Total superaria 300 mil com os mandados que
ainda não foram cumpridos
A superlotação carcerária é o problema mais visível dos presídios brasileiros, mas há outros. A Pastoral Carcerária fez um relatório recente no qual apontou a existência de tortura em unidades de Amazonas e Paraíba. No Rio Grande do Sul, as más condições dos presídios vão de esgotos entupidos a prédios condenados. Quando chegam à prisão, os detentos não recebem sequer sabonete. O quadro alimenta a subordinação de detentos a facções criminosas, que dominam os presídios e, em troca de um kit de higiene e de proteção, passam a cobrar obediência dos presos. A ligação, muitas vezes, se estende para fora das celas, após a libertação.
O Brasil tem um déficit
de 168.934 vagas para detentos, que são amontoados em presídios espalhados pelo
país. Em 68% das prisões há mais do que nove presos por vaga. Apenas no Piauí o
número de presos não ultrapassa ainda o número de vagas. Em números absolutos,
os maiores déficits estão em São Paulo, que tem 62.572 mil presos a mais do que
o número de vagas; Minas Gerais, com 13.515; e Pernambuco, com 15.194. Os dados
do sistema Geopresídios, do Conselho Nacional de Justiça, revelam que a
situação poderia ser pior: há em aberto 162.550 mandados de prisão que ainda
não foram cumpridos. Ou seja, o déficit dobraria.
A superlotação carcerária é o problema mais visível dos presídios brasileiros, mas há outros. A Pastoral Carcerária fez um relatório recente no qual apontou a existência de tortura em unidades de Amazonas e Paraíba. No Rio Grande do Sul, as más condições dos presídios vão de esgotos entupidos a prédios condenados. Quando chegam à prisão, os detentos não recebem sequer sabonete. O quadro alimenta a subordinação de detentos a facções criminosas, que dominam os presídios e, em troca de um kit de higiene e de proteção, passam a cobrar obediência dos presos. A ligação, muitas vezes, se estende para fora das celas, após a libertação.
— Os presídios brasileiros são sim
medievais. São barris de pólvora e vão estourar, não tem como. São Paulo coloca
3 mil pessoas por mês a mais nas prisões e este número, sozinho, mostra que o
sistema se tornou inviável — diz o padre Valdir João Silveira, coordenador
nacional da Pastoral Carcerária.
Padre Silveira afirma que, em geral,
as pessoas não querem tomar conhecimento sobre o que se passa dentro dos
presídios.
— Cadeia no Brasil foi feita para
quem é pobre e miserável, para quem já estava acostumado a passar fome. O que
me espanta na fala do ministro (José Eduardo Cardozo, da Justiça) é que ele
veio a São Paulo tratar da questão da violência e não tocou no assunto do
fortalecimento das ouvidorias de polícia, na criação de ouvidorias de
presídios. Também não tocou na criação de um comitê de combate à tortura, que é
imprescindível.
Tráfico
de drogas é o crime que mais prende
De acordo com dados do Ministério da
Justiça, o Brasil encerrou 2011 com 514.582 presos, sendo que 47% são
analfabetos ou têm ensino fundamental incompleto. Praticamente a metade tem até
29 anos de idade. Os tipos de crime também chamam a atenção: 82.864 estão
presos por furtos ou roubos sem uso de armas. O crime que mais encarcera
individualmente, porém, é o tráfico de drogas: 119.538 detentos.
Um estudo do Instituto Sou da Paz
mostra que a maioria das prisões em São Paulo é feita em flagrante. Ou seja, é
aquela onde o crime não foi investigado. Em 76% dos casos, a testemunha é da
própria Polícia Militar. Entre os 4.559 denunciados no período da pesquisa
(abril e junho de 2011), a maioria (3.691 ou 80,96%) respondia por um único
crime cometido.
Eduardo Ernesto Almada, juiz de
execução penal de Porto Alegre, onde o Presídio Central chegou a ser proibido
de receber mais detentos devido à superlotação, diz que a política de
encarceramento puro e simples se mostra insustentável. Para ele, é preciso ter
políticas públicas efetivas para que o preso trabalhe durante o cumprimento da
pena.
— São medidas que precisam ser
debatidas, mas o problema é que esta é uma discussão que não rende votos —
afirma o juiz.
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