Cuba e Nicarágua seriam parceiros
latino-americanos mais afetados com mudança
BUENOS
AIRES — A divulgação, nas últimas semanas, de pesquisas que apontam o desgaste
do presidente Hugo Chávez na campanha eleitoral venezuelana e o conseqüente
fortalecimento do candidato único da oposição, Henrique Capriles Radonski,
provocou preocupação em vários governos da região que apostam na continuidade
da revolução bolivariana e, principalmente, de uma aliança política que
representa uma importantíssima ajuda para suas economias. Não existem dados
oficiais, mas um monitoramento realizado pela oposição venezuelana indica que,
entre 2005 e 2011, o governo Chávez destinou cerca de US$ 82 bilhões a acordos
de cooperação com mais de 40 países, mas principalmente para aliados como Cuba,
Nicarágua, Argentina, Bolívia e República Dominicana.
Os temores dos parceiros latino-americanos de Chávez têm fundamento. Capriles já deixou claro que, pelo menos em matéria de política petrolífera, uma eventual vitória da oposição significará mudanças expressivas.
- A
partir de 10 de janeiro de 2013 (data marcada para a posse do vencedor das
eleições de 7 de outubro), não será dado sequer um barril de petróleo de
presente para outros países — declarou recentemente o opositor.
De
acordo com números recolhidos pela oposição, o país mais favorecido por sua
aliança com a Venezuela foi Cuba, que nos últimos sete anos obteve em torno de
US$ 28,5 bilhões. Estima-se que diariamente sejam enviados à ilha 120 mil
barris de petróleo venezuelano - subsidiados ou pagos por meio de acordos como
o que cede médicos cubanos para atuar na Venezuela. Chávez ajudou a resgatar
Cuba do “período especial” de dificuldades econômicas pós-fim da União
Soviética, e o temor em Havana é que sua eventual saída de cena faria o país
voltar a mergulhar em uma grave crise.
O
segundo na lista de beneficiados pelo chavismo é a Nicarágua, com US$ 9,7
bilhões. Os recursos enviados por Chávez permitiram ao governo de Daniel
Ortega, por exemplo, subsidiar tarifas elétricas e de transporte público. O
terceiro da lista foi a Argentina, com US$ 9,2 bilhões. Grande parte do
dinheiro recebido pelos argentinos foi usada para comprar bônus da dívida
pública do país (cerca de US$ 6 bilhões), em momentos em que os mercados internacionais
estavam fechados para os governos do casal Kirchner.
Uma
eventual derrota de Chávez nas urnas, afirmaram analistas locais, não
implicaria necessariamente uma ruptura com seus atuais aliados, mas sim uma
revisão de todos os entendimentos selados pelo presidente.
- A
oposição certamente buscará tornar esses acordos mais transparentes, e o futuro
deles dependerá das necessidades da Venezuela, que não está na mesma situação
que há alguns anos - afirmou Elza Cardoso, professora de Relações Internacionais
da Universidade Central da Venezuela (UCV).
Segundo
ela, “sem Chávez no poder, esse tipo de
ajuda não dependerá mais da afinidade política, como é hoje”.
- Não
teremos mais malas com dinheiro venezuelano circulando pelo mundo -
disse Elza, lembrando do famoso escândalo da mala com US$ 800 mil, que veio à
tona em agosto de 2007, três meses antes das eleições em que Cristina Kirchner
conquistou seu primeiro mandato.
Na
época, um empresário venezuelano tentou entrar na Argentina com US$ 800 mil,
poucos dias antes de uma visita de Chávez a Buenos Aires. O caso foi
investigado e julgado em Miami, onde a Justiça americana determinou que o
dinheiro era contribuição de Chávez para a campanha de Cristina. Em 2011, os
dois países selaram 11 acordos.
O
governo Evo Morales é um dos mais identificados com a revolução bolivariana de
Chávez. Em La Paz, analistas locais calculam que esta aliança permitiu ao país
obter em torno de US$ 400 milhões, que financiaram obras de infraestrutura no
país andino.
- A
Venezuela nos concedeu empréstimos pouco transparentes que certamente seriam
auditados por um eventual governo opositor - comentou Carlos Cordero,
da Universidade Maior de San Andrés.
Venezuela sairá de comissão da OEA
O
trabalho de monitoramento dos acordos internacionais de Chávez foi realizado,
entre outros, pelo deputado opositor Julio Borges.
- Sabemos que a metade dos acordos está
relacionada à venda de petróleo e seus derivados através da aliança
Petrocaribe, em condições preferenciais, que representaram um prejuízo em torno
de US$ 6 bilhões para a Venezuela - assegurou Borges.
Nesta
segunda-feira, a Venezuela informou à Organização dos Estados Americanos (OEA)
que irá abandonar a Comissão e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Chávez diz que esses órgãos agem de acordo com os interesses dos EUA.
A
Convenção Americana dos Direitos Humanos determina que saída seja comunicada
com ano de antecedência. Em nota, a OEA disse esperar que o país, nesse prazo,
reconsidere a decisão.
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