O professor de Ciências Políticas da UnB, Ricardo Caldas, diz que o movimento da presidente é positivo. No entanto, crê que ela terá muita dificuldade para romper com práticas tão danosas e arraigadas, algumas centenárias, como o nepotismo e o apadrinhamento político:
- Lula tem um pouco de razão ao temer o isolamento dela na base, porque, quanto mais a presidente procurar, mais vai encontrar e terá que tomar decisões difíceis. Mas não terá o apoio só da classe média, terá o apoio de todo cidadão honesto que quer o fim da impunidade - disse Caldas.
O cientista político Leonardo Barreto, do Instituto FSB, lembra que, todas as vezes em que um presidente brigou com a classe política tradicional, o desfecho não foi bom, casos dos ex-presidentes Jânio Quadros e Fernando Collor. Considera que Dilma ainda tem muita gordura para queimar e que, se a popularidade continuar alta, sairá em vantagem:
- O que os partidos vão observar na hora de revidar? O nível de popularidade da presidente. Se estiver alto, vão se sentir mais intimidados. Nunca vi no governo Lula editoriais dos grandes jornais apoiando movimento nesse sentido. Então, o primeiro efeito é que Dilma avançará sobre um eleitorado que não é o que a elegeu, que é o de Serra, a classe média e média alta - disse. - Esses partidos, principalmente o PR, não vão migrar para uma oposição aberta. Se um partido da base resolver endurecer, pode sair fragmentado.
Para acalmar os aliados e evitar um isolamento da presidente no Congresso, líderes governistas cobram da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que comece a discutir a abertura do cofre para pagamento de emendas de parlamentares ao Orçamento. Ela também deverá negociar a ocupação de cargos de segundo e terceiro escalões pendentes.
É quase inevitável que a faxina atinja outras áreas, se Dilma está com toda essa disposição.
Mesmo com o Congresso em recesso, o clima entre os governistas é de apreensão com o comportamento de Dilma, que demite sem consultar ou dar satisfações ao PR. Embora a maioria admita que as demissões são necessárias, a previsão é que Dilma enfrentará reações, não só de uma parcela do PR, mas de outros partidos da base, preocupados com a possibilidade de serem as próximas vítimas da faxina.
Adriana Vasconcelos e Maria Lima
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