O Arquivo
Nacional recebeu a documentação do acervo de Luiz Carlos Prestes que traz uma
lista com 233 nomes de torturadores feita por 35 presos políticos, em 1975,
durante a ditadura militar. O acervo pessoal, que será entregue no dia em que
Prestes completaria 114 anos, estava sob custódia da viúva dele, Maria Prestes.
A cerimônia de doação do acervo ocorrerá a partir das 15h na sede do Arquivo
Nacional, no Rio de Janeiro.
A lista com os 233 nomes foi elaborada por presos políticos de São Paulo
durante uma reunião do Comitê de Solidariedade aos Revolucionários do Brasil. A
lista é parte de um documento – datilografado – chamado de Relatório da 4ª
Reunião Anual do Comitê de Solidariedade aos Revolucionários do Brasil, datado
de 1976.
Em entrevista a jornalistas, Ivan Seixas, ex-preso político e integrante do
Núcleo de Preservação da Memória Política, destacou a importância dessa relação
de nomes para a história do país.
– Esse é um documento vivo porque foi escrito na época em que as pessoas
estavam sendo torturadas e assassinadas ou desaparecendo. As pessoas que
estavam presas tinham o compromisso de denunciar os autores e os crimes desses
torturadores. Quem está assinando esse documento foi torturado – disse.
De acordo com Seixas, muitas das informações que constam no documento foram
mais tarde complementadas.
– Uma boa parte (da lista) era apenas apelidos. Depois se fez um cruzamento de
informações e se conseguiu chegar ao nome completo dos torturadores – contou.
Nessa lista, Seixas conseguiu identificar várias pessoas que o torturaram
durante a ditadura militar.
– Aqui tem vários nomes de pessoas que trazem péssimas lembranças. Mas é um
dever nosso denunciar e dar os nomes principalmente para que as famílias saibam
que ele é um torturador – disse.
Segundo ele, na lista há também os nomes dos torturadores da presidenta da
República, Dilma Rousseff. A expectativa de Seixas é de que essa relação
de nomes também sirva para ajudar a punir os torturadores.
– Acho que é uma obrigação se fazer uma condenação porque o Estado Democrático
de Direito não pode ter pessoas acima da lei. Não é uma questão de vingança, é
uma questão de justiça. Os policiais que hoje por ventura queiram torturar
precisam saber que isso não vai ficar impune. Se você deixa impune, com que
moral você condena um torturador hoje? – questiona.
Segundo o Arquivo Nacional, o acervo doado é composto por documentos escritos e
iconográficos, produzidos ou acumulados pelo casal Maria e Luiz Carlos Prestes
entre as décadas de 1970 e 1990. Entre os documentos estão também
correspondências trocadas entre Prestes e parentes, amigos e líderes políticos
de várias nacionalidades; aulas e textos referentes ao Partido Comunista
Brasileiro. Há também documentos que registram o empenho de Prestes, no período
em que ele esteve exilado em Moscou, na década de 70, em denunciar à comunidade
internacional a tortura e os assassinatos que eram praticados no
Brasil à época.
O acervo doado pela viúva de Prestes vai receber primeiramente um tratamento e
só então estará disponível ao público. Segundo a assessoria do Arquivo
Nacional, ainda não há uma data para que o material sobre a tortura seja
disponibilizado.
Via
blog Documentando Ditadura
Ainda faltam a justiça e o tornar pública uma memória que precisa ser coletiva entre gerações.
ResponderExcluir"O Arquivo Nacional recebeu a documentação do acervo de Luiz Carlos Prestes que traz uma lista com 233 nomes de torturadores feita por 35 presos políticos, em 1975, durante a ditadura militar. O acervo pessoal, que será entregue no dia em que Prestes completaria 114 anos, estava sob custódia da viúva dele, Maria Prestes."