MPF: 'Há pistas para
acusar a Petrobras por crime ambiental"
Por Cecília Ritto, da Veja
Procurador Renato Machado
não ficou surpreso com o inquérito recebido da Polícia Federal, que acusa a
empresa de poluir o oceano com resíduos tóxicos
Rio de Janeiro - Está
nas mãos do Ministério Público Federal (MPF) o inquérito feito pela Polícia
Federal (PF) que acusa a Petrobras de despejar resíduos tóxicos em
rios e oceanos. O procurador Renato Machado, do MPF de São João de Meriti,
responsável por crimes ambientais da Baixada Fluminense, analisa o documento
que recebeu há duas semanas das mãos do delegado Fábio Scliar, titular da
Delegacia de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente e o Patrimônio Histórico
da PF.
Cabe a ele dar
encaminhamento ao processo, o que deve levar mais algumas semanas. E mesmo sem
querer antecipar sua conclusão, Machado já adianta: "Há elementos para denunciar" os responsáveis da empresa pelo
crime de poluição. A pena pode chegar a cinco anos de prisão, o que pode ser
revertido à prestação de serviços comunitários por serem réus primários.
O inquérito detalha
que agentes da Polícia Federal recolheram três amostras de água, em dias
diferentes, nas cercanias da Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), a quarta
maior da Petrobras. Todos os resultados comprovam o derramamento de água usada
no refino e produção de petróleo sem tratamento. Entre os resíduos lançados ao
mar estão óleo, graxa e metais pesados. "Os agentes coletaram as amostras na boca do cano que sai no manguezal.
Não adianta a Petrobras inventar coisas fantasiosas. A quantidade de poluentes
está além dos limites da lei. É crime ambiental lançar qualquer substância além
dos parâmetros legais. Esses padrões têm como base a saúde humana, a
sobrevivência dos animais. E a Reduc é cercada de manguezal", destaca
o procurador.
Mais suspeitas - E o caso não se resume à Reduc. Durante a
investigação policial, servidores relataram aos agentes que o descarte de
poluentes não era feito somente pela refinaria de Caxias, mas por plataformas e
refinarias em geral. "A água negra
(mistura de substâncias tóxicas e óleo na água) é descartada há décadas no
oceano sem o tratamento adequado. E não há fiscalização qualquer",
afirma o delegado.
Para o procurador,
isso não soa como novidade. "Nada de
surpreendente. Há vários casos de degradação ambiental pela Petrobras na
Baixada Fluminense. Como não está aos olhos dos ricos, as pessoas não ficam
sabendo", afirma, acrescentando ainda: "A Reduc tem uma espécie de milícia armada. Os funcionários têm medo de
falar. As pessoas que vivem na Baixada também estão acostumadas a esse tipo de
situação. A região é como uma lixeira do Rio: abrigou o Jardim Gramacho, guarda
os entulhos das obras do PAC".
A competência de
Renato Machado é restrita aos crimes ambientais da Baixada. Por isso, ele deve
encaminhar nos próximos dias toda a documentação para a Procuradoria Geral da
República. A instância, em Brasília, tem poder de fazer uma investigação mais
abrangente sobre as refinarias que não tratam adequadamente a água.
Petrobras - Em nota enviada pela assessoria de imprensa, a
Petrobras nega as acusações e garante atender a todos os requisitos da
legislação ambiental brasileira e internacional. "A água produzida junto com o petróleo nas plataformas é tratada e
descartada de acordo com a legislação brasileira, que é tão rigorosa quanto nos
EUA e na Europa. Nas plataformas onde não há sistema de tratamento, a água é
enviada para outras plataformas ou outras instalações para destinação adequada",
informa o texto. "Também na
Refinaria Duque de Caxias, todos os efluentes são tratados. O descarte respeita
a legislação brasileira", acrescenta a nota.
Também por nota, a
assessoria do Ibama informou que "exige
de todas as empresas petrolíferas o estrito cumprimento da legislação
ambiental, incluindo os padrões de descarte de água de produção estabelecidos
pela Resolução Conama nº 393/07". O instituto diz que realizou 90 autuações
referentes ao descarte de água de produção fora das especificações do Conama,
aplicando essas sanções a diversas empresas petrolíferas, e que conta com 80
analistas ambientais especializados para função.
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