segunda-feira, 16 de abril de 2012

Depois de quase amarelar, PT agora banca a CPI

CPI não tem volta, garante o senador Walter Pinheiro (PT/BA), que liderava uma ala do Partido dos Trabalhadores contrária à instalação da comissão; ele, no entanto, pretende restringir o foco das investigações sobre Carlos Cachoeira

“Não tem volta”. Com estas palavras, o senador Walter Pinheiro (PT/BA), que liderava uma ala do PT que parecia disposta a recuar, garantiu que a comissão será instalada. 

O líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), disse que a idéia de criação da CPI do Cachoeira “não tem volta’, mas advertiu que o foco da investigação deve ser “a rede de negócios e informações” que se formou para ganhar dinheiro em vários setores.

Até agora, o bloco governista já coletou 22 assinaturas no Senado, cinco a menos do que é necessário – sem contar as assinaturas do PMDB que seriam coletadas pelo líder da bancada, Renan Calheiros. O PT avalia que pelo menos 50 senadores poderão subscrever a proposta de criação da CPI. Na ausência do presidente José Sarney (PMDB-AP), internado em São Paulo, o pedido da CPÌ mista deverá ser entregue à deputada Rose de Freitas (PMDB-ES), vice-presidente da Câmara.
Para Walter Pinheiro, o negócio de jogo que notabilizou Carlos Cachoeira acabou se tornando uma questão paralela aos negócios maiores.
- Nessas gravações, não se ouve eles trabalhando para legalizar o jogo do bicho, mas era uma rede de informações e negócios nas diversas áreas. Ele foi para o ramo dos fármacos, da construção civil, da pecuária e movimentou muito dinheiro – disse o líder.


O senador Walter Pinheiro (PT-BA) vocalizou, talvez tarde demais, como ele mesmo admitiu, a preocupação de uma grande ala do partido.
"Se mandarem os documentos, e avaliarmos que o que a CPI vai apurar é o que está apurado, aí podemos rediscutir a CPI. Mas confesso que é difícil segurar agora. Podem dizer que é golpe" - disse Pinheiro.

O receio estampado nessas palavras é o de que, na prática, a CPI do Cachoeira, como foi chamada inicialmente, passe a ser a CPI da Delta e, por sua vez, migre para se tornar a CPI sobre as Relações do PT com a Delta. Em outras palavras, o desejo de manter todo o intrincado caso apenas e tão somente no âmbito da Comissão de Ética do Senado revela mais que uma indecisão em relação à própria CPI. Ele manifesta a leitura já consolidada em diferentes setores do partido, especialmente os mais ligados à administração federal, de que, por envolver a maior empreiteira do PAC, a própria Delta, não há como garantir que a CPI não provoque estilhaços em áreas sensíveis da própria administração. A empresa, afinal, gere orçamentos bilionários e tem em seu presidente, Fernando Cavendish, um empresário de métodos absolutamente heterodoxos. Uma vez convocado a depor, e sob risco, como já aconteceu no passado com outros personagens, de sair algemado da CPI se mentir ou omitir, ao irritar deputados e senadores, Cavendish poderá desnudar personagens de todos os partidos, o que inclui os da base aliada da presidente Dilma Rousseff e do próprio PT.
Pinheiro, ao manifestar sua interpretação de que, a depender de documentos, o caso poderia ficar no âmbito de uma comissão destinada apenas a cassar ou não o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), tenta, ao menos, acalmar os ânimos na cúpula do seu partido, que se alinhou, de imediato, ao aceno positivo, pela CPI, do ex-presidente Lula.
Pega de surpresa fora do País, num primeiro momento, quanto visitava o presidente Barack Obama, em Washington, e, nos últimos dias, envolvida na Cúpula das Américas, em Cartagena, só o que a presidente Dilma pode fazer como bombeira foi uma escala de três horas em São Bernando do Campo, onde procurou dizer a Lula que seria melhor ir mais devagar com o andar da CPI.
Como reconhece o próprio senador baiano, agora já parece ser tarde. Assinaturas em número mais que suficiente para instalar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) estarão pousando, amanhã, sobre a mesa da vice-presidente do Senado, Marta Suplicy. Ela não terá outra alternativa a não ser instalar a comissão. Quanto ao seu funcionamento, o que se projeta é uma guerra multipartidária na qual se vai tentar empurrar para o outro as brasas das denúncias, o que poderá causar um incêndio ainda maior de radicalização, com chamas em todas as direções.

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