terça-feira, 25 de setembro de 2012

Zavascki diz que julgar mensalão e pedir vistas é contraditório

Essa questão me deixa desconfortável, diz Zavascki sobre julgamento do mensalão

Em sua sabatina na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado nesta terça-feira (25), o ministro Teori Zavascki foi questionado pelos parlamentares se participaria do julgamento do mensalão em curso no Supremo Tribunal Federal e disse que a questão o deixa "desconfortável".
Zavascki foi indicado para o STF pela presidente Dilma Rousseff para ocupar a vaga deixada por Cezar Peluso. Se julgar que está habilitado a votar sobre a ação penal 470 (mensalão), o novo ministro pode entrar no julgamento com ele já em andamento --o que abre a possibilidade de ele pedir vistas ao processo, por exemplo.
“Quem decide a participação [em um julgamento em curso], em última análise, não é o juiz. É o órgão colegiado do qual ele vai participar. Essa questão, a mim pessoalmente, me deixa muito desconfortável”, disse. “Me reservo a não responder sobre casos específicos”, reforçou.
"Eu não tenho ideia do que eu teria que decidir se for decidir, de modo que eu acho que eu não posso ou deva me pronunciar sobre esse caso que está no STF", disse inicialmente. "A regra diz que, em princípio, o juiz que não ouviu o relatório [do ministro-relator] e não participou dos debates não participa do julgamento. Me parece que essa regra é correta", afirmou.
Zavascki disse que é o principal interessado em esclarecer a questão “para que não paire qualquer dúvida a respeito de eventuais motivos que possam ter determinado minha escolha”. Ele lembrou, porém, que a Lei Orgânica da Magistratura impede que juiz se pronuncie a respeito de processo em curso, mas concordou que seria uma contradição se dizer habilitado a votar no processo e ao mesmo tempo pedir vista.
“Dar-se por habilitado e pedir vista é uma contradição”, disse Zavascki. “Não há possibilidade de dar-se por habilitado e pedir vista”, reforçou.
Ele minimizou ainda a sua participação no julgamento. "Um voto a mais num julgamento com dez membros é absolutamente irrelevante porque o resultado será absolutamente igual. Se houver empate de cinco a cinco, tendo o presidente votado, o 11º voto jamais pode beneficiar o acusado, porque o acusado está beneficiado pelo empate."
A indicação de Zavascki em meio à análise do mensalão --que atinge principalmente o PT-- foi visto com desconfiança pela oposição ao governo de Dilma. Alvaro Dias (PR), líder da bancada do PSDB no Senado, primeiro dos senadores inscrito para questionar o candidato ao Supremo, perguntou se o ministro pretendia participar do julgamento , pergunta que foi repetida por Pedro Taques (PDT-MT). Na primeira rodada de perguntas, também levantaram questionamentos os parlamentares Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC), Aloysio Nunes (PSDB-SP) e Eduardo Suplicy (PT-SP). Segundo Eunicio Oliveira, havia um total de 25 senadores inscritos para perguntas.
Após o encerramento da sabatina, o senador Pedro Taques disse que o Senado tem que cumprir seu papel. "O que eu sei é que existe a necessidade que o Senado cumpra o seu papel constitucional e não faça da sabatina um convescote entre amigos até em homenagem ao próprio ministro, que é um homem de bem, que tem uma vida pública decente, com conhecimento notável da ciência jurídica. Agora, os senadores não podem ser impedidos de votar.”
Papel do Judiciário
O magistrado disse em sua exposição inicial, de cerca de 20 minutos, que o papel do Judiciário no Brasil precisa ser redefinido. "O Judiciário ainda passa pela necessidade de definir corretamente as funções de seus tribunais superiores. Os dois grandes tribunais da federação passam por um período de acomodação de definição do seu perfil. Exige definição no âmbito do Judiciário", afirmou Zavascki, que é atualmente ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça). 

VEJA QUEM INDICOU OS MINISTROS DO STF

Ministro:
Indicação:
Empossado em:
Ayres Britto (presidente)
Luiz Inácio Lula da Silva
25 de junho 2003
Celso de Mello
José Sarney
17 de agosto de 1989
Marco Aurélio
Fernando Collor de Mello
13 de junho de 1990
Gilmar Mendes
Fernando Henrique Cardoso
20 de junho de 2002
Joaquim Barbosa
Luiz Inácio Lula da Silva
25 de junho de 2003
Ricardo Lewandowski
Luiz Inácio Lula da Silva
16 de março de 2006
Cármen Lúcia
Luiz Inácio Lula da Silva
21 de junho de 2006
Dias Toffoli
Luiz Inácio Lula da Silva
23 de outubro de 2009
Luiz Fux
Dilma Rousseff
3 de março de 2011
Rosa Weber
Dilma Rousseff
19 de dezembro de 2011
De acordo com o artigo 101 da Constituição, para ocupar uma cadeira de ministro no Supremo, o indicado deve ter mais de 35 e menos de 65 anos de idade, além de ser reconhecido pelo saber jurídico e "reputação ilibada" (sem manchas).
Após a sabatina, o nome de Zavascki ainda precisará ser confirmado em votação no plenário do Senado, o que não tem data para acontecer. Desde a saída de Peluso, no início de setembro, o STF tem trabalhado com apenas dez ministros da Corte.
Os senadores suspenderam às 16h30 a sabatina para que pudessem dar início à ordem do dia no plenário do Senado, que deve votar a MP do Código Florestal ainda nesta terça. A data em que a sabatina será retomada ainda não foi definida.
O presidente da CCJ descarta reconvocar a comissão hoje. Disse que isso pode acontecer amanhã ou então somente quando o Senado retomar os seus trabalhos –o que, segundo ele, depende do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). “Hoje acho muito difícil, acho que não vai dar. Vai depender da convocação do Senado.”
Sobre o eventual descontentamento por parte de senadores que considerarem que Zavasckis não respondeu à pergunta feita, Oliveira disse que ele pode votar pela não aprovação do ministro.
“Votar contra ou a favor está no direito do senador. O voto é secreto. O senador faz um questionamento e não se sente satisfeito com a resposta, o que ele pode fazer é votar contra [a aprovação do ministro Teori Zavascki].”
Na saída da sala da comissão, o ministro não quis dar entrevista à imprensa. Perguntado se havia ficado decepcionado com a suspensão da sessão, disse apenas: “Faz parte do processo democrático".
Julgamento sobre Palocci
Alvaro Dias também questionou Zavascki sobre o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci. Zavascki foi o responsável pelo voto condutor que absolveu Palocci de um processo por improbidade administrativa que chegou ao STJ. Em novembro de 2010, todos os ministros da 1ª Turma do STJ seguiram a manifestação de Zavascki favorável a Palocci, então coordenador da vitoriosa campanha de Dilma.
“A jurisprudência aplicada naquele caso [Palocci] é o entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça”, respondeu. “Nós não podemos suspender direitos políticos de um prefeito ou de um governador porque teve problema em uma licitação por má interpretação da lei. Temos aí uma ilegalidade, mas não um ato que leve  a sanção tão grave que leve à perda do cargo."

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