A cartilha do jogo político reza que
não é prudente expor as cartas antes da hora e antecipar campanha eleitoral.
Pelo menos é o que dizem políticos experientes em Brasília. Mesmo assim, a
quase dois anos do pleito que definirá o comando da República de 2015 a
2018, o tabuleiro está praticamente montado e os pré-candidatos, extra-oficialmente, definidos.
Na avaliação de governistas e
oposicionistas, quem mais perde com a antecipação é a presidente Dilma
Rousseff, candidata à reeleição. Segundo interlocutores da Presidência, o
terceiro ano do mandato é considerado decisivo, uma vez que é hora de a
presidente “mostrar serviço”. Ter sua agenda de governo confundida com
compromisso de campanha, no entanto, pode atrapalhar sua governabilidade.
“Ela fica desviada de sua função
principal, que é governar. Deixa de tomar conta da ‘loja’”, avalia o professor
David Fleisher, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília
(UnB).
Apesar de Dilma ser apontada como
principal prejudicada no processo de antecipação de campanha, é ponto pacífico
entre pessoas ligadas a todos os pré-candidatos que o marco para o início
da corrida eleitoral de 2014 foi o evento de comemoração dos 10 anos de governo
petista. Na ocasião, Lula conteve o movimento que pedia sua volta e deixou
claro que a candidata do partido era Dilma Rousseff. Segundo interlocutores
próximos à presidente, o gesto foi um movimento combinado entre ambos.
O “efeito colateral” veio em
seguida. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), o senador Aécio
Neves (PSDB) e a ex-senadora Marina Silva (que está constituindo o novo
partido Rede Sustentabilidade) também colocaram o “bloco na rua”, e
já ganham projeção e visibilidade. “Foi dada a largada”, disse o senador
Rodrigo Rollemberg (PSB), ligado ao correligionário pernambucano.
Campos, por exemplo, tem o trunfo de
encabeçar uma das legendas que mais ganhou projeção na última eleição
municipal: o PSB. Como governador de Pernambuco, ele pode tirar votos de Dilma
no Nordeste, onde a popularidade da petista é maior, e também dividir a base
aliada ao Planalto.
Aliás, a força de Eduardo Campos
assusta o governo. Na avaliação de interlocutores no Palácio do Planalto, o
governador de Pernambuco é visto como uma ameaça real a tirar de Dilma o
segundo mandato. Caso o candidato do PSB vá para o segundo turno, os votos de
Aécio devem migrar para Campos e o resultado seria imprevisível.
Esse racha entre legendas hoje
aliadas favorece a candidatura de Aécio Neves, na avaliação de tucanos próximos
a ele. Para o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), a antecipação eleitoral “é uma
boa para Aécio, Eduardo Campos e Marina”. “Queremos o quadro mais aberto e
plural possível. É melhor para o País e, coincidentemente, melhor para o
Aécio”, avalia.
Apesar de não ter a máquina pública
como sua aliada para uma campanha, o tucano recorrerá a um auxílio externo: um
dos estrategistas de campanha do presidente americano, Barack Obama: David
Axelrod.
Com capital político remanescente da
campanha de 2010, Marina Silva, que ficou em terceiro lugar naquela disputa,
também ganha notoriedade. Segundo interlocutores próximos, ela tem mais
visibilidade pelo fato de já ser apontada como pré-candidata do que se a
campanha não tivesse sido antecipada. “A antecipação eleitoral é boa para os
políticos”, afirma o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ), que pondera, no entanto,
que para o País, o cenário é negativo.
Todo o xadrez político está
organizado em prazos muito anteriores às datas definidas pela Justiça
eleitoral, que permite campanha por cerca de três meses antes do pleito. Na
avaliação do cientista político Octaciano Nogueira, o movimento é um
desrespeito à legislação vigente. “Quem tem cargo público está fazendo campanha
antecipada na suposição de que passarão impunes”, afirma.
Terra
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