segunda-feira, 16 de maio de 2011

CHAPLIN

UM BÊBADO ME LEMBROU O ALDIR

É incrível pensar que um personagem como Carlitos, um andarilho pobretão, desengonçado, um ladrão de pequenos furtos tenha conquistado tantas platéias nas primeiras décadas do século passado. Nos dias de hoje, vagabundo não tem mais esse charme. Pobreza é maldição. Nem desempregado recebe mais sua cota de compaixão. Se tiver uma bolsa-família, então, terá boa parte da imprensa contra ele.

Hoje, se eu tivesse que escrever meus filmes, Carlitos teria outro desenho e estaria envolvido em outras situações. Fiz alguns exercícios dentro da lógica atual. Seriam filmes bem mais curtos, já que vagabundo, nos tempos correntes, vive pouco. Um formato ótimo para o YouTube. Só seria melhor se eu soubesse fazer stand up comedy.

Tempos Modernos: Carlitos trabalha numa fábrica. Vem a crise e ele é demitido. Sai pelas ruas a vagar. Encontra uma bandeira (vermelha), que julga ter caído de um caminhão, e chama pelo dono, enquanto acena com ela. Um grupo de militantes surge atrás dele e “junta-se” ao vagabundo. A polícia chega e o toma como líder comunista, mas não o prendem. Fazem algumas piadas, debocham do seu chapéu e de suas ideias, conferem seus documentos e o mandam passear. Nenhum veículo da grande imprensa noticia o movimento “liderado” por Carlitos. O filme acaba por falta de conflito e interesse da sociedade pelas causas políticas e sociais.

O Circo: o vagabundo perambula pela feirinha do circo. Rouba doces de criança, diverte-se olhando os passantes, até que um assaltante rouba uma carteira e a esconde no bolso de Carlitos. Este acaba sendo perseguido por policiais, que o julgam criminoso. E é fugindo do perigo que ele adentra no circo, e o público, julgando tratar-se de mais uma apresentação, o aplaude euforicamente. Só que o Circo era o de Soleil. Não há espaço para amadorismo, nem para direitos autorais livres. Então, diante da ameaça de ser preso, Carlitos cede sua imagem para uma lista de lindos suvenires.

O Garoto: mãe solteira deixa um hospital de caridade com seu filho recém-nascido. Ela percebe que não pode dar para ele todo o cuidado de que necessita. Assim, prende um bilhete junto à criança, pedindo a quem o achar que cuide e ame o seu bebê, e o deixa no banco de trás de um luxuoso carro. Entretanto, o veículo é roubado por dois ladrões que, ao descobrirem o bebê, o abandonam no fundo de uma ruela. Sem saber de nada, um vagabundo faz o seu passeio matinal e encontra o bebê. Inicialmente, sua ideia é a de se livrar da criança, mas diversos fatores sempre o impedem. Então, o garoto, para continuar a ser sustentado, passa a fazer pequenos serviços para Carlitos. Primeiro soltando pipas e depois como avião. Na segunda entrega, o garoto é assassinado para que o filme possa concorrer no Festival do Minuto.

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Dag Vulpi

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