Por Fabio Alves*
O
resultado das pesquisas de intenção de voto do Ibope e do Datafolha, que serão
divulgadas nesta quarta-feira, 3, pode trazer de volta, num último ímpeto, o
fantasma do “Volta, Lula”, ameaçando a candidatura da presidente Dilma Rousseff
à reeleição.
Até
o dia 15 de setembro, o PT poderia trocar de candidato, substituindo Dilma pelo
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E como se aproxima o prazo final dado
pela legislação para uma troca de candidatos, em caso de renúncia, parcela da
cúpula petista, além de boa parte dos militantes do “chão de fábrica”, pode
fazer uma última investida no acalentado desejo de ver Lula concorrer à eleição
presidencial.
Esse
movimento voltou à ativa depois das últimas pesquisas Datafolha e Ibope, em
particular a que mostrou Marina Silva, do PSB, empatada com Dilma na simulação
do primeiro turno e vencendo com vantagem de dez pontos porcentuais num
eventual segundo turno.
As
pesquisas que serão divulgadas amanhã são cruciais.
Primeiro,
porque elas medirão o impacto das duas primeiras semanas de propaganda
eleitoral na TV e no rádio, período considerado suficiente para aferir a
escolha do eleitor que estava indeciso ou que, porventura, iria anular seu
voto.
Segundo,
porque mostrarão se a tendência do forte ganho de Marina no apoio de eleitores
consolidou-se ou se houve um desgaste com as recentes polêmicas envolvendo a
candidatura do PSB, entre elas as acusações de uso de caixa dois para financiar
o jato que transportava o ex-candidato Eduardo Campos; os ganhos com palestras
proferidas por Marina nos últimos três anos; e os recuos dela no seu programa
de governo, em particular aos direitos dos movimentos LGBT.
“Para
setores do PT, só a volta do Lula salvaria a eleição para o partido neste
momento”, diz o cientista político e professor do Insper, Carlos Melo.
Assim,
faz sentido se setores do PT, via alguma instituição ou sindicato ligado ao
partido, tivessem contratado pesquisas qualitativas para medir o potencial do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva num cenário de embate direto com Marina
Silva.
“O
PT já tem medido a capacidade de Lula em atrair voto, mas ainda não mensurou
essa capacidade numa disputa direta com a candidata do PSB”, argumenta Melo.
Diante da proximidade do prazo legal para se fazer a troca de candidato, agora
é o momento para realizar tal pesquisa e, dependendo do resultado, conseguir
pressionar o partido inteiro por uma troca, diz ele.
Para
os analistas da consultoria política Arko Advice, em relatório a clientes, os
defensores do “Volta Lula”, ainda em minoria, acreditam que essa é a única
forma de reverter o risco de derrota.
“A
sensação no PT é de que é preciso fazer ‘algo grande’, pois se Dilma perder, o
maior derrotado será Lula”, afirmam os analistas da Arko Advice.
Para
eles, o ex-presidente tem grande prestígio junto ao eleitorado e deixou o
governo com aprovação elevadíssima. Lula também conta com o apoio do setor
empresarial, entidades sindicais e mercado financeiro, acrescentam.
“O
problema é que mesmo a substituição de Dilma por Lula não necessariamente
mudaria o quadro”, dizem os analistas da Arko Advice.
Na
opinião de Carlos Melo, do Insper, a troca de candidatos do PT ainda tem como
obstáculo o próprio Lula.
“Lula
não se arriscaria a substituir Dilma se as pesquisas qualitativas mostrarem que
ele também perderia para Marina”, afirma Melo. “Assim, o PT manteria a
candidatura de Dilma em dois cenários: se a vitória dela for certa ou se a
derrota dela ou de Lula frente a Marina for inevitável.”
Outro
inconveniente a ser enfrentado por Lula numa eventual troca é que o
ex-presidente foi ao programa eleitoral na TV do partido garantindo ao eleitor
que Dilma faria um segundo mandato melhor do que o primeiro.
Ou
seja, como evitar o desgaste – e também o uso político por seus adversários –
junto ao eleitorado se Lula tentar salvar o PT de uma percepção de derrota pelo
comando do País, substituindo Dilma, sem conseguir passar a impressão de
fracasso do governo que ele endossou em 2010?
De
qualquer forma, lembra a Arko Advice em nota a seus clientes, até o prazo final
da troca, “Dilma terá que conviver com esse fantasma. Mais um elemento
perturbador justamente num momento crucial para sua campanha.”
Se
os resultados das pesquisas Ibope e Datafolha mostrarem, por acaso, uma
liderança de Marina ainda no primeiro turno e uma vantagem maior num eventual
segundo turno frente a Dilma, o fantasma do “Volta, Lula” rondará o PT com
força.
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Fábio Alves é jornalista do Broadcast