Por Gustavo
Gantois
O ministro Luiz Fux foi taxativo ao discordar. "Isso é a
lavagem mais deslavada que eu já vi. Esse dinheiro tem origem ilícita, ele não
vai ficar guardado num quadro ou na estante. A partir do momento em que se
insere novamente esse dinheiro na economia, é lavagem. Basta mascarar a
origem", disse.
Fux ganhou apoio do presidente da Corte, Carlos
Ayres Britto, que afirmou que, mais do recusar a autoria do saque, Borba acabou
repassando a sua autoria para outra pessoa, no caso Simone Vasconcelos.
Contudo, a posição de Lewandowski recebeu guarida de outros ministros também,
como Marco Aurélio Mello, Cármen Lúcia, Rosa Weber e Gilmar Mendes.
Para sustentar seus argumentos, Lewandowski
comparou a lavagem de dinheiro no mensalão com um servidor que utiliza recurso
desviado de uma instituição para subornar policiais ao ser flagrado dirigindo
embriagado. Segundo ele, se os agentes utilizam o dinheiro sujo para gastar em
um bar, não quer dizer que isso represente lavagem de dinheiro. Após concluir o
raciocínio, o ministro Fux interrompeu: "É interessante o argumento, mas
não estamos num happy hour", afirmou ao arrancar risos no plenário.
A discussão ganhou contornos de briga pessoal
quando o relator Joaquim Barbosa entrou no debate. O ministro criticou
Lewandowski por não distribuir seu voto aos colegas durante a sessão e defendeu
que o plenário vem julgando os artifícios utilizados pelo valerioduto na
distribuição de dinheiro há dois meses, o que não daria brecha para dúvidas
sobre a intenção de dissimular o recebimento dos recursos. Barbosa ainda
insinuou que o revisor não estaria sendo transparente, o que causou um
desagravo por parte dos ministros Marco Aurélio e Celso de Mello.
O
mensalão do PT
Em 2007, o STF aceitou denúncia
contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005
pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou
conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam
pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governoLuiz
Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o
cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos
colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.
No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da
República apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o
ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do
partido Delúbio Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos
foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio
respondem ainda por corrupção ativa.
Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral
da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso,
ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou
de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e
também deixou de figurar na denúncia.
O relator apontou também que o núcleo
publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresárioMarcos
Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino),
além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias.
Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção
ativa e lavagem de dinheiro.
A então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e
os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram
denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de
dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem
a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da
Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O
ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado
por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O ex-presidente da Câmara João Paulo
Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e
lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do
PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator,
Roberto Jefferson.
Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da
República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos
38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz
Gushiken e do irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto
Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.
A ação penal começou a ser julgada em 2 de agosto
de 2012. A primeira decisão tomada pelos ministros foi anular o
processo contra o ex-empresário argentino Carlos Alberto Quaglia, acusado de
utilizar a corretora Natimar para lavar dinheiro do mensalão. Durante três
anos, o Supremo notificou os advogados errados de Quaglia e, por
isso, o defensor público que representou o réu pediu a nulidade por cerceamento
de defesa. Agora, ele vai responder na Justiça Federal de Santa Catarina,
Estado onde mora. Assim, restaram 37 réus no processo.
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