Publicado
Originalmente no site Brasil 247
Blog Dag Vulpi - Romeu Tuma Jr.
afirma no livro promovido pela revista Veja que acompanhou pessoalmente
depoimentos do ex-presidente Lula em colaboração com o regime militar; isso é
falso; quando Lula foi preso, em 19 de abril de 1980, Tuminha tinha apenas 16
anos e seis meses de idade, o que impede qualquer pessoa de ter cargo público,
quanto mais o de "investigador subordinado"; antes, quando Lula se
tornou sindicalista, em 1972, o policial que perdeu o cargo de Secretario
Nacional de Justiça por comprovadas ligações com o contrabandista Li Kwok Kwen,
contava nove anos de idade; seus amiguinhos brincavam de polícia e bandido e
ele já saia em diligências políticas com o pai, o delegado Romeu Tuma, é isso? Acredita
quem quiser, mas a verdade é que a vendeta de Tuminha contra Lula não se
sustenta; mais uma vez, o pequeno Tuma mentiu.
No dia 19 de
abril de 1980, quando, às seis da manhã, o então sindicalista Luiz Inácio Lula
da Silva foi preso em sua casa, em São Bernardo, e levado para o Dops, em São
Paulo, onde passaria os 31 dias seguintes, o autor do chamado 'livro-bomba',
pela revista Veja, contava com 16 anos e seis meses de idade. Romeu Tuma Jr.,
filho do então delegado Romeu Tuma, só completaria 17 anos em 4 de outubro
daquele ano. Para a maioridade ainda faltavam para ele, na ocasião da prisão de
Lula, um ano e sete meses. Todos sabem que só se pode entrar para o serviço
público, em qualquer categoria, com um mínimo de 18 anos de idade.
A pergunta que
o tal 'livro-bomba' propagandeado por Veja não responde é: como conseguiu ainda
imberbe aos 16 anos e seis meses idade, o jovem Romeu Tuma Jr. saber por ele
próprio, como afirma no livro e em entrevista, que Lula fora um colaborador da
ditadura?
Tuminha, como
o policial é conhecido – também alcunhado pela própria Veja, anos atrás, como
"muambeiro" e "meliante" – seria um "gato", como
é conhecido o jogador de futebol que mente a idade para atuar em categorias de
base, mas às avessas? Ou seja, em lugar de mentir para menos a sua própria
idade, teria mentido para mais a fim de se tornar, como disse
"investigador subordinado" do Dops chefiado por seu pai e sair por aí
armado e com título de autoridade policial? Isso o livro não esclarece.
À altura de sua
prisão, Lula era visto como o adversário número 1 da ditadura militar. Não
havia o menor diálogo entre as duas partes. Afinal, desde 1977, quando os
metalúrgicos da Scania, em São Bernardo, pararam suas máquinas e cruzaram os
braços dentro do próprio chão da fábrica, Lula era a imagem da radicalização.
Pode-se
imaginar, com grandes doses de criatividade, que Lula, ao entrar para a
diretoria do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, em 1972, tivesse
alguma interface com agentes do regime militar. O então presidente da entidade,
Paulo Vidal, era considerado um pelego – e bem poderia confirmar ou desmentir
informações procuradas pelos integrantes do regime. Mas Lula? Ele que decidiu
entrar para o sindicalismo e a política depois de saber que seu irmão mais
próximo, Frei Chico, fora torturado quase até a morte pelos agentes da
repressão?
Em 1972,
Tuminha, o autor do, repita-se, do 'livro-bomba', tinha então 9 anos de idade.
Quando seus amiguinhos deveriam estar brincando de polícia e bandido, pelo
jeito ele já carregava um distintivo de verdade no peito para sair ao lado do
pai, o Tumão, em diligências atrás de comunistas e que tais. Isso é plausível?
Tumão, como se
sabe, morreu em 2010. Ele não pode, assim, contar a sua versão, a não ser que
Tuminha consiga algum meio de colher seu depoimento, como dizem os
policiais.
Acreditar
nessa possibilidade, assim como crer que Tuminha, já aos 16 anos frequentava os
salões da repressão do Dops, é dar crédito demasiado a um personagem que, no
papel de chefe da área federal contra o contrabando, foi flagrado negociando um
salvo-conduto para um dos maiores contrabandistas do País, Li Kwok Kwen, o
chinês que controla o contrabando de produtos piratas em São Paulo.
Antes do
conluio com o chefe do contrabando, também pego no pulo, Tuminha fez da
Secretaria Nacional de Justiça uma central de favores para amigos e parentes,
tentando pilotar, inclusive, uma vaga na burocracia para a namorada de um
amigo.
Menos do que
ter conteúdo de verdade, o livro que Tuminha publica é, fora de dúvida, uma
pronta e acabada vendeta contra o mesmo Lula que lhe deu um cargo de prestígio
na máquina federal e teve de removê-lo de lá por péssimo comportamento.
E vinganças,
como se sabe, não precisam da verdade para se concretizar. Uma mentira republicada
em Veja pode ser dada como verdade - e o serviço está feito. É o que está em
curso com o tal "livro-bomba". Um traque.