O governo argentino
apertou ainda mais o cerco ao dólar, imposto a partir de outubro do ano passado
e que afeta também turistas e residentes estrangeiros. A partir de
segunda-feira (13), quem viajar da Argentina aos países vizinhos ou da zona do
euro só poderá adquirir a moeda desses países com autorização prévia da Receita
Federal, que também determina a quantidade que cada viajante poderá levar.
A norma será aplicada
também a pessoas físicas e jurídicas estrangeiras que residam na Argentina. O
viajante terá que informar à Afip (a Receita Federal local) o destino, os
motivos e a duração da estada fora do país. Caso cancele a viagem, terá que
reembolsar as divisas estrangeiras adquiridas em cinco dias úteis.
A medida é a última de uma série de controle de câmbio, que começou a ser adotada em outubro passado, para frear a fuga de capitais da Argentina.
A medida é a última de uma série de controle de câmbio, que começou a ser adotada em outubro passado, para frear a fuga de capitais da Argentina.
“A burocracia é tão
grande que se tornou quase impossível comprar dólar na Argentina”, disse o
economista Fausto Spotorno, “De certa forma, o cerco serviu para frear a fuga
de capitais, mas criou outro problema, o do mercado negro, que não existia, que
vende o dólar 30% mais caro do que no mercado oficial”.
Em 2011, saíram da
Argentina US$ 21 bilhões – uma cifra preocupante para um governo que, ha uma
década, não tem acesso a créditos internacionais e depende das exportações para
obter divisas estrangeiras. A presidenta Cristina Kirchner quer assegurar um
superávit alto na balança comercial, apesar da crise internacional, para fazer
frente aos gastos com importação de energia.
Para alcançar o
objetivo, o governo argentino reduziu as importações, o que diminuiu a saída de
capitais no primeiro semestre deste ano (US$ 5,6 bilhões, bem menos que no ano
passado). “Pelas nossas previsões, a Argentina terá um superávit comercial de
US$ 12 bilhões, US$ 2 bilhões a mais que no ano passado”, disse àAgência Brasil o
analista de comércio exterior, Marcelo Claveri.
Defensor das políticas
protecionistas do governo, que favorecem a indústria nacional, o presidente da
União Industrial Argentina (UIA), Horacio de Mendiguren, acha as medidas de
controle cambial exageradas. “Podem dar resultado, mas dão a impressão de que o
país está em crise, quando não está”. Os argentinos, há décadas, estão acostumados
a poupar em dólar e a guardar o dinheiro em casa ou trancados nos cofres dos
bancos – mas sempre que possível fora do sistema financeiro nacional.
“É a forma que
encontraram para se defender da inflação e da desvalorização. Quando existe
crise de confiança, os argentinos compram dólar”, explicou o banqueiro Alfredo
Piano, dono do Banco Piano. As novas medidas praticamente proibiram a poupança
em dólares.
Em outubro passado, o
governo determinou que quem quisesse comprar a moeda norte-americana (ou qualquer
divisa estrangeira) teria que pedir autorização a Receita Federal e provar que
tem suficientes pesos declarados para fazer a troca. Mas ao longo dos últimos
dez meses, as restrições foram aumentando. O governo agora só permite a venda
de dólares a quem for viajar, fora da região e dos países da zona euro.
As restrições também
afetam os turistas brasileiros, que não podem trocar os pesos que sobram das
viagens por reais. As casas de câmbio só aceitam fazer a troca se o turista
tiver um recibo, provando que trocou reais por pesos na Argentina. Se não
guardou o comprovante do câmbio ou tirou dinheiro de um caixa automático, só
poderá comprar reais no Brasil.
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