sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024
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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024
A Polarização Política Pós-2013 e a Ascensão da Truculência Direitista no Cenário Eleitoral Brasileiro
Dag Vulpi
Após os eventos marcantes de 2013, que culminaram no impeachment da presidente Dilma em 2016 e na prisão do ex-presidente Lula pela Lava Jato em 2018, observou-se uma transformação significativa no cenário político brasileiro. Grupos de direita, antes confinados ao mundo virtual, emergiram como protagonistas no processo eleitoral, destacando-se por sua intensa oposição ao PT. O discurso adotado, permeado por rótulos da Guerra Fria e termos modernos igualmente controversos, trouxe consigo uma onda de verborragia discriminatória e uma polarização que atingiu níveis preocupantes.
Nos anos que se seguiram aos conturbados eventos de 2013, o panorama político brasileiro experimentou uma metamorfose que foi além das mudanças no poder. Grupos de direita, uma vez relegados aos confins da internet, emergiram como atores-chave no cenário eleitoral, com uma agenda voltada para o combate ferrenho ao Partido dos Trabalhadores (PT). O impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016, e a subsequente prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2018, serviram como catalisadores para a ascensão desses grupos.
A retórica adotada pelos adeptos da direita extrapolou os limites do debate político saudável. Utilizando rótulos da Guerra Fria, como "comunistas", e termos modernos, como "bolivarianos", os críticos do PT construíram um discurso que ia além da mera discordância ideológica. A verborragia discriminatória atingiu proporções alarmantes, transformando a insatisfação em rancor e, posteriormente, em ódio.
A medida que as eleições se aproximavam, testemunhamos um fenômeno perturbador: casos de constrangimento em função de preferência política tornaram-se corriqueiros, enquanto relatos de violência verbal e até física em manifestações políticas ganhavam as manchetes. A disputa presidencial, longe de ser apenas uma troca de ideias e propostas, transformou-se em um campo de batalha onde a agressividade atingiu níveis raramente vistos.
Este fenômeno complexo exige uma análise mais profunda. Como a polarização política impacta a sociedade brasileira? Como podemos reconciliar diferenças e construir um diálogo mais saudável em meio a tanta hostilidade? Estas são questões cruciais que devemos enfrentar enquanto navegamos pelo turbulento cenário político do Brasil pós-2013.
sábado, 3 de fevereiro de 2024
Perspectivas Filosóficas Sobre a Construção, Organização e Formação da Mente
Dag Vulpi
Desde o século XVII até o final do século XIX, filósofos como John Locke, Immanuel Kant e Wilhelm Wundt lançaram as bases para compreendermos as complexidades da mente humana, explorando a origem do conhecimento, os mecanismos da cognição, percepção, apercepção e o processo de organização dos elementos mentais. Cada pensador, em sua época, desafiou paradigmas estabelecidos, contribuindo para uma narrativa evolutiva que moldou nossa compreensão da mente e da experiência humana.
Ao longo dos séculos, filósofos influentes foram protagonistas na jornada da compreensão humana. John Locke, no século XVII, redefiniu a aquisição do conhecimento ao negar ideias inatas, propondo uma "lousa vazia" pronta para ser preenchida pela experiência. No século XVIII, Immanuel Kant revelou a percepção como uma construção ativa, desafiando a visão tradicional de que era simplesmente a soma de partes sensoriais. No mesmo caminho, Wilhelm Wundt, no final do século XIX, desvendou a apercepção, defendendo que a organização dos elementos mentais cria compostos psíquicos únicos, transcendendo a simples soma de características.
Essas perspectivas filosóficas, entrelaçadas no tempo, formam uma tapeçaria complexa de ideias sobre como a mente humana adquire conhecimento, interpreta o mundo ao seu redor e organiza seus pensamentos. Cada filósofo contribuiu com uma peça única para esse quebra-cabeça, desencadeando reflexões que ecoam até os dias atuais. Nesse contexto, a busca pelo entendimento da mente humana continua a desafiar, inspirar e moldar nosso percurso intelectual.
COGNIÇÃO
No século XVII, o filósofo inglês John Locke traçou os alicerces da compreensão do processo cognitivo ao desafiar as ideias contemporâneas sobre a origem do conhecimento. Locke, em sua obra visionária, delineou uma abordagem revolucionária que moldaria o entendimento da mente humana por gerações.
John Locke, um dos grandes pensadores do Iluminismo, deixou um impacto duradouro na compreensão da mente humana e do processo cognitivo. Ao contrário de contemporâneos que sustentavam a existência de ideias inatas, Locke postulou que a mente, ao nascer, é uma "tabula rasa" - uma lousa vazia, desprovida de conhecimento prévio.
Para Locke, o processo cognitivo começa com a experiência sensorial. Ele argumentava que todas as ideias derivam da sensação ou reflexão, sendo a sensação proveniente da experiência direta com o mundo físico e a reflexão originada da mente revisando e organizando essas experiências.
A mente, segundo Locke, age como uma operária ativa, organizando e combinando as impressões sensoriais para formar ideias mais complexas. Esse processo de sensação e reflexão é fundamental para a construção do conhecimento, e Locke enfatizava a importância de experiências tangíveis na formação das ideias.
O filósofo acreditava que as ideias resultantes não são simples reproduções das sensações originais, mas sim uma síntese criativa. A mente, ao refletir sobre as sensações, gera conceitos e abstrações cada vez mais complexos. Dessa forma, o processo cognitivo, para Locke, é uma atividade dinâmica e contínua, moldando a mente ao longo da vida.
As contribuições de Locke para a psicologia cognitiva e a filosofia da mente são inegáveis. Sua visão da mente como uma "tabula rasa" influenciou futuros pensadores, incluindo empiristas e behavioristas. Ao descrever o processo cognitivo como uma construção ativa a partir da experiência, Locke forneceu um alicerce crucial para a compreensão moderna da mente humana e da forma como adquirimos conhecimento.
PERCEPÇÃO
No século XVIII, o filósofo alemão Immanuel Kant lançou luz sobre os complexos mecanismos da percepção humana, desafiando visões tradicionais e propondo uma abordagem revolucionária. Kant argumentava que a experiência de um objeto não é simplesmente a soma de suas partes sensoriais, mas uma construção ativa da mente.
Immanuel Kant, figura central no Iluminismo, deixou um legado impactante ao abordar o processo de percepção humana com uma perspectiva inovadora. Diferentemente de seus predecessores, Kant propôs que a percepção não é uma mera soma de partes sensoriais, mas uma organização ativa desses elementos pela mente.
Para Kant, a mente humana não é uma simples espectadora do mundo, mas uma participante ativa na construção do significado. Ele introduziu o conceito de "a priori" e "a posteriori", argumentando que a mente contribui com estruturas inatas ("a priori") que moldam a percepção, mas ainda assim, essa percepção é enriquecida por experiências sensoriais específicas ("a posteriori").
Kant rejeitou a ideia de que conhecemos o mundo exatamente como ele é em si mesmo, propondo que percebemos o mundo através de categorias mentais inatas. Ele destacou a importância da subjetividade na percepção, argumentando que a mente não é uma tela passiva, mas sim um participante ativo na criação do significado.
A percepção, para Kant, envolve uma síntese ativa dos dados sensoriais, organizados pela mente para formar uma experiência unificada. Essa abordagem revolucionária influenciou não apenas a filosofia, mas também campos como a psicologia cognitiva e a neurociência.
As ideias de Kant sobre o processo de percepção desencadearam um debate duradouro sobre a natureza da realidade e a contribuição da mente na construção do conhecimento. Seu legado persiste como um marco na compreensão da percepção humana, desafiando-nos a considerar não apenas o que percebemos, mas como participamos ativamente na criação do nosso mundo perceptivo.
APERCEPÇÃO
No final do século XIX, o psicólogo alemão Wilhelm Wundt lançou as bases para uma compreensão mais profunda da mente humana com sua teoria inovadora da apercepção. Wundt argumentou que o processo de organização dos elementos mentais não era uma simples soma, mas uma síntese criativa que dava origem a novas propriedades.
Wilhelm Wundt, muitas vezes considerado o pai da psicologia experimental, deixou uma marca indelével ao introduzir a teoria da apercepção no final do século XIX. Contrariando visões contemporâneas que reduziam a mente a uma soma de partes isoladas, Wundt defendeu que o processo de organização dos elementos mentais formava uma síntese criativa, gerando propriedades únicas nos compostos psíquicos resultantes.
A apercepção, segundo Wundt, era mais do que uma simples percepção; era a capacidade da mente de interpretar, organizar e atribuir significado aos estímulos sensoriais. Ele propôs que a mente desempenhava um papel ativo na síntese dos elementos, transcendendo a simples combinação de partes. Essa síntese criativa não apenas organizava os elementos mentais, mas também conferia novas características aos compostos psíquicos que emergiam desse processo.
A lei das resultantes psíquicas, como formulada por Wundt, encontrava expressão nas funções aperceptivas, que envolviam atividades como imaginação e compreensão. A mente, ao interpretar os estímulos sensoriais, atribuía-lhes significado com base nas experiências pessoais, emoções e conhecimento acumulado.
A teoria da apercepção de Wundt contribuiu significativamente para a psicologia ao enfatizar a natureza ativa e dinâmica da mente humana. Suas ideias influenciaram não apenas a psicologia experimental, mas também contribuíram para o desenvolvimento de abordagens mais abrangentes, como a psicologia cognitiva. A compreensão da apercepção como um processo de síntese criativa continua a moldar a forma como percebemos a mente e sua capacidade única de dar significado ao mundo ao nosso redor.
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Dag Vulpi