Desde 2007, todo dia ouve-se falar e
se lê notícias sobre o petróleo que o Brasil vai passar a produzir a partir de
jazidas situadas no pré-sal. No momento, a maior discussão gira em torno não
propriamente da produção do petróleo, mas de como será administrada essa
riqueza mineral.
O que é o pré-sal ?
As reservas do pré-sal
Quem pode extrair esse petróleo?
Quanto vale o petróleo do pré-sal ?
Como será distribuído o lucro com o petróleo do pré-sal ?
Conclusão
FONTES CONSULTADAS
* O investimento para produzir petróleo é altíssimo, mas o retorno é também enorme. Em alguns poços das Arábia Saudita, o custo de produção é de US$ 5 por barril e o petróleo é vendido a US$ 70. Por isso, há quem diga que o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada, e que o segundo melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo mal administrada.
Não é à toa que se fala tanto nisso,
pois se trata realmente de uma reserva gigantesca, que está mudando o modo de
encarar esse recurso energético em nosso país.
O que é o pré-sal ?
O petróleo ocorre sempre em regiões
da crosta formadas por rochas sedimentares. Ele forma-se em uma rocha, chamada rocha
geradora, a partir de restos orgânicos, sobretudo micro-organismos animais.
Durante milhões de anos esses detritos orgânicos sofrem transformações, que
levam a um aumento da temperatura e da pressão interna, o que acaba rompendo a
rocha. Com isso, o petróleo migra para cima através dos poros existentes nas
rochas, até encontrar algo que o impeça de continuar se deslocando. Essa
barreira, chamada de trapa, pode ser uma rocha impermeável, como uma
camada de sal.
O que se chama de pré-sal são as
rochas sedimentares que existem abaixo da uma camada de sal com até 2.000 m de
espessura, que se estende por uma grande extensão. Essa espessa camada de sal,
formada principalmente de halita (cloreto de sódio, ou seja, o sal que usamos
na comida) e anidrita (sulfato de cálcio) é uma barreira que se formou
diretamente sobre a rocha geradora, impedindo que, neste caso, o petróleo
migrasse.
Quando a sonda perfura as rochas,
ela encontra esse petróleo depois da camada de sal. Mas não se diz que ele está
no pós-sal e sim no pré-sal porque está em rochas que se formaram antes das que
estão acima, como é normal nos processos geológicos de sedimentação. O prefixo
pré-, portanto, refere-se ao tempo, não ao espaço. Pós-sal é o que está acima
do sal. A Fig. 1 mostra o perfil geológico na área do pré-sal. Notar a
comparação do morro do Corcovado com a profundidade a que está o petróleo.
Por que só nos últimos tempos se
começou a falar em petróleo do pré-sal ? Porque, devido às enormes
profundidades, nunca se havia procurado petróleo abaixo da camada de sal.
É preciso lembrar que esse combustível está 3 a 5 km abaixo do fundo do mar e
que existem até 2.200 m de água até chegar ao fundo. (Além disso, as
plataformas de exploração e produção ficam a até 340 km da costa.)
O pré-sal existe também em outros
países, mas apenas na África ele tem características semelhantes às do Brasil.
Nosso país é hoje autossuficiente em
petróleo, ou seja, produz um volume suficiente para o que consome. Mas, importa
ainda certa quantidade de petróleo mais leve, de melhor qualidade, e é
exatamente este tipo de petróleo que existe no pré=sal.
As reservas do pré-sal
As reservas que se acredita
existirem abaixo da camada de sal ocupam uma área de 149.000 km² (equivalente à
do estado do Ceará) e atingem 90 bilhões de barris, ou seja cerca de sete vezes
o volume de petróleo conhecido acima da mesma camada. Isso nos torna o quarto
país em reservas de petróleo, em condições de passar a exportador do produto.
A Petrobras, por enquanto, divulgou
avaliações apenas para as principais áreas já licitadas, os campos de Tupi,
Iara e Parque das Baleias, onde existiriam até 14 bilhões de barris. Mas, isso
já é suficiente para dobrar as reservas brasileiras conhecidas. Em outubro de
2009, estarão disponíveis dados também sobre o campo de Guará.
Um dos campos conhecidos, Tupi,
situado na bacia de Santos, está a mais de 5.000 m de profundidade e possui uma
reserva recuperável entre 5 e 8 bilhões de barris (reserva recuperável é o que
realmente se pode retirar do subsolo, porque nunca se consegue extrair todo o
petróleo existente numa jazida). Ainda está em fase de testes, com uma produção
de 7.000 barris por dia. Esse volume poderá chegar a um milhão de barris por
dia por volta de 2020. Como a produção total de petróleo no Brasil é hoje de
dois milhões de barris por dia, isso mostra bem a grandiosidade das reservas de
petróleo no pré-sal. Além disso, não está descartada a possibilidade de os
diversos campos petrolíferos do pré-sal estarem interligados, formando uma
única e descomunal jazida.
Quem pode extrair esse petróleo?
Com o fim do monopólio em 1997,
estabelecido pela lei do Petróleo (Lei nº 9.478) esse bem mineral é de quem o
extrai, não mais da Petrobras apenas. Há agora 76 empresas explorando petróleo
e gás natural no Brasil, sob o regime de concessão. É o governo
brasileiro, através da Agência Nacional do Petróleo, quem decide quais áreas
são abertas à pesquisa e extração por empresas outras que não a estatal
brasileira. Elas participam de leilões, através dos quais se habilitam a
concessões públicas. A Petrobras concorre em pé de igualdade com as demais
empresas e não tem uma participação mínima garantida. Esse é o sistema adotado
em países democráticos e de economia aberta.
O governo não quer que o Brasil
entre em mais um ciclo econômico como foram os ciclos do pau-brasil, da
borracha e da cana-de-açúcar, que geraram grandes lucros mas não resultaram em
riqueza para o país. Quer que de alguma forma se garanta que o lucro do
petróleo extraído do pré-sal seja investido em educação e em outros setores
básicos para o desenvolvimento do país. Para isso, estuda a implantação do
sistema de partilha, em que a produção é dividida entre a União e as
empresas. Ficará com o direito de extração a empresa que oferecer ao governo a
maior porcentagem do petróleo extraído. A Petrobras seria operadora única do
pré-sal, podendo se juntar em consórcio a outras empresas, mas tendo uma
participação mínima garantida de 30% em cada campo.
O fim do monopólio surgiu porque a
pesquisa petrolífera envolve alto grau de risco e enormes somas de dinheiro,
ficando difícil para a Petrobras fazer isso sozinha. Acontece, porém, que a
pesquisa no pré-sal vem sendo considerada de baixíssimo risco, o que
justificaria mudanças nas regras, no chamado marco regulatório.
Alguns especialistas condenam
alterações no atual sistema de concessão. Segundo David Zylberstajn, ex-diretor
da Agência Nacional de Petróleo, o sistema atual é absolutamente transparente
[e] não foi objeto de nenhum tipo de questionamento. Mudá-lo seria um
retrocesso institucional. Para João Carlos de Luca, do Instituto Brasileiro de
Petróleo, Gás e Biocombustíveis, o sistema de partilha que alguns setores do
governo defendem inibirá a atuação de companhias privadas.
Embora todos os dez primeiros furos
feitos pela Petrobras no pré-sal tenham encontrado petróleo e a empresa diga
ter um índice de sucesso de 87%, há indícios de que esse risco não é tão baixo
assim, pois alguns poços abertos por empresas privadas deram resultado
negativo. Isso aumenta ainda mais a polêmica em torno do assunto.
Outra questão ainda em debate é se
deve ou não ser criada uma nova empresa estatal para administrar o
aproveitamento do pré-sal. Extrair o petróleo será atribuição da Petrobras, sem
dúvida. Mas, tudo indica que será criada uma nova empresa – que vem sendo
chamada de Petrosal - para monitorar a execução dos projetos de exploração e
principalmente os custos de produção. Seus executivos serão indicados pelo
governo e aqueles que são contra sua criação apontam os riscos de utilização
política dessa empresa e do risco também de se abrir uma nova oportunidade para
a corrupção.
Quanto vale o petróleo do pré-sal ?
O preço do barril de petróleo oscila
bastante em razão de fatores de âmbito internacional. Segundo o engenheiro
Fernando Siqueira, presidente da Aepet (Associação dos Engenheiros da
Petrobras), se ele estiver acima de 100 dólares por barril quando ocorrer a
produção no pré-sal, gerará um lucro da ordem de 10 trilhões de dólares. Essa
produção gerará 250.000 empregos diretos e 350.000 indiretos. O petróleo do
pré-sal, diz ele, poderá acabar com todos os nossos problemas sociais,
econômicos e financeiros.
Uma questão importante, porém, é o
ritmo em que este petróleo deve ser produzido. Se o Brasil o extrair muito
rapidamente, ele poderá acabar no período de uma geração. Além disso, se o país
se tornar um grande exportador de petróleo, nossa moeda ficará muito
valorizada, o que poderá prejudicar as exportações e facilitar as importações.
Isso pode resultar no enfraquecimento de outros setores produtivos como a
Indústria e Agricultura.
Como será distribuído o lucro com o petróleo do pré-sal ?
Esta é mais uma questão polêmica e
ainda não resolvida. Normalmente, os estados onde se situam as jazidas de
petróleo recebem recursos provenientes da produção do óleo (chamados
royalties). Como o petróleo do pré-sal situa-se numa faixa marítima de 800 km
de extensão por 200 km de largura, que abrange apenas os estados entre Espírito
Santo e Santa Catarina, autoridades das demais unidades da federação acham
justo que uma riqueza tão grande seja repartida entre todos os estados. O Rio
Grande do Sul foi a primeira unidade da federação a se manifestar nesse
sentido, através de audiência pública realizada pela sua assembléia
legislativa, em maio de 2009, sobre Impactos da Exploração da Camada pré-Sal.
A Associação dos Engenheiros da
Petrobras também defende a participação de todos os estados, desde que os
recursos sejam aplicados em investimentos sociais.
Outra proposta, divulgada em 15 de
setembro de 2009, destina 30% dos recursos obtidos aos estados produtores, 40%
aos demais estados e os 30% restantes a um fundo a ser criado e que aplicaria o
dinheiro sobretudo em investimentos nas áreas de Educação e Saúde
Conclusão
A discussão em torno do
aproveitamento do petróleo do pré-sal e a própria produção desse petróleo estão
apenas começando. A situação aqui descrita é a que vigorava em setembro de 2009
e poderá mudar em pouco tempo. O assunto é de extrema relevância para o
presente e para o futuro do Brasil e tem mesmo que ser amplamente debatido.
FONTES CONSULTADAS
GUANDALINI, Giuliano et al. 10
questões sobre o pré-sal. São Paulo, Veja, Abril, 42(36):68-7. 09.09.2009. il.
PRÉ-SAL. Wikipédia em português.
Acessado em 14.09.2009.
SANTUCCI, Jô. Pré-sal – Um bilhete
premiado ? Porto Alegre, Conselho em Revista, Crea-RS, 5(58):13-17. il.
CURIOSIDADES
* O investimento para produzir petróleo é altíssimo, mas o retorno é também enorme. Em alguns poços das Arábia Saudita, o custo de produção é de US$ 5 por barril e o petróleo é vendido a US$ 70. Por isso, há quem diga que o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada, e que o segundo melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo mal administrada.
* Quando se fala em barril de
petróleo, fala-se apenas em uma unidade de volume equivalente a 159 litros, uma
vez que o petróleo não é armazenado em barris. Mas, no início da indústria
petrolífera ele era, sim, armazenado dessa maneira. Eram barris de madeira,
depois substituídos por barris de aço.
Um barril de petróleo media 50 cm de
diâmetro por 90 cm de altura.
A energia contida nessa quantidade de petróleo é suficiente para um carro a gasolina rodar 1.400 km.
A energia contida nessa quantidade de petróleo é suficiente para um carro a gasolina rodar 1.400 km.
CPRM - Pércio de Moraes Branco
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