Tribunal recomendou
a rejeição das contas de 2014 do governo e a oposição tentará alimentar o
impeachment. Entenda o que vem a seguir
por Redação — publicado 07/10/2015 03h01
O Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou por unanimidade nesta quarta-feira
7 a rejeição das contas de 2014 do governo Dilma Rousseff. A ação, aprovada por
unanimidade pelos ministros, que seguiram o voto do relator Augusto Nardes, segue agora para o Congresso, que é
quem pode efetivamente aprovar ou não as contas. Pesou na análise as
chamadas "pedaladas fiscais".
Nardes
destacou que houve “afronta de princípios objetivos de comportamentos preconizados
pela Lei de Responsabilidade Fiscal, caracterizando um cenário de desgovernança
fiscal”. Ele também afirmou que o governo criou “uma irreal condição”, que
permitiu um gasto adicional de forma indevida.
Na
última semana, a Advocacia-Geral da União pediu o afastamento de Nardes da relatoria,
após o ministro adiantar-se ao julgamento e afirmar à imprensa que rejeitaria
as contas. Além da violação a Lei Orgânica de Magistratura, o ministro surge
também como suspeito nas investigações da Operação Zelotes. Ele teria recebido aproximadamente 1,8 milhões de reais da SGR Consultoria por um suposto envolvimento com o
esquema fraudulento de anulação de dívidas fiscais.
Entenda
melhor os principais temas ligados ao julgamento:
O que são as pedaladas
fiscais?
"Pedalada
fiscal" é o nome dado à prática do Tesouro Nacional de atrasar de forma
proposital o repasse de dinheiro para bancos (públicos e privados)
financiadores de despesas do governo com benefícios sociais e
previdenciários como o Bolsa Família, abono salariais e o
seguro-desemprego.
Esses
atrasos ajudam a fechar as contas de um determinado mês ou até de um ano
fiscal, uma vez que joga a conta para o período seguinte. As
"pedaladas" também podem acontecer com autarquias, como o
INSS. Segundo o TCU, cerca de 40 bilhões de reais estiveram envolvidos
nessas manobras entre 2012 e 2014.
Para quê servem as tais
pedaladas?
As
"pedaladas" ajudam a maquiar as contas do governo, podendo ser usadas
para aumentar o superávit primário (economia feita para pagar os juros da
dívida pública) ou impedir um déficit primário maior (quando as despesas
são maiores que as receitas).
Ao
atrasar os repasses aos bancos, o governo apresentava indicadores
econômicos melhores do que realmente eram e, assim, confundia o mercado
financeiro e especialistas em contas públicas.
Por que o governo fez isso?
O
ano de 2014 foi especialmente ruim para as contas do governo. Por ser ano
eleitoral, a União aumentou seus gastos ao mesmo tempo em que teve de socorrer
o setor energético e viu sua arrecadação despencar devido à desaceleração
econômica e às novas desonerações de impostos para alguns setores econômicos.
Uso
então as "pedaladas" para tentar cumprir a meta fiscal apresentada no
início do ano. Mesmo com as manobras fiscais, a conta do governo não fechou e o
Planalto foi obrigado a enviar um projeto de lei ao Congresso Nacional
para alterar os objetivos antes propostos.
Dilma foi a primeira
presidente a fazer as pedaladas?
Não.
Segundo a Advocacia Geral da União (AGU), esta prática ocorre desde 2000.
Ou seja, desde o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), passando
pelos dois mandatos do ex-presidente Lula (PT) e o primeiro de Dilma.
Qual o caminho das contas a
partir de agora?
O
TCU recomendou por unanimidade a rejeição das contas 2014. Quem pode
rejeitá-las de fato é o Congresso Nacional, a única instituição com esse poder.
No entanto, o julgamento político dos parlamentares deve ser influenciado pelo
parecer do tribunal.
O
parecer do TCU é encaminhado para a Comissão Mista de Orçamento, formada
por deputados e senadores, que decidirá se as "pedaladas fiscais"
ferem a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Após
a avaliação da comissão, o texto segue para o plenário da Câmara e do Senado,
onde acontece o julgamento político do governo. Caso as contas do governo
realmente sejam rejeitadas, a presidenta Dilma Rousseff pode ser alvo de um
processo de impeachment.
Alguma prestação de contas
de outro presidente já foi rejeitada?
Nunca.
O presidente que mais próximo esteve de ter as contas de seu governo rejeitadas
foi Getúlio Vargas. Em 1937, durante a ditadura Vargas, o ministro do TCU
Carlos Thompson Flores apresentou parecer pedindo a rejeição das contas do
governo do ano anterior. No entanto, o plenário da corte não seguiu a
orientação do relator e aprovou as contas de Vargas.
Há um risco real de
impeachment?
Em
tese sim, mas derrubar um presidente não é algo tão simples, e o governo
reforçou sua base parlamentar após a recente reforma ministerial. Com a
recomendação de rejeição do TCU, é o momento de o Planalto testar sua “nova” maioria no Congresso.
O
problema é que o primeiro teste de fidelidade da base governista após a reforma
ministerial, decepcionou o governo. Ao anunciar que votaria os vetos
presidenciais, conhecidos como "pauta-bomba", o governo viu o
Congresso esvaziado e sem o quórum mínimo necessário para deliberar sobre a
questão.
A
votação acabou adiada pela terceira vez. A disputa pode também ir parar no
Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo o entendimento do ex-ministro do STF,
Ayres Britto, a análise das contas de 2014 pelo TCU pode tornar Dilma
inelegível no futuro, mas não provocar seu impeachment porque não houve crime
de responsabilidade no atual mandato.
Por que a AGU pediu o
afastamento do relator, Augusto Nardes, e o que isso tem a ver com este caso?
A
Advocacia-Geral da União argumenta que Augusto Nardes cometeu uma
irregularidade ao manifestar sua opinião e antecipar publicamente seu voto
sobre as "pedaladas fiscais". Na visão do ministro Luís Inácio
Adams, chefe da AGU, o regimento interno do TCU e a Lei Orgânica da
Magistratura proíbem os juízes de emitir opinião sobre processos que estão
conduzindo.
Segundo
o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Edinho Silva (PT-SP), a
ação da AGU contra Nardes é "um grito de alerta" sobre a
"partidarização das instituições".
Quem é Augusto
Nardes?
Augusto
Nardes é um dos seis ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) e foi
ex-deputado federal pelo Partido Progressista (PP) do Rio Grande do Sul. Em
2005, o então líder da bancada de deputados federais do PP e um dos articuladores
do esquema investigado pela Operação Lava Jato, o falecido José Janene, indicou o nome de Nardes para o
TCU. Recentemente, o nome de Nardes foi mencionado durante as investigações
da Operação Zelotes, que apura um esquema de
corrupção destinado a anular a cobrança de bilhões em tributos federais.
O que é o TCU e para que
ele serve?
A
Constituição Federal de 1988 conferiu ao TCU o papel de auxiliar o Congresso no
exercício do controle externo. Em resumo, cabe ao tribunal apreciar as
contas, despesas e repasses financeiros da União e todos os seus braços.
O que é a AGU e para que
ela serve?
A
Advocacia-Geral da União é o órgão mais elevado de assessoramento jurídico do
Poder Executivo e também está prevista pela Constituição Federal. Cabe à AGU
auxiliar o presidente da República em todos os assuntos de jurídicos e
garantir a legalidade dos atos do governo.
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