É ano de
eleição novamente e, novamente, as mentiras sobre a Bolsa Família se espalham
por aí pelas bocas de sempre. Segue abaixo um texto antigo, de 2010,
publicado no antigo blog O que não te contaram (hoje desativado), em
parceria com Leonor Simioni, resultado de uma pesquisa sobre a história dos
programas Bolsa Família e Fome Zero.
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A VERDADEIRA
HISTÓRIA DO BOLSA FAMÍLIA: do Tudo não é Relativo
Os tucanos,
democratas e petistas que combateram a pobreza no Brasil
Clique
aqui para ver o quadro
resumo
da história do Bolsa Família
DUAS HISTÓRIAS
MAL CONTADAS
Existem duas
versões sobre a história dos programas sociais no Brasil. A primeira
versão diz que nenhum governo anterior (especialmente os “malvados” tucanos) se
preocupou com os pobres até 2003, quando o PT assumiu o poder com o slogan “nunca
na história deste país”. Já a segunda versão diz que os tucanos é que são
os únicos responsáveis por todos os programas sociais existentes, mas que os
“aproveitadores” petistas fingem que a obra é deles.
Cansados dessa
discussão sem fim, nós fizemos um levantamento do histórico dos programas
sociais brasileiros, destacando as principais ações tanto de petistas quanto de
tucanos na luta contra a pobreza e miséria. O quadro mostra que a situação é
mais complexa do que o discurso maniqueísta que domina o debate. Por exemplo,
você sabe quem implementou o primeiro programa transferência condicionada de
renda do Brasil?
Se você pensou
em Lula, Fernando Henrique ou Cristovam Buarque, você está enganado. A ação
pioneira nesta área foi de um político tucano, mas um tucano praticamente
desconhecido da maioria das pessoas e quase nunca lembrado neste debate.
Confira abaixo.
1991: A
PROPOSTA DE SUPLICY
Em 1991, o senador
Eduardo Suplicy (PT-SP) propõe a criação do “Programa de Garantia de Renda
Mínima” (PGRM), que deveria complementar o rendimento de “todos os brasileiros
adultos” que recebessem anualmente menos de Cr$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil
cruzeiros).
Pelo projeto,
receberiam o benefício todos os maiores de vinte e cinco anos. Não havia
nenhuma exigência adicional para o recebimento do benefício, como possuir
filhos e mantê-los na escola. Entretanto, o projeto já previa a substituição
progressiva de todos os programas sociais pré-existentes.
Fontes: Texto
do Projeto de Lei do Senado (aqui);
artigo de Eduardo Suplicy e Cristovam Buarque, em 1997, em avaliação e defesa
dos programas de renda mínima (aqui)
1994: CAMPINAS,
A PRIMEIRA EXPERIÊNCIA
Entre 1994 e
1995, o prefeito de Campinas, José Roberto Magalhães Teixeira (PSDB-SP),
implanta no município o primeiro programa brasileiro de transferência
condicionada de renda para famílias pobres. Segundo Campineiro (1997:12),
“o Programa de
Garantia de Renda Familiar Mínima (PGRFM) constitui a experiência pioneira
desta natureza no território nacional, representando um esforço ousado e
inovador da administração do Prefeito José Roberto Magalhães Teixeira em busca
de alternativas para enfrentar o crescimento da pobreza no município de
Campinas”. (cf. aqui)
Diferentemente
do projeto de Suplicy, o PGRFM de Campinas beneficia “famílias” e condiciona
o recebimento do benefício a ações socioeducativas. Os beneficiários deveriam:
(I) residir em
Campinas há pelo menos dois anos;
(II) manter os
filhos na escola e com bons resultados nos estudos;
(III) receber
os funcionários da Assistência Social em suas casas periodicamente;
(IV) e frequentar
cursos profissionalizantes.
José Roberto Magalhães Teixeira (PSDB-SP)
Criador do 1º programa de transferência condicionada de renda
1995: OS
CARDOSO CONTRA A FOME
Em 12 de
janeiro de 1995, o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) cria o Programa
Comunidade Solidária (MP nº 813/95), com o objetivo coordenar as ações
governamentais voltadas para o atendimento da parcela da população que não
dispõe de meios para prover suas necessidades básicas e, em especial, o combate
à fome e à pobreza.
O programa é
voltado para a implementação de ações governamentais nas áreas de alimentação e
nutrição, serviços urbanos, desenvolvimento rural, geração de emprego e renda,
defesa de direitos e promoção social. Até dezembro de 2002, o programa foi
presidido pela primeira dama Ruth Cardoso. Depois disso, o programa foi
substituído pelo Fome Zero.
Fonte: aqui.
1995:
BOLSA-EDUCAÇÃO, A EXPERIÊNCIA DE BRASÍLIA
Ao assumir o
governo do Distrito Federal em 1995, Cristovam Buarque (então PT-DF, hoje PDT)
implanta o Programa Bolsa Escola ou Bolsa-Educação (cf. Suplicy; Buarque, 1997),
que paga um salário mínimo a famílias com renda mensal menor que meio salário
mínimo per capita” e “com crianças de 7 a 14 anos de idade”.
Critérios para
receber o benefício:
I) morar no DF
por no mínimo cinco anos.
II) manter os
filhos em escolas públicas e com a frequência escolar acima 90%.
III) no caso
de trabalhador desempregado, é exigido que ele se matricule no Sistema Nacional
de Emprego (SINE) para mostrar que está tentando encontrar emprego.
Fonte: aqui.
1995: O
AUXÍLIO FEDERAL
Em junho de
1995, o deputado Nelson Marchezan (PSDB-RS) apresenta o Projeto de Lei 667/95,
que
“autoriza
o Governo Federal a conceder apoio financeiro ao Distrito Federal e aos
municípios que instituírem programa de garantia de renda mínima associado a
ações sócio-educativas”. O projeto se transforma em Lei em 1997.
Fonte: aqui e
aqui.
1996 - 1997:
OS PRIMEIROS RESULTADOS
Após Campinas
e do DF, dezenas de programas de transferência condicionada de renda são
criados em todo o país. Em artigo para a Revista Estudos Avançados, defendendo
a eficiência desse tipo programa, Eduardo Suplicy e Cristovam Buarque
escrevem:
“O Brasil
acaba de deixar a posição desconfortável de campeão de desigualdades econômica
e social”.
(cf. aqui)
Era o terceiro
ano do governo Fernando Henrique Cardoso.
1999: GOIÁS: O
COMEÇO DA UNIFICAÇÃO
O governador
Marconi Perillo (PSDB-GO) cria o programa Renda Cidadã no estado de Goiás.
A grande
novidade desse programa é o pagamento do benefício por meio de um cartão
magnético (antecipando o formato atual do Bolsa Família), medida que tem como
objetivo proporcionar “a liberdade de escolha dos gêneros alimentícios ao
beneficiário”.
Fonte: aqui.
2000: A
PROPOSTA DE ACM
Em 14 de
dezembro, a Emenda Constitucional Nº 31, de iniciativa do senador Antônio
Carlos Magalhães (PFL), cria o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, que
tem o objetivo de garantir o orçamento federal para financiar “ações
suplementares de nutrição, habitação, educação, saúde, reforço de renda
familiar e outros programas de relevante interesse social voltados para
melhoria da qualidade de vida”.
Fonte: aqui.
2000-2001:
ESCOLA, ALIMENTAÇÃO E GÁS: OS TRÊS PILARES:
Em maio de
2000: É aprovado o Projeto de Lei Nº 3136, do deputado Pedro Pedrossian
(PFL), que institui o Programa Vale Gás, para beneficiar famílias de baixa
renda dom consumo de energia elétrica inferior a 75 kw/mês. Como vocês verão
abaixo, estes foram os três principais programas que deram origem ao Bolsa
Família.
Fonte: aqui.
Em abril de
2001: o presidente Fernando Henrique (PSDB) cria o Programa Nacional de Renda
Mínima vinculada à educação - “BOLSA ESCOLA”, financiar os programas municipais
de garantia de renda mínima “associados a ações socioeducativas”.
O programa
mantém as características e exigências principais: beneficia famílias de baixa
renda e que tenham crianças de 6 a 15 anos de idade, matriculadas no ensino
fundamental regular, com freqüência escolar mínima de 85%.
Fonte: aqui.
Em setembro de
2001: o ministro da Saúde José Serra (PSDB) cria o Programa Nacional
de Renda Mínima vinculado à saúde: “BOLSA ALIMENTAÇÃO”, para promover melhoria
nas condições de saúde e nutrição de gestantes e crianças entre seis meses e
seis anos e meio de idade, de famílias de baixa renda.
2001: CRÍTICAS
Contrariando a
posição de outros petistas engajados com programas como o Bolsa Escola e o
Comunidade Solidária, o presidente de honra do Partido dos Trabalhadores dizia:
2002: UMA
ELEIÇÃO CONTRA A FOME
EM
OUTUBRO: Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é eleito presidente da república
com uma campanha emocionante em que prega o combate à fome no país e lança o
desafio:
“Que cada
brasileiro tenha direito a três refeições por dia”
2002: UMA
PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO
Ainda em
novembro, o governador Marconi Perillo (PSDB-GO) se reúne com o presidente
eleito Lula (PT), antes mesmo da posse, e propõe a unificação dos programas de
assistência social, seguindo o modelo adotado pelo governo tucano de Goiás.
Marconi
Perillo (PSDB) também é responsável pela proposta da fórmula de financiamento
do programa: a União é responsável por 60% dos custos, os Estados por 30% os
municípios por 10%.
Fonte: aqui.
2003: O FOME
ZERO
O presidente
Lula (PT) cria o programa Fome Zero, que substitui o Programa Comunidade
Solidária (criado em 1995 por FHC) e amplia a sua ação.
2004: A
UNIFICAÇÃO DOS PROGRAMAS
Em janeiro,
o presidente Lula (PT) lança o Programa BOLSA FAMÍLIA, que unifica os
programas de assistência social pré-existentes, de acordo com o modelo proposto
por Marconi Perilo (PSDB).
O Bolsa
Família reúne os pré-existentes programas federais Bolsa Escola (criado em
2001), Bolsa Alimentação (criado em 2001) e o Vale Gás (criado em 2000),
criados na administração tucana. A Lei
Nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004, diz que programa tem por finalidade:
“... a unificação
dos procedimentos de gestão e execução das ações de transferência de renda do
Governo Federal, especialmente as do Programa Nacional de Renda Mínima
vinculado à Educação - Bolsa Escola, instituído pela Lei nº 10.219, de 11 de
abril de 2001, do Programa Nacional de Acesso à Alimentação - PNAA, criado pela
Lei n o 10.689, de 13 de junho de 2003, do Programa Nacional de Renda Mínima
vinculada à Saúde - Bolsa Alimentação, instituído pela Medida Provisória n o
2.206-1, de 6 de setembro de 2001, do Programa Auxílio-Gás, instituído pelo
Decreto nº 4.102, de 24 de janeiro de 2002, e do Cadastramento Único do Governo
Federal, instituído pelo Decreto nº 3.877, de 24 de julho de 2001.”
No vídeo
abaixo, a cerimônia de lançamento do Programa Bolsa Escola, com o discurso do presidente
Lula (PT) agradecendo ao governador Marconi Perillo (PSDB):
UMA REFLEXÃO
O
desenvolvimento dos programas brasileiros de assistência social mostra que, nas
palavras dos senadores Eduardo Suplicy (PT) e Cristóvam Buarque (PDT),“a
proposta de renda mínima não é somente iniciativa do Partido dos Trabalhadores,
mas uma idéia que pertence à humanidade, na medida que pensadores de todos os
segmentos e de orientações políticas amplamente divergentes a tem defendido.
Assim, a garantia de renda mínima ou a Bolsa-Escola (...) não deve ser vista
como um presente de um presidente, governador, prefeito, senador, deputado ou
qualquer outro parlamentar” (Suplicy & Buarque, 1997. Cf. aqui)
Como este
resumo mostra, personalidades tão diferentes como Fernando Henrique Cardoso,
Luiz Inácio Lula da Silva, Antônio Carlos Magalhães, Eduardo Suplicy, Cristovam
Buarque, Ruth Cardoso e outros contribuíram para a construção do sistema de
assistência social hoje existente.
FAZENDO
JUSTIÇA A QUEM MERECE
Mas também é
preciso fazer justiça a quem merece e dar a devida importância a uma personalidade
cuja imagem tem sido continuamente atacada e aviltada há quinze anos
pelo discurso predominante. Trata-se do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso.
A disputa
eleitoral fez com que os adversários do PSDB fizessem o máximo possível para
atribuir a Fernando Henrique uma má fama que contraria todos os fatos. Acusam o
ex-presidente e os milhares de militantes do PSDB de serem “contra os pobres”
ou de “governarem só para os ricos”.
A realidade
mostra o contrário. Foi justamente no governo tucano que se construiu e se
ampliou toda a rede de assistência social que hoje ajuda milhões de pessoas.
Tanto os programas de combate direto à fome (como o Comunidade Solidária que
foi substituído pelo Fome Zero) quanto o programa federal de financiamento das
bolsas ligadas à educação foram criados pelos tucanos.
O Bolsa Escola
federal já beneficiava 5 milhões de crianças em outubro de 2001(Cf. aqui).
Em junho de
2002, eram 8,6 milhões de crianças de 5,1 milhões de famílias beneficiadas, em
5.536 municípios. (Cf. aqui e
aqui).
Ao final do
governo FHC, o Bolsa Escola atendia 5,5 milhões de famílias carentes.
O governo do
presidente Lula afirma ter elevado este número para 14 milhões. Na página
oficial do Programa Bolsa Família no site da Caixa Econômica Federal, a
informação é “11 milhões” (cf. aqui);
na página do Ministério do Desenvolvimento Social, a informação é de “mais de
12 milhões (cf. aqui),
mas os sites provavelmente estão desatualizados. Fiquemos com os 14 milhões da
propaganda oficial.
O que isso
significa?
Significa que
o governo FHC atendeu 5,5 milhões de família quando o sistema ainda estava
sendo construindo. O governo Lula unificou o sistema, manteve esse número e
aumentou os beneficiários em 7,5 milhões.
A ampliação
proporcionada pelo governo Lula é efetivamente um mérito. Mas o discurso predominante
na (milionária) propaganda governamental distorce os fatos quando apregoa que
tudo isso foi obra de apenas um governo. Como podem acusar de ser “contra os
pobres” um presidente (Fernando Henrique) que atendeu cinco milhões e
quinhentas mil famílias carentes?
Vídeo:
Entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre os programas
sociais:
CONCLUSÃO
Estes são os
fatos. Não deixe o discurso predominante e a mistificação distorcê-los.
Clique
aqui para ver o quadro resumo da história do Bolsa Família
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Dag Vulpi