sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Empréstimo à Grécia: Europa tira dinheiro de um bolso para pôr no outro

A europa do euro tenta se descolar da Grécia em vias de um novo default

Não é nova a afirmação de que a Grécia está à beira da insolvência oficial porque a Europa não lhe empresta os fundos que permitiriam ao governo daquele país continuar a fingir que não está insolvente – resgatando títulos que estão à beira do vencimento com o Banco Central Europeu. A Grécia está insolvente já há três anos. Desde essa data, a zona euro tem emprestado enormes quantias ao governo grego para manter a ilusão de que um (segundo) default é evitável. A Europa tira dinheiro de um dos bolsos para pôr no outro e, enquanto faz isso, afirma ter evitado a bancarrota da Grécia. A questão é que agora correm o risco de ficar sem bolsos porque as três partes da troika de credores da Grécia (FMI, UE e BCE) começaram a divergir entre si em relação ao que fazer com a Grécia.
O FMI diz à Europa: “Já chega! Admitamos! Chegou a hora de reconhecer que a Grécia tem de declarar default e que uma grande parte da sua dívida tem de ser anulada”.
O BCE garante aos políticos europeus (particularmente em Berlim): “Entreguem à Grécia os contratos dos empréstimos com base no dinheiro dos contribuintes, porque nós, o BCE, não estamos preparados para imprimir mais dinheiro para eles – através da ELA (Emergency Liquidity Assistance – Assistência de Liquidez de Emergência).
Entretanto, os políticos europeus resistem à proposta do FMI (negando-se teimosamente a admitir a falência dos seus planos para a Grécia) mas não podem conceder mais empréstimos sem a cobertura de respeitabilidade dada pelo FMI. Para evitar um default nas próximas horas, vão tentar um truque novo que siga a linha da austeridade fiscal.
O mais provável é que peçam a Atenas que recorra ao fundo de recapitalização dos bancos gregos para pagar ao BCE nos próximos dias (prometendo que vão autorizar que o fundo de recapitalização dos bancos seja reconstituído logo que as parcelas de 31,5 bilhões de euros forem entregues, assim que o FMI e a Europa resolvam as suas divergências).
Entretanto, a economia social grega afunda-se mais e mais profundamente, sob as medidas de austeridade que são a condição para manter esperança de receber mais parcelas deste empréstimo tóxico. O resto é pura catástrofe; nem sequer tragédia (até porque as tragédias acabam em catarse).
Traduzido do blog de Yanis Varoufakis
Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net
1 – Em fevereiro deste ano, a Grécia declarou default aos investidores privados, que tiveram de aceitar a uma grande redução da dívida de 75% do seu valor bruto. Contudo, a Europa garantiu que este default (mesmo apesar de os contratos de CDS terem sido ativados) não fosse chamado de ‘default‘.
Por Redação, com Esquerda.net - de Atenas

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