terça-feira, 11 de setembro de 2012

Risco de derrota de Chávez nas urnas deixa aliados apreensivos


Cuba e Nicarágua seriam parceiros latino-americanos mais afetados com mudança

BUENOS AIRES — A divulgação, nas últimas semanas, de pesquisas que apontam o desgaste do presidente Hugo Chávez na campanha eleitoral venezuelana e o conseqüente fortalecimento do candidato único da oposição, Henrique Capriles Radonski, provocou preocupação em vários governos da região que apostam na continuidade da revolução bolivariana e, principalmente, de uma aliança política que representa uma importantíssima ajuda para suas economias. Não existem dados oficiais, mas um monitoramento realizado pela oposição venezuelana indica que, entre 2005 e 2011, o governo Chávez destinou cerca de US$ 82 bilhões a acordos de cooperação com mais de 40 países, mas principalmente para aliados como Cuba, Nicarágua, Argentina, Bolívia e República Dominicana.

Os temores dos parceiros latino-americanos de Chávez têm fundamento. Capriles já deixou claro que, pelo menos em matéria de política petrolífera, uma eventual vitória da oposição significará mudanças expressivas.
- A partir de 10 de janeiro de 2013 (data marcada para a posse do vencedor das eleições de 7 de outubro), não será dado sequer um barril de petróleo de presente para outros países — declarou recentemente o opositor.

De acordo com números recolhidos pela oposição, o país mais favorecido por sua aliança com a Venezuela foi Cuba, que nos últimos sete anos obteve em torno de US$ 28,5 bilhões. Estima-se que diariamente sejam enviados à ilha 120 mil barris de petróleo venezuelano - subsidiados ou pagos por meio de acordos como o que cede médicos cubanos para atuar na Venezuela. Chávez ajudou a resgatar Cuba do “período especial” de dificuldades econômicas pós-fim da União Soviética, e o temor em Havana é que sua eventual saída de cena faria o país voltar a mergulhar em uma grave crise.

O segundo na lista de beneficiados pelo chavismo é a Nicarágua, com US$ 9,7 bilhões. Os recursos enviados por Chávez permitiram ao governo de Daniel Ortega, por exemplo, subsidiar tarifas elétricas e de transporte público. O terceiro da lista foi a Argentina, com US$ 9,2 bilhões. Grande parte do dinheiro recebido pelos argentinos foi usada para comprar bônus da dívida pública do país (cerca de US$ 6 bilhões), em momentos em que os mercados internacionais estavam fechados para os governos do casal Kirchner.
Uma eventual derrota de Chávez nas urnas, afirmaram analistas locais, não implicaria necessariamente uma ruptura com seus atuais aliados, mas sim uma revisão de todos os entendimentos selados pelo presidente.
- A oposição certamente buscará tornar esses acordos mais transparentes, e o futuro deles dependerá das necessidades da Venezuela, que não está na mesma situação que há alguns anos - afirmou Elza Cardoso, professora de Relações Internacionais da Universidade Central da Venezuela (UCV).
Segundo ela, “sem Chávez no poder, esse tipo de ajuda não dependerá mais da afinidade política, como é hoje”.
- Não teremos mais malas com dinheiro venezuelano circulando pelo mundo - disse Elza, lembrando do famoso escândalo da mala com US$ 800 mil, que veio à tona em agosto de 2007, três meses antes das eleições em que Cristina Kirchner conquistou seu primeiro mandato.
Na época, um empresário venezuelano tentou entrar na Argentina com US$ 800 mil, poucos dias antes de uma visita de Chávez a Buenos Aires. O caso foi investigado e julgado em Miami, onde a Justiça americana determinou que o dinheiro era contribuição de Chávez para a campanha de Cristina. Em 2011, os dois países selaram 11 acordos.

O governo Evo Morales é um dos mais identificados com a revolução bolivariana de Chávez. Em La Paz, analistas locais calculam que esta aliança permitiu ao país obter em torno de US$ 400 milhões, que financiaram obras de infraestrutura no país andino.
- A Venezuela nos concedeu empréstimos pouco transparentes que certamente seriam auditados por um eventual governo opositor - comentou Carlos Cordero, da Universidade Maior de San Andrés.

Venezuela sairá de comissão da OEA
O trabalho de monitoramento dos acordos internacionais de Chávez foi realizado, entre outros, pelo deputado opositor Julio Borges.
- Sabemos que a metade dos acordos está relacionada à venda de petróleo e seus derivados através da aliança Petrocaribe, em condições preferenciais, que representaram um prejuízo em torno de US$ 6 bilhões para a Venezuela - assegurou Borges.

Nesta segunda-feira, a Venezuela informou à Organização dos Estados Americanos (OEA) que irá abandonar a Comissão e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Chávez diz que esses órgãos agem de acordo com os interesses dos EUA.
A Convenção Americana dos Direitos Humanos determina que saída seja comunicada com ano de antecedência. Em nota, a OEA disse esperar que o país, nesse prazo, reconsidere a decisão.

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