domingo, 22 de janeiro de 2012

Petróleo, uma caixa preta



Nove em dez vezes o dinheiro do petróleo é um dinheiro maldito.

Por Rodnei Vecchia*
O Brasil apresenta-se mundialmente como detentor potencial de grandes reservas de óleo, líder na produção de biocombustíveis e detentor da tecnologia do ciclo de combustível nuclear. O papel do país pode ser de destaque e liderança jamais imaginados no cenário geopolítico energético mundial, e essa pode finalmente ser a hora e a vez de o país montar no cavalo selado que novamente passa à sua porta. Parece simples, e é, mas para transformar sonhos em realidade faz-se necessário visão de futuro, vontade política, pulso firme e ação empreendedora.

No entanto, fatos deploráveis insistem em permear as manchetes dos meios de comunicação. A Agência Nacional do Petróleo - ANP multou a Petrobras, maior empresa brasileira, em R$ 84,5 milhões pelo repasse incorreto de informações da plataforma P-50, situada no campo de Albacora Leste, na bacia de Campos.

Segundo o processo aberto pela agência, a estatal usou de fatores não aprovados para fazer a medição da produção. Com isso, parte da quantidade de óleo extraído do campo, em operação desde 2006, não foi informada. Estima-se que, no período de 14 meses, a Petrobras tenha deixado de informar a produção de 1,3 milhão de barris. Sem o registro dessa produção, um montante de royalties e demais tributos deixou de ser pago. Atitude lastimável de quem tem que protagonizar exemplos de ética e transparência em todas as suas ações..

As grandes petroleiras mundiais de há muito dominam todo o ciclo, do poço ao posto. Essas companhias optam pelo refino e pela distribuição como propulsores de sua lucratividade, desvalorizando o óleo. Quando tem que dividir os resultados com governos, descontam diversos custos, e ao longo de muitos anos quase nada sobrava de lucro para os países concedentes, configurando-se, então, um modelo tirano e colonial de exploração, que causava baixa qualidade de vida à população desses países.

Ao longo do tempo, as majors, ou big oil, converteram sua descomunal riqueza em mega influência política.  Utilizaram seus vultosos recursos financeiros para infiltrar-se e criar intrincados e obscuros labirintos por todos os poderes estabelecidos de um país. Juntavam-se, fundiam-se e formatavam parcerias para dominar por completo a cadeia produtiva do petróleo, verdadeiros sistemas de truste e cartel. Buscavam obter benefícios fiscais, subsídios, redução de royalties e brechas na lei que as favorecessem.

É o petroimperialismo tirano, que emporcalhou a natureza e também os lugares onde os interesses da indústria controlam países e sociedades. Prosperaram no segredo, na mitomania, na falta de transparência e no controle sobre a informação. Eram ações comuns das majors: ocultação de pagamentos a governos, dissimulação de operações contábeis, influência na mídia para plantar seus interesses, compra e expulsão hostil de concorrentes. Enfim, o cartel internacional do petróleo foi o mais bem-sucedido em termos de conduta anticoncorrência da história, ao realinhar o poder mundial, desestabilizar economias, derrubar governos e agredir o meio ambiente.

Por outro lado, a importância estratégica do petróleo no panorama energético mundial deve também ser atribuída, em grande parte, às grandes companhias petrolíferas privadas. Seus vultosos capitais (maiores que o PIB de muitos países), sua capacidade empresarial e influência política formaram verdadeiros poderes paralelos na economia mundial, que determinaram o ritmo e a forma de crescimento econômico de muitas nações.

A criação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo – Opep em 1960 propiciou a quebra parcial dessa cartelização, e a hegemonia de grandes companhias passou a ser exercida pelos países produtores de petróleo. Era a primeira vez que um cartel de países enfrentava um cartel de empresas.

A dependência de óleo e a volatilidade de seus preços dominam o cenário geopolítico e geram um  estado permanente de conflitos. Potências mundiais preparam-se para futuras guerras, não mais por questões ideológicas ou políticas, mas por lutas intensas por recursos cada vez mais escassos. É cada vez mais premente abrir-se a hermética caixa preta do petróleo.




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