Cachoeira deixa presídio da Papuda após justiça expedir alvará de soltura
Contraventor
saiu do complexo prisional à 0h04 desta quarta-feira, 21. Decisão de juíza da
5ª Vara do DF fixa ainda pena de cinco anos em regime semiaberto e 50 dias de
multa por fraude
Contraventor acena de dentro do veículo ao deixar o complexo prisional em Brasília|André Dusek/Estadão | |
O
contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, deixou, no início da
madrugada desta quarta-feira, 21, o presídio da Papuda, em Brasília. A Justiça
do Distrito Federal mandou solta-lo no início da noite de terça-feira.
Cachoeira estava preso havia nove meses. A juíza Ana Cláudia Barreto, da 5ª
Vara Criminal de Brasília, revogou a prisão provisória imposta ao contraventor
a partir da Operação Saint Michel, que apurou tentativa de fraude a licitação
no governo local.
Ao
estabelecer a sentença na ação, no entanto, a juíza o condenou a cinco anos de
reclusão, em regime semiaberto, mais 50 dias multa (cerca de R$ 3 mil) pelos
crimes de formação de quadrilha e tráfico de influência - pena que só poderá
ser aplicada após a publicação da decisão. Sua mulher, Andressa Mendonça,
chegou por volta das 23h à Papuda e disse que reiterava "seu amor"
por Cachoeira. Da prisão, ele deveria voltar para Goiânia.
Pai
de Cachoeira, Sebastião de Almeida Ramos comemorou a decisão: "Graças a
Deus! Essa prisão estava acabando com todos nós. Ele não merecia isso",
afirmou. "Como não estou bem de saúde, vou amanhã (hoje) cedo para Goiânia
encontrá-lo. A Justiça está sendo feita", completou o pai. "Nenhuma
prova se produziu. A montanha pariu um rato. Ele em direito a recorrer em
liberdade e essa pena será extinta", resumiu seu advogado Nabor Bulhões.
Conforme
denúncia do Ministério Público, apresentada em maio à Justiça, Cachoeira e mais
sete pessoas, entre elas os ex-diretores da Delta Construções Heraldo Puccini
Neto e Cláudio Dias Abreu, associaram-se para fraudar licitação para o serviço
de bilhetagem eletrônica no Distrito Federal. O objetivo seria conseguir a
contratação da empreiteira para operar o serviço, que, segundo o grupo, poderia
render R$ 60 milhões por mês.
Esquema. Um
ex-servidor do Distrito Federal, Valdir dos Reis, com trânsito no Palácio do
Buriti, foi contratado para facilitar os interesses da organização e corromper
servidores do DFTrans, entidade que gerencia o transporte no DF, e da
Secretaria de Transportes. De acordo com Ministério Público, Cachoeira era o
cabeça do esquema, tendo, inclusive, ordenado os pagamentos a Valdir.
A
sentença prolatada pela juíza, de 38 páginas, condena todos os réus pelos
crimes de formação de quadrilha e tráfico de influência. Fora Cachoeira, Gleyb
Ferreira da Cruz, aliado do contraventor, é o único apenado com o mesmo tempo
no regime semiaberto, além de 10 dias multa (cerca de R$ 545). Os demais foram
condenados ao regime aberto. Nos casos de Cláudio Abreu e Heraldo Puccini, a
pena foi de três anos e seis meses, além de 10 dias multa.
Na
prática, a decisão deixa os réus na boca do regime fechado, em caso de
condenação pelos crimes atribuídos a eles na Operação Monte Carlo, da Polícia
Federal, cuja ação corre na Justiça Federal em Goiás. As penas se somariam.
Nas
38 páginas, a juíza diz que Cachoeira foi o idealizador de todo o esquema.
"É inegável a pretensão de enriquecer em detrimento do patrimônio
público", afirmou. Cachoeira foi preso em 29 de fevereiro pela PF na
Operação Monte Carlo, que desarticulou a organização que explorava máquinas de
caça-níqueis em Goiás. As investigações chegaram ao então senador Demóstenes
Torres, pego em escutas telefônicas, e, indiretamente, os governos do Distrito
Federal, do petista Agnelo Queiroz, e de Goiás, do tucano Marconi Perillo.
Alana Rizzo e Fábio Fabrini - O Estado de S. Paulo
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