segunda-feira, 14 de maio de 2018

Popular e de difícil controle, WhatsApp mira notícias falsas



Mensageiro tem sido considerado a maior ameaça na geração de desinformação política

O WhatsApp armou uma estratégia em três frentes para se contrapor às notícias falsas no ano eleitoral, no Brasil. O aplicativo de mensagens, que pertence ao Facebook e se assemelha a uma rede social pela propagação de informações por meio de grupos, passou dos 120 milhões de usuários no Brasil e agora é visto como a maior ameaça na geração de desinformação política.

Pelo que a reportagem apurou, a plataforma vai buscar um primeiro grupo de ações voltadas aos usuários, estimulando-os a reportar casos de conteúdo indesejado e a bloqueá-los. Prevê também modificar sua própria ferramenta para evidenciar quando a mensagem é uma retransmissão, como acontece com e-mails.

Na segunda frente, o WhatsApp recorrerá a mecanismos que já tem para detectar spam via metadados, sinais como a transmissão de número inusitadamente alto de mensagens, que servirão de base para identificar eventuais fontes de conteúdo malicioso.

Na terceira, a plataforma -sediada nos EUA e sem representação formal no Brasil- busca maior proximidade com a Justiça Eleitoral e outros órgãos públicos, visando responder mais prontamente a ordens "válidas" que apontem tentativas de manipulação eleitoral e disseminação de notícias falsas.

A integração das frentes permitirá ao WhatsApp, sobretudo nos momentos críticos do processo eleitoral, bloquear usuários mal-intencionados.

Diferentemente de Facebook e outras redes, as mensagens no aplicativo são criptografadas, codificadas, impedindo o acesso ao conteúdo por terceiros, inclusive a própria plataforma. Ações indiretas foram a saída do WhatsApp para responder aos questionamentos crescentes de que estimula "fake news".

Ouvido sobre o projeto da plataforma para as eleições brasileiras, o jornalista Edgard Matsuki, cujo site de checagem Boatos.org se dedica desde 2016 às notícias propagadas no WhatsApp, avalia que ele "tende a minimizar um problema que está tendo atenção muito grande", mas o foco deve ser no usuário." É importante pensar para além das plataformas", diz. "Se as próprias pessoas não tiverem consciência de que compartilhar notícia falsa é nocivo, que boatos têm uma gravidade na internet, não adianta WhatsApp, Facebook, YouTube tomarem essas medidas."

Ele vê na primeira frente de ação, com o estímulo às denúncias pelos usuários, o caminho mais promissor.

Pablo Ortellado, professor da USP e colunista da Folha de S.Paulo, é ainda menos otimista, avaliando que muito do que o WhatsApp pretende "é para dizer que está fazendo alguma coisa, é enxugar gelo".

Ele acredita que as ações da plataforma vão se concentrar em combater "aquela coisa de comprar uma base [de usuários] na Santa Ifigênia [centro comercial de eletrônicos em SP] e jogar spam para todo mundo. Vão tentar ver quando um cara está mandando para centenas e interrompê-lo".

Mas isso é só parte do problema. "Os boatos políticos têm a maneira mais insidiosa, do ator malicioso que está semeando em diversos grupos, numa dinâmica muito lenta, de deixar a coisa correr sozinha", diz. Contra isso, a estratégia do WhatsApp teria pouco ou nenhum efeito. Com informações da Folhapress. 

sábado, 12 de maio de 2018

Facebook anuncia programa contra 'fake news' no ano eleitoral



Plataforma vai usar agências de checagem de notícias que forem denunciadas,

A seis meses das eleições, o Facebook anunciou que iniciará na próxima semana, no Brasil, um programa de verificação de notícias em parceria com as agências de checagem Lupa e Aos Fatos.

Segundo a plataforma, os dois serviços, ligados à International Fact-Checking Network (IFCN), rede de checadores organizada pelo instituto Poynter (EUA), terão acesso às notícias denunciadas como falsas pelos usuários.

Aquelas que as agências confirmarem como falsas "terão sua distribuição orgânica reduzida de forma significativa", não podendo mais ser impulsionadas, diz o Facebook.

E "páginas que repetidamente compartilharem notícias falsas terão todo o seu alcance diminuído", não podendo mais comprar anúncio para aumentar suas audiências.

Nos EUA, segundo a plataforma, um programa semelhante teria reduzido "em até 80%" a distribuição daquelas notícias confirmadas como falsas pelos checadores.

Responsável no Facebook por parcerias com veículos de mídia latino-americanos, Cláudia Gurfinkel afirma que o programa "é mais um passo" nos esforços da plataforma para combater "fake news".

Cristina Tardáguila, diretora da Agência Lupa, que publica uma coluna na, afirma ter entrado no programa "acreditando fortemente no impacto que ele terá, ainda mais num ano eleitoral".

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Bolsonaro é condenado por discurso preconceituoso contra quilombolas



O deputado federal disse que pessoas do quilombo atrapalhavam a economia e "não serviam para procriar"

São Paulo – O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) foi condenado pela Justiça a pagar R$ 50 mil por declarações ofensivas à população quilombola. A sentença é da juíza Frana Elizabeth Mendes, da 26ª Vara Federal do Rio, em ação movida pelo Ministério Público Federal (MPF). A informação é de Ancelmo Gois, colunista de O Globo.

Em abril, Bolsonaro esteve no clube Hebraica, na zona sul do Rio. No evento, afirmou que indígenas e quilombolas atrapalham a economia e, segundo ele, "não serviam nem para procriar". "O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles", disse o deputado.

Ele também defendeu o fim da demarcação de terras indígenas e quilombolas. "Pode ter certeza que se eu chegar lá (na presidência) não vai ter dinheiro pra ONG. Se depender de mim, todo cidadão vai ter uma arma de fogo dentro de casa. Não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola."

Essa não é a primeira condenação do candidato à presidência da República em 2018. No mês de agosto, a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou, por unanimidade, o recurso de Bolsonaro, que contestava decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) por danos morais contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS). Em 2014, da tribuna da Câmara, o parlamentar atacou a petista dizendo que não a estupraria porque "ela não merece".

PGR denuncia Jair Bolsonaro por racismo e seu filho por ameaçar jornalista



Em caso de condenação, pré-candidato à presidência poderá cumprir pena de reclusão de um a três anos. PGR também pede pagamento de R$ 400 mil por danos morais coletivos.

Leia também:

São Paulo – Nessa sexta-feira (13), a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o deputado federal e pré-candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL-RJ), por racismo.  O filho do parlamentar, também deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), foi denunciado por ameaçar uma jornalista.

O ato que motivou a ação do Ministério Público (MP) contra Jair Bolsonaro ocorreu em uma palestra no Clube Hebraica do Rio de Janeiro, em abril do ano passado. O deputado usou expressões de cunho discriminatório, incitando o ódio e atingindo vários grupos sociais, de acordo com a denúncia da PGR. Na ocasião, ele disse: "Isso aqui é só reserva indígena, tá faltando quilombolas, que é outra brincadeira. Eu fui em um quilombola em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador eles servem mais. Mais de um bilhão de reais por ano gastado com eles". E afirmou ainda ter cinco filhos, completando que "foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”. 

Na denúncia, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, avalia que o deputado "tinha consciência da ilicitude e dele se exigia conduta diversa, sobretudo por se tratar de um Parlamentar. Estão devidamente caracterizadas nos autos, portanto, a autoria e a materialidade do crime". Para a PGR, o discurso transcende o desrespeito aos direitos constitucionais dos grupos diretamente atingidos e viola os direitos de toda a sociedade. O texto da denúncia ressalta que a Constituição garante a dignidade da pessoa, a igualdade de todos e veda expressamente qualquer forma de discriminação.

Em caso de condenação, Jair Bolsonaro poderá cumprir pena de reclusão de um a três anos. A PGR pede ainda o pagamento mínimo de R$ 400 mil por danos morais coletivos.

O caso de Eduardo Bolsonaro

A denúncia da Procuradoria-Geral da República referente ao deputado federal Eduardo Bolsonaro diz respeito a mensagens enviadas por meio do aplicativo Telegram à jornalista Patrícia de Oliveira Souza Lélis. Nos textos, ele dizia que "iria acabar com a vida dela e que ela iria se arrepender de ter nascido", segundo com a peça do Ministério Público.

Ainda de acordo com a denúncia, questionado se o diálogo se trataria de uma ameaça, o parlamentar respondeu: “Entenda como quiser”, escrevendo ainda "palavras de baixo calão com o intuito de macular a imagem da companheira de partido: 'otária', 'abusada', 'vai para o inferno', 'puta' e 'vagabunda'". 

A procuradora-geral Raquel Dodge concluiu haver intenção do acusado de impedir a livre manifestação da vítima, e para isso a ameaçou. A pena mínima estabelecida a Eduardo Bolsonaro é de um ano de detenção e ele pode ser beneficiado pela Lei de Transação Penal, desde que não tenha condenações anteriores, nem processos criminais em andamento.

Caso cumpra as exigências legais, a proposta de transação penal é para que o deputado indenize a vítima, pague 25% do subsídio parlamentar mensal a uma instituição de atendimento a famílias e autores de violência doméstica por um ano, além de prestar 120 horas de serviço à comunidade. 

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Com imóvel próprio, Bolsonaro ganha auxílio-moradia da Câmara



CAMILA MATTOSO - RANIER BRAGON DE BRASÍLIA

O presidenciável Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e um de seus filhos, Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), recebem dos cofres públicos R$ 6.167 por mês de auxílio-moradia mesmo tendo um imóvel em Brasília.

Confira também:



Ambos são deputados federais. O apartamento de dois quartos (69 m²), em nome de Jair, foi comprado no fim dos anos 90, quando ele já recebia o benefício público, mas ficou pronto no início de 2000.

O político recebe da Câmara o auxílio-moradia desde outubro de 1995, ininterruptamente. Eduardo, desde fevereiro de 2015, quando tomou posse em seu primeiro mandato como deputado.

Ao todo, pai e filho embolsaram até dezembro passado R$ 730 mil, já descontado Imposto de Renda.

Além do apartamento na capital, os políticos da família Bolsonaro têm mais 12 imóveis no Rio, a maior parte adquirida nos últimos dez anos, como mostrou a Folha no domingo (7).

O auxílio-moradia é pago a deputados que não ocupam apartamentos funcionais no DF. Como há mais deputados do que vagas em imóveis destinados a eles, a Câmara desembolsa para cada um desses, por mês, R$ 4.253.

Há duas formas de pagamento: 1) por meio de reembolso, para quem apresenta recibo de aluguel ou de gasto com hotel em Brasília, 2) ou em espécie, sem necessidade de apresentação de qualquer recibo, mas nesse caso com desconto de 27,5% relativo a Imposto de Renda.

Jair e Eduardo Bolsonaro utilizam essa segunda opção, o que rende mensalmente, para cada um, R$3.083.

O auxílio-moradia pode ser recusado pelos congressistas.

Em novembro, por exemplo, a listagem oficial da Câmara dos Deputados mostra 336 parlamentares ocupando apartamentos funcionais fornecidos pela Casa, 81 recebendo reembolso após apresentarem comprovante de gasto com moradia e 69 recebendo o valor em espécie, descontado o IR, sem necessidade de apresentar qualquer recibo de gasto com moradia, entre eles Bolsonaro e seu filho.

Ou seja, pelas informações da Câmara, 27 dos atuais 513 parlamentares abriram mão de receber o dinheiro ou apartamento da Câmara – entre eles os oito deputados do Distrito Federal.

A reportagem visitou o prédio em que está o apartamento em nome do presidenciável, que fica no Sudoeste, uma dos bairros do Plano Piloto, a região central de Brasília.
Segundo funcionários do edifício, Eduardo Bolsonaro é visto semanalmente no local.
CASA PRÓPRIA
O apartamento de Brasília foi um dos primeiros da vida Bolsonaro. Segundo a escritura, o imóvel passou a pertencer oficialmente ao político em maio de 2000.

Em julho de 1998, no entanto, ele já colocava o apartamento em sua declaração de bens à Justiça Eleitoral.

O valor pago, segundo o documento registrado em cartório, foi de R$ 75 mil, pagos em espécie. De outubro de 1995, quando começou a receber o auxílio-moradia, até julho de 1998, quando declarou já ser seu o novo apartamento em Brasília, recebeu a exata quantia de R$ 71,6 mil, também recebidos em espécie.

Não há a data certa do pagamento de Bolsonaro para a Marko Engenharia, construtora do prédio. Na escritura, de 20 de maio de 2000, consta apenas que o preço de R$ 75 mil foi "pagos anteriormente em moeda corrente nacional, pelo que dá plena, rasa, geral e irrevogável quitação".

A Folha falou com o representante da Marko, José Wilson Silva Corrêa, que aparece na escritura como "procurador", mas ele disse "não se lembrar" da transação e que não era responsável por ela.

OUTRO LADO

Procurados desde a última quinta-feira (4), Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo não responderam as perguntas enviadas pela reportagem a respeito dos imóveis que possuem.

MORADIA PAGA

Bolsonaro e um de seus filhos já obtiveram R$ 730 mil de auxílio-moradia da Câmara.

Out. 1995

Bolsonaro começa a receber auxílio-moradia.

Jul.1998

Bolsonaro coloca em sua declaração de bens o seu apartamento em Brasília informando o valor de cerca de R$ 75 mil.

Mai.2000

Bolsonaro assina a escritura do imóvel, declarando que os R$ 75 mil foram "pagos anteriormente" em "moeda nacional".

Jan.2001

Mesmo com imóvel em Brasília, Bolsonaro continuou recebendo o auxílio-moradia, o que faz até os dias atuais.

Fev.2015

Eduardo Bolsonaro toma posse como deputado federal e começa a utilizar auxílio-moradia, mesmo com o imóvel da família em Brasília.

2017

Patrimônio de Bolsonaro e seus três filhos parlamentares chega a 13 imóveis, que valem pelo menos R$ 15 milhões.

R$ 622 mil

Total arrecadado por Bolsonaro de out.1995 até 2017.

R$ 107 mil

Total arrecadado por Eduardo de fev.2015 até 2017.

*Valor nominal da época, considerando desconto de imposto de Renda. Deputados que apresentam comprovante de aluguel podem receber valor integral, sem desconto do IR.

Patrimônio de Jair Bolsonaro e filhos se multiplica na política



Por: Ranier Bragon - Camila Mattoso de Brasília e Italo Nogueira do Rio.

O deputado e presidenciável Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e seus três filhos que exercem mandato são donos de 13 imóveis com preço de mercado de pelo menos R$ 15 milhões, a maioria em pontos altamente valorizados do Rio de Janeiro, como Copacabana, Barra da Tijuca e Urca.

Levantamento feito pela Folha em cartórios identificou que os principais apartamentos e casas, comprados nos últimos dez anos, registram preço de aquisição bem abaixo da avaliação da Prefeitura do Rio à época.

Em um dos casos, a ex-proprietária vendeu uma casa em condomínio à beira-mar na Barra a Bolsonaro com prejuízo – pelo menos no papel– de R$ 180 mil em relação ao que havia pago quatro meses antes.

O filho mais velho do presidenciável, Flávio, deputado estadual no Rio de Janeiro, negociou 19 imóveis nos últimos 13 anos.

Os bens dos Bolsonaro incluem ainda carros que vão de R$ 45 mil a R$ 105 mil, um jet-ski e aplicações financeiras, em um total de R$ 1,7 milhão, como consta na Justiça Eleitoral e em cartórios.

Quando entrou na política, em 1988, Bolsonaro declarava ter apenas um Fiat Panorama, uma moto e dois lotes de pequeno valor em Resende, no interior no Rio – valendo pouco mais de R$ 10 mil em dinheiro atual. Desde então, sua única profissão é a política. Já são sete mandatos como deputado federal.

Bolsonaro, 62, tem duas ex-mulheres (está no terceiro casamento) e cinco filhos. Três são políticos: além de Flávio, Carlos (vereador no Rio desde 2001) e Eduardo (deputado federal desde 2015). Ao todo, os quatro disputaram 19 eleições.

Eles apresentam, como o pai, evolução patrimonial acelerada. Com exceção de uma recente sociedade de Flávio em uma loja de chocolates, todos se dedicam agora só à atividade política.

Até 2008, a família declarava à Justiça Eleitoral bens em torno de R$ 1 milhão, o que incluía apenas 3 dos atuais 13 imóveis. As principais aquisições ocorreram nos últimos dez anos.

As duas principais casas do patrimônio de Bolsonaro ficam em um condomínio à beira-mar na Barra, na Avenida Lúcio Costa, um dos pontos mais valorizados do Rio.

Segundo documentos oficiais, ele adquiriu uma por R$ 400 mil em 2009 e outra por R$ 500 mil em 2012.

Hoje o preço de mercado das duas juntas é de pelo menos R$ 5 milhões, de acordo com cinco escritórios imobiliários da região consultados pela Folha. Ou seja, teriam tido valorização de pelo menos 450% no período.

À época, a prefeitura já avaliava o preço das casas muito acima, no cálculo para o imposto de transmissão de bem. Para a de R$ 400 mil, R$ 1,06 milhão. Para a de R$ 500 mil, R$ 2,23 milhões.

Sem ser informado do caso específico, o presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis do Rio, Manoel Maia, afirmou que conhece o condomínio de Bolsonaro e que o preço das casas no local não teve variação significativa nos últimos oito anos. "Talvez não tenha valorizado quase nada."

Já levantamento do Secovi-RJ (sindicato das empresas do ramo imobiliário) aponta que houve valorização, mas muito abaixo de 450% –alta de 63% de 2011 até agora.

SUSPEITA

As transações que resultaram na compra da casa em que Bolsonaro vive, na Barra, têm, em tese, indícios de uma operação suspeita de lavagem de dinheiro, segundo os critérios do Coaf (Ministério da Fazenda) e do Conselho Federal dos Corretores de Imóveis (Cofeci).

A Comunicativa-2003 Eventos, Promoções e Participações adquiriu a casa em setembro de 2008 por R$ 580 mil. A responsável pela empresa, Marta Xavier Maia, disse à Folha que comprou o imóvel num estado ruim, reformou-o e vendeu-o para o deputado quatro meses depois, com redução de 31%.

Ela afirmou que decidiu ter prejuízo porque precisava dos recursos para adquirir outro imóvel.

O Cofeci aponta que configura ter "sérios indícios" de lavagem de dinheiro operação na qual há "aparente aumento ou diminuição injustificada do valor do imóvel" e "cujo valor em contrato se mostre divergente da base de cálculo do ITBI", o imposto cobrado pelas prefeituras. Desde 2014, operações do tipo devem ser comunicadas ao Coaf – a unidade que detecta operações irregulares no sistema financeiro.

No mercado, é comum a prática irregular de colocar na escritura valor abaixo do real, com o objetivo de driblar o imposto de lucro imobiliário. Desta forma, registra-se um valor de aquisição menor, com pagamento por fora. Outra intenção da fraude é fazer com que o comprador não oficialize um aumento patrimonial incompatível com seus vencimentos. O Coaf não se pronuncia sobre comunicações recebidas, por questões de sigilo legal.

O presidenciável recebe hoje salário bruto de R$ 33,7 mil como parlamentar (líquido de R$ 24 mil), além de soldo – segundo o Exército, um capitão da reserva na situação de Bolsonaro recebe cerca de R$ 5.600 brutos.

O valor real dos imóveis de toda a família – cinco em nome de Jair Bolsonaro,</a> três de Carlos, dois de Eduardo e três de Flávio –representa cerca do triplo do que a família declarou à Justiça. Não há ilegalidade. A lei exige apenas o informe de bens.

OUTRO LADO

A Folha procurou Bolsonaro e seus três filhos desde a tarde de quinta-feira (4) e encaminhou 32 perguntas para as assessorias dos quatro.

Apenas as de Flávio e Carlos responderam, mas de forma genérica.

Flávio afirmou que estava em viagem ao exterior e que ficaria à disposição quando retornar ao Rio, dia 17.

A assessoria de Carlos disse que seu patrimônio é modesto e igual há vários anos.

A Folha enviou 13 questionamentos a Jair Bolsonaro, entre os quais se ele considera o patrimônio de sua família compatível com os ganhos de quem se dedica exclusivamente à política. O deputado não respondeu.

Em 2015, a Procuradoria-Geral da República recebeu uma denúncia questionando os valores informados por Bolsonaro em relação às suas duas casas da Barra.

Apenas tendo ouvido a defesa do presidenciável, o então procurador-geral, Rodrigo Janot, mandou arquivar o expediente dizendo que valores eram os mesmos do Imposto de Renda. Janot alegou se tratar de denúncia anônima sem "elementos indiciários mínimos" de ilícito.

A advogada Marta Maia, dona da empresa que vendeu com deságio a casa de Bolsonaro, negou irregularidades.

"Foi tudo feito com depósito em conta", disse. Ela afirmou que revendeu o imóvel com prejuízo de R$ 180 mil porque tinha interesse em outro. "Meu negócio é esse. Pegar uma casa em condições ruins, reformar e revender."

EM ASCENSÃO

Evolução do patrimônio dos Bolsonaros acompanha trajetória política da família.

1988

JAIR BOLSONARO

Aos 33 anos, o capitão do Exército Jair Bolsonaro é eleito vereador.
Patrimônio declarado: uma moto ano 83, um carro Fiat Panorama ano 83 e dois lotes de pequeno valor em Resende (RJ).

1990

JAIR BOLSONARO

É eleito deputado federal para o primeiro de seus sete mandatos.

1994

JAIR BOLSONARO

É reeleito para o 2º mandato de deputado federal.

1998

JAIR BOLSONARO

Patrimônio declarado: UM APARTAMENTO EM BRASÍLIA, OUTRO NA TIJUCA (RJ) E UM TERRENO EM ANGRA. SEUS CARROS, UMA PAJERO ANO 95, UM GOL ANO 92 E UMA MOTO.

2000

CARLOS BOLSONARO

O filho Carlos é eleito vereador no Rio aos 17 anos.
Patrimônio declarado: NENHUM.

2002

FLÁVIO BOLSONARO

Flavio Bolsonaro, filho mais velho de Bolsonaro é eleito deputado estadual, no Rio.
Patrimônio declarado: UM GOL 1.0 ANO 2001.

2006

JAIR BOLSONARO

Tenta seu 5º mandato a deputado.

Patrimônio declarado: DESAPARECEM DE SUA DECLARAÇÃO DE BENS TODOS OS IMÓVEIS ANTERIORES.

2008

CARLOS BOLSONARO

Disputa seu 3º mandato a vereador.
Patrimônio declarado: UM APARTAMENTO NA TIJUCA E UM PEUGEOT 307 ANO
2007.

FLÁVIO BOLSONARO

Faz contratos de COMPRA DE CINCO SALAS EM UM PRÉDIO COMERCIAL na barra da tijuca, antes mesmo do memorial de incorporação ser assinado.

2010

JAIR BOLSONARO

Patrimônio declarado: R$ 826 MIL; VOLTA A DECLARAR IMÓVEIS NÃO INFORMADOS EM 2006 E OMITE A COMPRA DE UMA CASA EM CONDOMÍNIO FECHADO À BEIRA-MAR, NA BARRA.

FLAVIO BOLSONARO

COMPRA MAIS SETE SALAS NO PRÉDIO COMERCIAL DA BARRA. UM MÊS DEPOIS, ELE VENDE TODOS OS IMÓVEIS A UMA MESMA EMPRESA.

2012

CARLOS BOLSONARO

Eleito pela 4º vez vereador.
Patrimônio declarado: DOIS IMÓVEIS, UM CARRO DE QUASE R$ 100 MIL E UMA MOTO DE R$ 50 MIL.

2014

JAIR BOLSONARO

É eleito para o seu sétimo mandato.

EDUARDO BOLSONARO

3º filho de Bolsonaro a entrar na política, Eduardo é eleito deputado federal.
O PATRIMÔNIO DA FAMÍLIA DECLARADO AO TSE JÁ ACUMULA: CINCO APARTAMENTOS, QUATRO CASAS, UM JET-SKI, CINCO CARROS E UMA MOTO.

2016

FLÁVIO BOLSONARO

Em apenas dois anos, FLÁVIO INFORMA TER DOBRADO SEUS BENS.
Patrimônio declarado: R$ 1,45 MILHÃO.

2017

Pesquisa feita pela Folha nos cartórios do Rio e de Brasília mostra que Flávio e Eduardo adquiriram novos imóveis. AO TODO, JAIR BOLSONARO E SEUS TRÊS FILHOS TÊM 13 IMÓVEIS EM SEUS NOMES, CUJO VALOR DE MERCADO É DE PELO MENOS R$ 15 MILHÕES.

Sobre o Blog

Este é um blog de ideias e notícias. Mas também de literatura, música, humor, boas histórias, bons personagens, boa comida e alguma memória. Este e um canal democrático e apartidário. Não se fundamenta em viés políticos, sejam direcionados para a Esquerda, Centro ou Direita.

Os conteúdos dos textos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores, e nem sempre traduzem com fidelidade a forma como o autor do blog interpreta aquele tema.

Dag Vulpi

Seguir No Facebook