Brasília
- Um dos principais entraves no combate à corrupção no Brasil é o excesso de
burocracia na administração pública, disse a ex-corregedora do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) e ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ),
Eliana Calmon, durante seminário na Câmara dos Deputados. Para ela, o excesso
de normas legais, em vez de coibir a corrupção, acaba por facilitá-la e, por
isso, ela defendeu a revisão da Lei de
Licitações (Lei 8.666). “Uma das boas práticas é avaliar a necessidade
de desburocratizarmos a atividade pública”, disse.
Segundo
a ministra, o excesso de detalhamento da lei tem sido um dos fatores para a
corrupção. ”Ela é muito detalhada, muito minuciosa e esse formalismo tem
prejudicado a própria execução da lei. Nesses últimos anos, temos verificado a
proliferação dos contratos emergenciais, do continuísmo de contratos com preços
superfaturados pela urgência e, dessa forma, as empresas se locupletam com
esses pluses dados pelo governo que desfalcam os nossos serviços”,
disse.
Para
Eliana Calmon, o país precisa ser criativo em buscar soluções de boas práticas.
Durante o 1º Seminário sobre Boas Práticas nas Contratações Públicas, na
Câmara, ela defendeu aplicação do Regime Diferenciado de Contratações (RDC),
adotado pelo Executivo para obras da Copa do Mundo de 2014, para Olimpíadas de
2016 e obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A
ex-corregedora do CNJ enfatizou que é necessário abrir mão do formalismo para
facilitar a realização de licitações e evitar a assinatura de contratos
emergenciais. “Temos observado que, muitas vezes, para termos contratos que
parecem legais, começamos a descer a minúcias e elas terminam prejudicando o
próprio contrato”, disse Calmon “Como juíza, tenho a ideia de como muitas vezes
é deletéria a colocação de detalhes nos editais de licitação que direcionam
para determinadas empresas. Isso cria um obstáculo para a formação de um
contrato mais liberal a ponto de termos a inutilização de contratos, o que
acaba fortalecendo os contratos emergenciais. E é nesses contratos que começa a
corrupção. Eles vão sendo esticados em emergência com reavaliação no custo e
leva a grande sangria do serviço público”, disse.
Outra
maneira de evitar a corrupção, disse a ministra do STJ, é investir na educação
e estimular na população o instinto de valorizar a coisa pública. “No momento
em que não nos sentimos participantes de uma sociedade ou governo, cruzamos os
braços e olhamos somente para os nossos interesses, mas no instante em que
somos educados para participar de uma sociedade e fiscalizarmos aqueles que
elegemos, naturalmente somos mais responsáveis na hora de votar e nos voltamos
para os interesses da sociedade em geral. E isso só a educação nos dá”.
A
ministra disse que é fundamental o debate sobre boas práticas no serviço
público como forma de conscientizar os próprios gestores sobre a importância da
lisura nos atos e também a sociedade como um todo. “No momento em que se faz,
dentro do Poder Legislativo, um evento em que estamos preocupado em difundir as
práticas de combate ao crime organizado, à lavagem de dinheiro e chamamos
diversos representantes de órgãos de controle, estamos sinalizando que somos
uma sociedade diferente. Preocupada em fazer o combate à corrupção.”
Ivan
Richard e Iolando Lourenço Repórteres da Agência Brasil | Edição : Fábio
Massalli
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