orçamento do Estado (OE 2013),
em Portugal (que incluiu aumento generalizado de impostos e redução das
aposentadorias e do seguro desemprego), a constatação nas ruas e nos gabinetes
dos economistas de perfil não monetarista é de que as medidas de ajustamento
fiscal (para equilíbrio entre receita e despesa do Estado) estão agravando o
quadro social do país e diminuindo ainda mais a atividade econômica.
O
desemprego está em mais de 16% (dado oficial) e o Banco de Portugal (BdP), o
banco central do país, prevê queda de 7,4% do Produto Interno Bruto (PIB – a
soma de bens e serviços produzidos no país) entre 2009 e o final deste ano. De
acordo com a mesma instituição, o consumo privado vai cair 3,6% este ano,
perfazendo uma redução acumulada de 12,4% desde 2011.
“Se
reduziram as pensões e as pessoas, obviamente, têm de cortar gastos. Já não vêm
aqui tomar um café ou comer bolo - não comem fora! Isso tudo vai [refletir] no
meu caixa”; diz Cristiana Almeida; dona de um café no bairro de Campo de
Ourique, na região nobre de Lisboa.
“Eu
estou [fazendo] quase a metade do caixa que fazia há um ano, e já havia crise”;
reclama Manoel Margarido, dono de una mercearia na rua atrás do Palácio de São
Bento, a residência oficial do primeiro-ministro. Segundo ele, “as pessoas
estão recebendo menos dinheiro e estão com medo. Não gastam porque não têm ou
não gastam porque querem ficar com alguma reserva, porque não sabem o dia de
amanhã”.
A
avaliação da economista Manuela Silva (foto) é que as medidas do OE 2013 estão
agravando essa situação porque geram um “círculo vicioso”, que reduz a
arrecadação e dificulta o próprio ajustamento fiscal. “Essas medidas de
austeridade produzem efeitos não desejados pela própria lógica das medidas
utilizadas. As famílias viram reduzido o seu poder de compra. Logo, a atividade
econômica sofreu uma quebra, que por sua vez repercutiu nas receitas do próprio
Estado”.
A
economista que também é professora do Instituto Superior de Economia e Gestão
acrescenta que a austeridade agrava a situação social em Portugal. “A pobreza
aumenta significativamente e atinge estratos sociais que até há pouco estavam
abrigados da pobreza”.
“Estamos
[assistindo] a aumento das desigualdades socioeconômicas. As medidas de
austeridade não foram pautadas com objetivo de diminuir as desigualdades”,
lembra. Segundo ela, a situação se agrava por causa do desemprego, da
desvalorização do trabalho (com redução do poder de compra efetivo dos
salários) e do aumento da tributação.
Segundo
o Orçamento, o Imposto de Renda para Pessoas Singulares (IRS) - equivalente ao
Imposto de Renda de Pessoa Física no Brasil – teve aumento universal de 3,5% e
as faixas de alíquotas caíram de oito para cinco, o que resultou no incremento
da cobrança do imposto, que é descontado na fonte. O economista Nuno Alves (do
Banco de Portugal) confirma que “o elevado aumento da taxa média de imposto”
acarretará na “ligeira diminuição de progressividade do imposto”.
A
progressividade dos impostos (isto é, a maior incidência quanto maior a renda)
é tradicionalmente destacada pelos economistas com o medida de redução das
desigualdades. Outra estratégia são as transferências do Estado para os mais
pobres. Segundo Alves, o Estado português transfere proporcionalmente e em
valores absolutos menos recursos que os de outros países da Europa, mas é mais
justo e eficiente. “Portugal é mesmo um dos países em que as prestações em
dinheiro (excluindo pensões) são mais orientadas para os rendimentos mais
baixos”.
A
avaliação de Nuno Alves descrita em estudo que acompanha o Boletim
Econômico de Inverno do BdPcontraria o argumento do governo de que é
necessário “refundar” o Estado social para que se torne mais eficiente e mais
justo. Para diminuir as despesas do Estado, o governo português deve anunciar
ainda este mês corte de 4 bilhões de euros (cerca de R$ 10,8 bilhões) - o que
equivale à 5% do OE 2013.
Agência
Brasil/ EBC
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