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sábado, 3 de fevereiro de 2024

Perspectivas Filosóficas Sobre a Construção, Organização e Formação da Mente


Dag Vulpi

Desde o século XVII até o final do século XIX, filósofos como John Locke, Immanuel Kant e Wilhelm Wundt lançaram as bases para compreendermos as complexidades da mente humana, explorando a origem do conhecimento, os mecanismos da cognição, percepção, apercepção e o processo de organização dos elementos mentais. Cada pensador, em sua época, desafiou paradigmas estabelecidos, contribuindo para uma narrativa evolutiva que moldou nossa compreensão da mente e da experiência humana.

Ao longo dos séculos, filósofos influentes foram protagonistas na jornada da compreensão humana. John Locke, no século XVII, redefiniu a aquisição do conhecimento ao negar ideias inatas, propondo uma "lousa vazia" pronta para ser preenchida pela experiência. No século XVIII, Immanuel Kant revelou a percepção como uma construção ativa, desafiando a visão tradicional de que era simplesmente a soma de partes sensoriais. No mesmo caminho, Wilhelm Wundt, no final do século XIX, desvendou a apercepção, defendendo que a organização dos elementos mentais cria compostos psíquicos únicos, transcendendo a simples soma de características.

Essas perspectivas filosóficas, entrelaçadas no tempo, formam uma tapeçaria complexa de ideias sobre como a mente humana adquire conhecimento, interpreta o mundo ao seu redor e organiza seus pensamentos. Cada filósofo contribuiu com uma peça única para esse quebra-cabeça, desencadeando reflexões que ecoam até os dias atuais. Nesse contexto, a busca pelo entendimento da mente humana continua a desafiar, inspirar e moldar nosso percurso intelectual.

COGNIÇÃO

No século XVII, o filósofo inglês John Locke traçou os alicerces da compreensão do processo cognitivo ao desafiar as ideias contemporâneas sobre a origem do conhecimento. Locke, em sua obra visionária, delineou uma abordagem revolucionária que moldaria o entendimento da mente humana por gerações.

John Locke, um dos grandes pensadores do Iluminismo, deixou um impacto duradouro na compreensão da mente humana e do processo cognitivo. Ao contrário de contemporâneos que sustentavam a existência de ideias inatas, Locke postulou que a mente, ao nascer, é uma "tabula rasa" - uma lousa vazia, desprovida de conhecimento prévio.

Para Locke, o processo cognitivo começa com a experiência sensorial. Ele argumentava que todas as ideias derivam da sensação ou reflexão, sendo a sensação proveniente da experiência direta com o mundo físico e a reflexão originada da mente revisando e organizando essas experiências.

A mente, segundo Locke, age como uma operária ativa, organizando e combinando as impressões sensoriais para formar ideias mais complexas. Esse processo de sensação e reflexão é fundamental para a construção do conhecimento, e Locke enfatizava a importância de experiências tangíveis na formação das ideias.

O filósofo acreditava que as ideias resultantes não são simples reproduções das sensações originais, mas sim uma síntese criativa. A mente, ao refletir sobre as sensações, gera conceitos e abstrações cada vez mais complexos. Dessa forma, o processo cognitivo, para Locke, é uma atividade dinâmica e contínua, moldando a mente ao longo da vida.

As contribuições de Locke para a psicologia cognitiva e a filosofia da mente são inegáveis. Sua visão da mente como uma "tabula rasa" influenciou futuros pensadores, incluindo empiristas e behavioristas. Ao descrever o processo cognitivo como uma construção ativa a partir da experiência, Locke forneceu um alicerce crucial para a compreensão moderna da mente humana e da forma como adquirimos conhecimento.

PERCEPÇÃO

No século XVIII, o filósofo alemão Immanuel Kant lançou luz sobre os complexos mecanismos da percepção humana, desafiando visões tradicionais e propondo uma abordagem revolucionária. Kant argumentava que a experiência de um objeto não é simplesmente a soma de suas partes sensoriais, mas uma construção ativa da mente.

Immanuel Kant, figura central no Iluminismo, deixou um legado impactante ao abordar o processo de percepção humana com uma perspectiva inovadora. Diferentemente de seus predecessores, Kant propôs que a percepção não é uma mera soma de partes sensoriais, mas uma organização ativa desses elementos pela mente.

Para Kant, a mente humana não é uma simples espectadora do mundo, mas uma participante ativa na construção do significado. Ele introduziu o conceito de "a priori" e "a posteriori", argumentando que a mente contribui com estruturas inatas ("a priori") que moldam a percepção, mas ainda assim, essa percepção é enriquecida por experiências sensoriais específicas ("a posteriori").

Kant rejeitou a ideia de que conhecemos o mundo exatamente como ele é em si mesmo, propondo que percebemos o mundo através de categorias mentais inatas. Ele destacou a importância da subjetividade na percepção, argumentando que a mente não é uma tela passiva, mas sim um participante ativo na criação do significado.

A percepção, para Kant, envolve uma síntese ativa dos dados sensoriais, organizados pela mente para formar uma experiência unificada. Essa abordagem revolucionária influenciou não apenas a filosofia, mas também campos como a psicologia cognitiva e a neurociência.

As ideias de Kant sobre o processo de percepção desencadearam um debate duradouro sobre a natureza da realidade e a contribuição da mente na construção do conhecimento. Seu legado persiste como um marco na compreensão da percepção humana, desafiando-nos a considerar não apenas o que percebemos, mas como participamos ativamente na criação do nosso mundo perceptivo.

APERCEPÇÃO

No final do século XIX, o psicólogo alemão Wilhelm Wundt lançou as bases para uma compreensão mais profunda da mente humana com sua teoria inovadora da apercepção. Wundt argumentou que o processo de organização dos elementos mentais não era uma simples soma, mas uma síntese criativa que dava origem a novas propriedades.

Wilhelm Wundt, muitas vezes considerado o pai da psicologia experimental, deixou uma marca indelével ao introduzir a teoria da apercepção no final do século XIX. Contrariando visões contemporâneas que reduziam a mente a uma soma de partes isoladas, Wundt defendeu que o processo de organização dos elementos mentais formava uma síntese criativa, gerando propriedades únicas nos compostos psíquicos resultantes.

A apercepção, segundo Wundt, era mais do que uma simples percepção; era a capacidade da mente de interpretar, organizar e atribuir significado aos estímulos sensoriais. Ele propôs que a mente desempenhava um papel ativo na síntese dos elementos, transcendendo a simples combinação de partes. Essa síntese criativa não apenas organizava os elementos mentais, mas também conferia novas características aos compostos psíquicos que emergiam desse processo.

A lei das resultantes psíquicas, como formulada por Wundt, encontrava expressão nas funções aperceptivas, que envolviam atividades como imaginação e compreensão. A mente, ao interpretar os estímulos sensoriais, atribuía-lhes significado com base nas experiências pessoais, emoções e conhecimento acumulado.

A teoria da apercepção de Wundt contribuiu significativamente para a psicologia ao enfatizar a natureza ativa e dinâmica da mente humana. Suas ideias influenciaram não apenas a psicologia experimental, mas também contribuíram para o desenvolvimento de abordagens mais abrangentes, como a psicologia cognitiva. A compreensão da apercepção como um processo de síntese criativa continua a moldar a forma como percebemos a mente e sua capacidade única de dar significado ao mundo ao nosso redor.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Cognição, Percepção e Apercepção


Por Geraldo Magela Machado

Cognição

Um dos grandes estudiosos do processo de aquisição do conhecimento foi John Locke (1632-1704) que tinha como interesse principal o processo cognitivo, ou seja, a forma como a mente adquire o conhecimento. Locke rejeitava a ideia de Descartes sobre a existência de ideias inatas, apresentando o argumento de que o ser humano nascia sem nenhum conhecimento prévio, argumento este já defendido pelo filósofo Aristóteles, que dizia ser o homem uma tabula rasa ou lousa vazia, ao nascer.

Nessa “lousa vazia”, as sensações e impressões do mundo eram registradas. Locke admitia que alguns conceitos, como a percepção de Deus, eram inatos para os adultos, mas somente porque era ensinado na infância e não nos lembramos do tempo em que não tínhamos conhecimento deles. Essa aparente existência de idéias inatas era explicada por Locke, pelo conceito de aprendizagem e hábito. Daí surge a questão: Como a mente adquire o conhecimento?

Locke, assim como Aristóteles, acreditava que a mente adquire conhecimento através das experiências pelas quais passa. Ele admitia dois tipos de experiências: a da sensação e da reflexão.

As idéias resultantes da sensação, derivadas da experiência sensorial (dos sentidos) direta com objetos físicos presentes no ambiente, são simples impressões do sentido, operando na mente, que também opera nas sensações, fazendo uma reflexão para formar as idéias. Essa função cognitiva ou mental da reflexão como fonte de conceitos depende da experiência sensorial, uma vez que as ideias produzidas pela mente tem como base as impressões anteriormente percebidas pelos sentidos.

Durante a vida, através de experiências dos sentidos, vamos montando nosso repertório de sensações e este repertório é necessário ao ato de reflexão, pois sem a existência de um reservatório de impressões sensoriais, não há como a mente refletir sobre elas. Durante a reflexão, resgatamos as impressões sensoriais passadas e refletimos sobre elas, combinando-as para formar abstrações de nível cada vez mais superior. Toda abstração é fruto da sensação e da reflexão.

Percepção

Um dos mais famosos estudiosos do processo de percepção foi o alemão Immanuel Kant (1724-1804). Kant dizia que quando percebemos o que chamamos de objeto, encontramos os estados mentais que parecem compostos de partes e pedaços. Para ele, estes elementos são organizados de forma que tenham algum sentido, e não simplesmente por meio de processos de associação.

Durante o processo de percepção, a mente cria uma experiência completa. Assim, a percepção não é uma impressão passiva e uma combinação de elementos sensoriais, mas uma organização ativa dos elementos, de modo a formar uma experiência coerente.

Ernest Mach (1838-1916) discutia as sensações do ponto de vista espacial e temporal e dizia que elas não dependiam dos elementos individuais, por exemplo, que a área do espaço de um círculo pode ser preta ou branca, grande ou pequena, mas ainda manterá a qualidade elementar circular. Ele dizia, ainda, que um objeto não muda, mesmo que modifiquemos nossa orientação em relação a ele. Assim, uma mesa será sempre uma mesa, mesmo se a olharmos de cima, de lado ou de qualquer outro ângulo. Da mesma forma um som será percebido da mesma forma, mesmo que tocado de maneira mais lenta ou rápida.

Uma influência muito forte sobre o conceito de percepção foi feito pela fenomenologia, doutrina baseada na descrição das experiências de forma imparcial, sem qualquer juízo de valor ou crítica, tal como ela ocorre. A experiência não é analisada, nem reduzida aos seus elementos ou abstraída de alguma forma artificial. Ela envolve uma experiência quase que ingênua de senso comum e não uma experiência relatada por um observador treinado, dotado de orientação ou tendência sistemática.

Outra experiência importante foi realizada por Max Wertheimer, que consiste na descrição do movimento aparente, que é a percepção de movimento quando não há o movimento físico real. Essa percepção pode ser confirmada pela observação, hoje, de letreiros luminosos onde as letras parecem mover-se no painel, quando na verdade, um ponto luminoso se apaga e o ponto ao lado se acende.

Apercepção

É o processo através do qual os elementos mentais são organizados. A doutrina da apercepção foi desenvolvida por Wundt, que dizia que o processo de organização dos elementos mentais formando uma unidade, é uma síntese criativa, que cria novas propriedades mediante a mistura ou combinação dos elementos.

Ele declarou que todo composto psíquico é dotado de características que não são a mera soma das características dos elementos que o formam. Tal declaração deu origem a famosa frase: a totalidade não é igual a soma de suas partes. Isso pode ser provado pela química, onde a combinação de elementos químicos faz surgir compostos com propriedades que não se encontram nos elementos separadamente.
Assim, uma experiência sensorial pode ter diferentes relatos dos sujeitos envolvidos, não sendo nenhum deles incorreto, uma vez que em toda experiência haverá muito de atributos afetivos e ideacionais (aquilo que o sujeito tem como ideal para si) e que a soma de seus elementos componentes, gera um novo composto psíquico, diferente dos elementos isoladamente.

A lei das resultantes psíquicas ou síntese criativa encontra expressão nas funções aperceptivas e nas atividades de imaginação e compreensão. É a capacidade de interpretação dos estímulos sensoriais atribuindo-lhe significado, com base nas experiências pessoais do sujeito, suas emoções e seu conhecimento do mundo.

A apercepção é responsável pela significação da coisa ou do que é a coisa em si. Neste caso, se a essência das coisas é determinada mais pelo pensamento e emoção que pela percepção neurológica, esta (a essência das coisas) será sempre pessoal e individual, então o significado essencial das coisas será igualmente pessoal e individual.

Do InfoEscola


Bibliografia:
História da Psicologia Moderna - SCHULTZ, Duane P.; SCHULTZ, Sydney Ellen - 9ª edição - Editora Cengage Learning - São Paulo, 2009.

Sobre o Blog

Este é um blog de ideias e notícias. Mas também de literatura, música, humor, boas histórias, bons personagens, boa comida e alguma memória. Este e um canal democrático e apartidário. Não se fundamenta em viés políticos, sejam direcionados para a Esquerda, Centro ou Direita.

Os conteúdos dos textos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores, e nem sempre traduzem com fidelidade a forma como o autor do blog interpreta aquele tema.

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