Ponto por ponto II
As razões explicáveis para os lucros rápidos,
exorbitantes e inexplicáveis das empresas privatizadas no período compreendido
entre 1995 a 2002, portanto, durante o governo Fernando Henrique Cardoso.
Obs. Todas as referencias transcritas abaixo são
da época das privatizações.
Leia também:
Ponto por ponto I
Ponto por ponto III
Leia também:
Ponto por ponto I
Ponto por ponto III
Nesta segunda postagem do Ponto por Ponto
trataremos dos seguintes assuntos:
·
CAMPANHA
·
JUSTIFICATIVAS
·
RESULTADO
·
BALANÇO
·
DETALHES
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PREÇOS
·
QUALIDADE
·
DESCONTENTAMENTO
·
DESCULPAS
·
CONIVENCIA
·
NOTA
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LUCRO FÁCIL
CAMPANHA
O governo começou a “preparar o
terreno” com uma intensa campanha contra as estatais nos meios de comunicação,
verdadeira “lavagem cerebral” da população para facilitar as privatizações.
Entre os principais argumentos, apareceu sempre a promessa de que elas trariam
preços mais baixos para o consumidor, “graças à maior eficiência das empresas
privadas”.
JUSTIFICATIVAS
Segundo o governo, a venda das
estatais, serviria para atrair dólares, reduzindo a dívida do Brasil com o
resto do mundo, e “salvando” o real.
O dinheiro arrecadado com as vendas
serviria ainda, segundo o governo, para reduzir também a dívida interna, do
governo federal e dos estados.
RESULTADO
As vendas foram um “negócio da
China” e o governo “engoliu” dívidas de todos os tipos das estatais vendidas;
isto é, a privatização acabou por aumentar a dívida interna. Ao mesmo tempo, as
empresas multinacionais ou brasileiras que “compraram” as estatais não usaram
capital próprio, dinheiro delas mesmas, em vez disso, tomaram empréstimos lá
fora para fechar os negócios. Assim, aumentaram a dívida externa do Brasil.
BALANÇO
A promessa do governo Fernando
Henrique Cardoso foi pura enganação. No caso dos serviços telefônicos e de
energia elétrica, o projeto de governo sempre foi fazer exatamente o contrário,
por baixo do pano, ou na surdina.
DETALHES
Antes de mais nada, é preciso
relembrar um detalhe importante: antes das privatizações, o governo já havia
começado a aumentar as tarifas alucinadamente, para assim garantir imensos
lucros no futuro aos “compradores”, e sem que eles tivessem de enfrentar o
risco de protestos e indignação do consumidor. Para as telefônicas, reajustes
de até 500% a partir de novembro de 1995 e, para as fornecedoras de energia
elétrica, aumentos de 150% ou ainda maiores para as famílias de trabalhadores
que ganham menos, vítimas de mudanças na política de cobrança de tarifas
menores (por quilowatt gasto) nas contas de consumo mais baixo. Tudo isso
aconteceu como “preparativo” para as privatizações, antes dos leilões.
Mas o importante, que sempre foi
escondido da população, é que, em lugar de assinar contratos que obrigassem a
Light e outros “compradores” a reduzir gradualmente as tarifas, como foi obrigatório
em outros países, o governo garantiu que eles teriam direito, no mínimo, a
aumentar as tarifas todos os anos, de acordo com a inflação. Isto é, o governo
fez exatamente o contrário do que jornais, revistas e TVs
diziam ao povo brasileiro, que acreditou em suas mentiras o tempo todo. Além
dessa garantia de reajustes anuais de acordo com a inflação, os “compradores”
das empresas de energia podem também aumentar preços se houver algum
“imprevisto” – como é o caso da maxidesvalorização do real ocorrida no começo
de 1999.
PREÇOS
Os valores cobrados pelas
“compradoras”, apesar dos mega-aumentos ocorridos antes da privatização, a
obrigatoriedade de reduzir as tarifas dos serviços locais, os mais usados pela
população, sobretudo pelo “povão”, somente começaria a partir do ano 2001. Ou
seja, o governo, na surdina, combinou que as tarifas não deveriam cair em 1998,
1999 e 2000. E tem mais: para esses mesmos serviços locais, a queda máxima
“combinada” foi de 4,9% no total.
Quando?
Até 2005. Sete anos depois da
privatização, o consumidor só teria 4,9% de redução acumulada.
Bem ao contrário do que o governo e
os meios de comunicação afirmaram.
QUALIDADE
Outra mentira. O governo enganou a
sociedade, também, com o anúncio de rápida melhoria na qualidade dos serviços e
a promessa de punição para os “compradores” das estatais que não atingissem as
metas definidas nos contratos. Utilizando como exemplos, ainda, os setores de
energia e telefonia, pode-se comprovar essas mentiras. O governo e os meios de
comunicação sempre esconderam que as metas estabelecidas para os “compradores”
das telefônicas somente passariam a valer a partir de dezembro de 1999. Isto é,
na prática, os “compradores” poderiam deixar de atender os consumidores, ou não
melhorar substancialmente os serviços, durante todo o segundo semestre de 1998
e o ano inteiro de 1999.
Por quê?
Como as metas valem somente a
partir do ano 2000, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações),
pretensamente encarregada de fiscalizar o setor, nada poderia fazer contra os
abusos, a não ser advertências. Tudo “combinado” com os “compradores”. Foi
exatamente essa alegação, a de que as metas valeriam somente a partir de 2000,
que a Anatel usou durante quatro meses, de dezembro de 1998 a março de 1999,
para não tomar nenhuma providência contra os desmandos da Telefônica em São
Paulo.
DESCONTENTAMENTO
Somente com um aumento drástico no
número de reclamações da população, desta vez merecedora de atenção dos meios
de comunicação, o governo finalmente se movimentou e puniu estas empresas, com
base na lei que reformulou o sistema de telecomunicações, e havia sido posta de
lado nos contratos.
DESCULPAS
Há quem acreditasse na boa-fé do
governo e julgou que essas estranhas “bondades” foram provocadas apenas por
incompetência.
Há quem preferiu, porém, a hipótese
de que foi tudo um jogo de cartas marcadas, para permitir que os “compradores”
adiassem gastos e investimentos para a melhoria dos serviços.
CONIVENCIA
Para a Light e outras empresas
fornecedoras de energia elétrica, a “bondade” do governo bateu recorde. No caso
da Light, o contrato previu isto mesmo, previu e autorizou a piora dos serviços,
pois permitiu um número maior de blecautes ou “apagões”, e também de
interrupções mais prolongadas no fornecimento de energia.
NOTA
Essa “piora autorizada” foi
denunciada antes mesmo da assinatura do contrato com a Light, por uma
organização não-governamental do Rio, o Grupo de Acompanhamento Institucional
do Sistema de Energia, do qual o físico Luís Pinguelli Rosa era um dos
integrantes.
Como se não bastasse, a multa
fixada para as empresas de energia que desrespeitarem até os limites
“simpáticos” combinados com o governo é absolutamente ridícula.
Quanto?
Apenas 0,1% do faturamento anual.
Ou seja, se a Light, a Eletropaulo ou a Companhia Paulista de Força e Luz
(CPFL) faturassem 1,2 bilhão de reais em um ano, a multa seria de apenas 1,2
milhão de reais.
Entendeu a jogada?
Se as empresas privatizadas
deixassem de investir 100 milhões, 200 milhões ou 400 milhões de reais para
atender os moradores, as indústrias ou as empresas de determinada região ou
cidade, pagariam apenas 1,2 milhão de reais de multa. Isso não era multa. Era
um prêmio do governo aos “compradores”.
LUCRO FÁCIL
Por que Foi tão fácil as
privatizadas lucrarem. Ah, mas as estatais sempre dão prejuízos, tiram dinheiro
da saúde e da educação. Foi incrível como essas empresas deram lucros, logo no
primeiro ano depois da privatização.
Esse argumento também foi
largamente repetido para a população.
Meu caro Dag Vulpi, acompanho seu blog e costumo apesar de não participar ler os debates no grupo Consciencia Política no facebook. E gostaria de ver as postagens que o sr fez sobre o livro do Aluysio Biond debatidas naquele espaçõ.
ResponderExcluirUm abraço.
Paulo