terça-feira, 19 de julho de 2011

Crise avança mais rápida e forte e favorece avanço de novo sistema


O sistema capitalista sofre seu mais duro golpe, ao evidenciar que é inviável por ser incapaz de controlar os fluxos financeiros que caminham com vida própria, independente da produção de bens e serviços da chamada economia real.

Ao invés de se apoiar no atendimento das necessidades de acesso da maior parte da população mundial especialmente das marginalizadas dos países ditos em desenvolvimento aos bens e serviços, endereçou sua expansão artificializando o excesso de consumo da população dos países do centro do capitalismo, (Estados Unidos, Europa e Japão). Essa artificialização se manifestou via empréstimos sem controle, ampliando volumes crescentes de títulos podres, que se espalharam como um câncer em expansão exponencial sem possibilidade de ser contido. Partiu do princípio que esse sistema se auto-regularia, o que ficou evidenciado ser impossível. Está sendo duramente vitimado pela sua própria contradição interna, qual seja, ser incapaz de se desenvolver distribuindo os benefícios criados pelos trabalhadores e, pelo descontrole dos fluxos financeiros internacionais em busca desenfreada de lucros nas movimentações, que ultrapassam em volume centenas de vezes a movimentação de mercadorias.

• Recidiva - Nessa sequência está ficando cada vez mais clara a recidiva da crise de 2008, só que de forma mais ampla e virulenta. As avaliações de vários analistas que enfocam os problemas da zona do euro e dos Estados Unidos pioram dia a dia. Os países mais frágeis do sul da Europa não têm condições de resolver seus elevados déficits fiscais e reduzir suas dívidas, pois as medidas a que tiveram de se submeter de aperto fiscal e redução de salários e direitos criam, em contrapartida, efeito maior em queda de arrecadação, devido à redução da atividade econômica e elevação da inadimplência, pois os contribuintes passam a ter piores condições financeiras, e a primeira decisão que tomam é não pagar ou protelar o pagamento de impostos.

Assim, vai ficando mais claro que esses países não conseguirão pagar as prestações das dívidas que assumiram e os calotes irão se suceder atingindo o sistema financeiro privado em operação dominó, cujos reflexos podem ser de contaminação do sistema bancário de outros países como França, Alemanha e, como existem relações entre sistemas financeiros fortes entre Europa e Estados Unidos, este último poderá sentir os impactos financeiros, o que debilitaria ainda mais sua economia. Ao lado desse processo intensifica-se a mobilização social e manifestações públicas de reação da população atingida ou ameaçada pelas decisões de agravamento das condições de vida que usufruíam. Esse processo só tende a crescer.

Nos EUA, às voltas com o desenlace da autorização do Congresso para a elevação do teto da dívida do governo, a disputa política e a visão fiscal entre democratas e republicanos pode causar um trauma de proporções inimagináveis caso o acordo não saia. Os títulos americanos já sofreram a ameaça de rebaixamento nas agências de classificação de risco e, a economia até agora não eu sinais de recuperação do golpe sofrido em 2008, com elevado nível de desemprego, fragilidade no consumo interno e pouca competitividade externa face ao mercado internacional mais concorrencial, especialmente devido à posição agressiva das exportações do leste asiático, com destaque para a China. Para agravar ainda mais esse quadro, a agência de classificação de risco Moody"s anunciou dia 13 ter colocado em revisão para potencial rebaixamento o rating soberano dos Estados Unidos, devido à possibilidade de o limite de endividamento não ser elevado em momento oportuno e, dessa forma, levar o país a declarar calote em suas obrigações de dívidas. A Moody"s também colocou os ratings de instituições financeiras diretamente ligadas ao governo dos EUA em revisão para potencial rebaixamento. Entre elas, estão a Fannie Mae e a Freddie Mac. Em abril, a Standard & Poor"s reduziu a perspectiva da classificação de estável para negativa, pois "Mais de dois anos depois do começo da crise, os formadores de política dos EUA ainda não chegaram a um acordo sobre como reverter a recente deterioração fiscal ou solucionar as pressões fiscais de longo prazo".

• Solução coordenada - Parece que não existe mais a possibilidade de uma solução coordenada de salvamento das economias dos países mais frágeis da zona do euro, nem perspectivas sólidas e duradouras de acordo para ampliar o limite de endividamento dos EUA. Há sérios riscos de empurrar o problema para frente tornando-o impossível de ser resolvido.  Esses países vão sentindo os golpes e o que prevalece é o salve-se quem puder. A crise de 2008 não conseguiu estabelecer regras para controlar os fluxos financeiros internacionais, que comandam o sistema capitalista e nem conseguirão agora, pois é da essência desse sistema ter vida própria, o que o vitimiza.

• Novo sistema - A China vem desenvolvendo, há mais de vinte anos, sistema próprio de um misto de capitalismo, abrindo espaços a iniciativas privadas e recebendo o ingresso de capitais e empresas de fora, mas sob controle do Estado e com plano estratégico de desenvolvimento. Como tem elevado exército de reserva no campo, os salários são baixos em relação à maioria dos países e seus trabalhadores não contam com a proteção da seguridade social. Com essa precarização do custo da mão de obra conseguem deslocar produtos de outros países no comércio internacional e continuam penetrando cada vez mais seus produtos em mercados que têm custos de mão de obra mais elevados. Seu calcanhar de Aquiles é que nesse processo os trabalhadores irão progressivamente reivindicar melhores condições salariais e de proteção do Estado, o que elevará gradualmente seus custos de produção. Temendo os reflexos de se apoiar em excesso no mercado externo o novo plano do Partido chinês é se voltar para buscar centrar sua expansão mais voltada para seu mercado interno, à semelhança do que já vem sendo feito por vários países emergentes.

• Trabalho x Trabalho – A lógica do sistema capitalista, em sua evolução, evidencia, com clareza, séria disputa entre trabalhadores no confronto internacional. Há deslocamentos de empregos e movimentos migratórios com ou sem controle na busca de oportunidades de trabalho. A tendência que parece natural, mas que precisa ser acompanhada e analisada é de um menor distanciamento entre custos de trabalho entre países, uma vez que a tecnologia pode se deslocar para sistemas produtivos sem maiores problemas, e essa tecnologia é mais diversificada e em forte processo de desenvolvimento. Não será surpresa se ocorrer gradualmente redução dos salários nos países hoje desenvolvidos e elevação nos emergentes dentro desse processo. Em escala global isso pode ser um avanço, mas repito, é um processo a ser acompanhado e analisado, cabendo aos governos dos países adotarem estratégias de redução dos custos de reprodução da mão de obra, especialmente os relativos à alimentação, transporte, moradia, saúde, assistência social, bem como proteção ao emprego e preparo técnico da mão de obra. É a melhor forma de proteção de seus trabalhadores dentro dessa disputa internacional de custos de trabalho.

• Brasil – No caso desta recidiva da crise, o Brasil não pode titubear e continuar seguindo o que dita o mercado financeiro e os economistas ortodoxos e conservadores, com amplo espaço de expressão na mídia, criando um verdadeiro efeito manada, de sob o pretexto do risco da inflação – que depende mais de fora do que de dentro – pisar no freio da economia. Ao contrário, deve reforçar políticas de distribuição de renda para ampliar sua base interna de consumo, em doses bem mais acentuadas do que os programas de renda, miséria e habitação já anunciados. Representam apenas cerca de 1,1% do PIB. Deve imediatamente reduzir as taxas de juros bancários do governo (Selic) e dos bancos, as mais elevadas do mundo e causas centrais dos prejuízos que o País tem. O governo tem que botar limites e penalizações fortes sobre as taxas de juros e tarifas exorbitantes dos bancos. Tem poder para isso, mas não o exerce, pois está submisso e conivente ao poder do mercado financeiro.

Só de juros são jogados no lixo cerca de 6% do PIB todo o ano, o que obriga a se ter uma carga tributária onerosa, que causa informalização de empresas e empregos. Há que deslocar os benefícios da produção do sistema financeiro para a base da pirâmide social. Temos alto potencial de mercado interno disponível e elevados déficits sociais e de infraestrutura, que nos dificulta a concorrência com outros países e criam problemas sociais que poderiam não existir na magnitude atual.

Nesse sentido, o governo deveria tomar as rédeas da economia elevando as transferências de renda e reduzindo os custos com juros. Quanto mais demorar pior será para enfrentar os problemas existentes e os que virão importados, que são imprevisíveis em seus efeitos danosos ao País.

Amir Khair

Gestão pública e parcerias políticas


Por Luis Nassif,

Para entender a atual enxurrada de escândalo é necessário se debruçar sobre dois fenômenos: a estrutura das grandes organizações e o modelo político geral (e, em particular, o modelo brasileiro).

Um dos grandes desafios das grandes organizações são os sistemas de controle. Houve grandes avanços na gestão privada, desde as experiências da Toyota, os avanços das empresas de software. A informatização das empresas permitiu alguma forma de controle.

Mas duas áreas são de controle quase impossível: uma, a área de contratas, dada a extrema diversidade das atividades com a explosão da terceirização; outra, o da compra dos chamados bens intangíveis, como consultoria ou sistemas de software.

Especialmente multinacionais maiores e mais antigas – como Nestlé e IBM – acabaram se enredando em sistemas de controle do controle do controle. Dia desses conversávamos – um funcionário da Nestlé e o presidente do conselho de uma grande empresa brasileira – e o executivo brasileiro ficou escandalizado com o que chamou de "disfuncionalidade" do modelo multinacional.

Esse mesmo padrão se reflete nas grandes organizações públicas, seja a União, o estado de São Paulo ou Minas, as grandes regiões metropolitanas.
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E Aí se entra no segundo ângulo da questão.
Estados modernos precisam de burocracias estáveis. O fato de ser estável e concursado, no entanto, não é garantia de isenção partidária. Tanto nas grandes organizações privadas quanto públicas, há uma tendência de organização de grupos internos se digladiando pelo poder.
Além disso, cada presidente ou governador ou prefeito eleito – aqui ou em qualquer outro país democrático – tem o direito de compor parte da sua equipe com assessores de fora da máquina pública.
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Por outro lado, todo partido político tem sistemas de aliança com grandes fornecedores, empresas e pessoas com interesse econômico direto no Estado. Principalmente devido ao problema do financiamento de campanha.
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Nesse ambiente, há que se separar duas atitudes, ambas reprováveis, mas que fazem parte dos usos e costumes da política.
É evidente que todo aliado que assume o poder em um Ministério ou autarquia têm a firme intenção de auxiliar seu partido, ajudando a montar alianças com grupos econômicos, beneficiando regiões políticas e abrindo espaço para financiamento eleitoral.

O modo, por assim dizer, legítimo de atuar é, nas concorrências, dar preferência aos aliados sem atropelar as regras do jogo e beneficiando exclusivamente o partido.
Os modos condenáveis seriam as jogadas em cima de brechas pouco claras e as manobras de enriquecimento pessoal.
Vicejam em Brasília e nas principais capitais uma figura misteriosa, o chamado operador do Estado, o sujeito que conhece as entranhas do Estado, as maneiras de burlar contratos, favorecer aliados. Não se trata de um ser partidário, mas do lobista que serve a qualquer senhor.
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Qualquer uma dessas práticas enfraquece a democracia. E exigirá mudanças nos costumes, devido ao advento da Internet e da explosão das informações.
As parcerias partidárias - 1
Cada partido tem seu conjunto de parceiros, que leva para os diversos estados que controla. Uma das áreas em que o jogo de favores é mais ampla é na de serviços terceirizados. Em Brasília, o predomínio é do senador Eunício Oliveira, dono de grandes empresas de terceirização. Em São Paulo, da Tejofran e outras, que praticamente dominam as licitações do Estado há pelo menos 16 anos.
As parcerias partidárias – 2
Quando oposição, o PT só podia se valer de empresas municipais, em geral atuando em transportes municipais ou de limpeza. Quem é poder federal prescinde desse varejo. Mas quando se analisam as empresas que operavam no Distrito Federal, na gestão José Roberto Arruda, praticamente todas elas atuavam tanto em São Paulo quanto no Rio Grande do Sul, assim como as empresas de merenda escolar denunciadas em São Paulo.
Providências – 1
A primeira providência de um governante precavido, especialmente nos modelos de coalisão partidário como o brasileiro, é montar sistemas eficientes de informação sobre os indicados. Antigamente cada Ministério tinha seu sistema de inteligência para esse primeiro filtro. Depois, foi abandonado por ser controlado em geral pelos serviços de segurança. Há que se remontar a informação.
Providências – 2
O segundo grande desafio será redefinir as formas de barganha partidária. Cada vez mais haverá menos espaço para esse tipo de compartilhamento do poder. Antigamente as denúncias ficavam restritas a quem a velha mídia pretendia atingir. Fala-se muito da União, pouco de São Paulo. Com o avanço da blogosfera, essa barreira deixou de existir. O caso Paulo Preto é emblemático.
Providências – 3
Por isso mesmo, a manutenção desse modelo está se tornando cada vez mais disfuncional, ameaça para todas as pontas. Com os novos modelos de gestão, criando indicadores cada vez mais detalhados, reduz-se mais ainda o espaço de manobra para esse jogo. Se se instituir o financiamento público de campanha, se tirará o último oxigênio desse modelo espúrio. É um tema que merece prioridade total do parlamento.
Providências – 4
Outro ponto dos mais relevantes é a mudança na lei 8666, das licitações. Foi instituída em 1992, como resposta à CPI do Orçamento. Com o tempo, engessou completamente o orçamento público e permitiu a expansão do golpe dos aditivos. Monta-se a licitação. O apadrinhado joga um preço mais baixo que os demais e leva. No decorrer do contrato, "descobre-se" que o projeto executivo era falho e permitem-se aditivos.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Reforma política atrasada

Peço desculpas aos meus amigos, por ter escolhido esta imagem aí ao lado para ilustrar esta postagem, mas, no momento não me passa uma mais significativa. 
O assunto reforma política, nos remete à lembranças que justifica tal escolha. 


O Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais iniciaram seu período de recesso de meio de ano, com pouco avanço, no plano nacional, das modificações preconizadas pela reforma política, há muito intentada. As onze sugestões recolhidas pela comissão especial do Senado Federal, constituída para propor as mudanças, foram apreciadas pela Comissão de Constituição e Justiça, obtendo-se o consenso para aprovação de sete delas.

Os senadores rejeitaram, no âmbito da CCJ, o fim das reeleições e a ampliação dos mandatos dos cargos executivos de quatro para cinco anos. Dois outros pontos centrais dependem, ainda, de aprovação: o financiamento público de campanha e o voto em lista fechada. O primeiro conta com adesão majoritária de todos os políticos, pelo possível reforço financeiro a ser bancado pelo Tesouro Nacional, se a matéria for aprovada; o segundo é polêmico, por envolver opiniões contraditórias dos dirigentes partidários.

Essas proposições deram largo passo, mas ainda dependem da manifestação do plenário. Enquanto isso, na Câmara dos Deputados, o atraso na tramitação do seu conjunto de ideias modificadoras do sistema político está inviabilizando a vigência da reforma para as eleições programadas para o ano vindouro. O descompasso no calendário das comissões especiais incumbidas de estudar a reforma inviabiliza na prática a vigência das mudanças cogitadas, por não haver tempo para sua aprovação até 7 de outubro de 2011, quando se dá a marca de um ano antes do próximo pleito.

O Tribunal Superior Eleitoral aprovou o calendário das eleições municipais. Por ele, os partidos políticos concorrentes deverão estar registrados com um ano de antecedência. O mesmo prazo vale para a filiação partidária, o domicílio eleitoral dos candidatos e as normas reguladoras da campanha eleitoral. Por isso, as modificações em estudo deveriam estar materializadas em dispositivos legais até o dia 7 de outubro vindouro, fato impossível de acontecer.

O Senado Federal foi mais expedito no exame das mudanças, notadamente quanto à redução do número de suplente dos senadores, o fim das coligações nas eleições proporcionais, a unificação das eleições gerais e municipais a partir de 2018, a mudança na data de posse dos prefeitos (5 de janeiro), governadores (10 de janeiro), presidente da República (15 de janeiro) e a necessidade de um referendo popular para validar as alterações sugeridas. A Câmara dos Deputados deverá apreciar as sugestões formalizadas pelo Senado. O mesmo rito será feito em relação às mudanças saídas da Câmara.

A tese do voto em lista fechada será um dos grandes estorvos da reforma política pela radicalidade das mudanças pretendidas. O eleitorado nunca foi educado para valorizar os partidos políticos, exigir o cumprimento de suas plataformas e a coerência quanto a seus princípios. O costume, no ato de votar, prestigia essencialmente o nome do candidato, sem valorizar a estrutura partidária. Inverter essa lógica vai exigir o fortalecimento das siglas partidárias e maior convívio em suas fileiras, dois objetivos para o futuro.

domingo, 17 de julho de 2011

Lei que promete reduzir juros é sancionada; saiba como



Cadastro positivo ainda precisa de regulamentação para disciplinar o funcionamento do sistema; pontos prejudiciais ao consumidor foram vetados
A Lei 12.414, que cria o “cadastro positivo” – uma lista de bons pagadores que poderá ser consultada por instituições financeiras para a concessão de crédito – foi publicada no Diário Oficial da União. A medida é apontada como mecanismo de redução dos juros das operações de crédito para o consumidor que mantém suas contas em dia.
A presidente Dilma Rousseff cedeu as pressões das entidades de defesa dos consumidores e sancionou o texto com veto aos três pontos que violariam a privacidade dos clientes e possibilitariam a discriminação velada na concessão de crédito.
Ficou de fora da lei o artigo que permitia que as informações disponibilizadas no cadastro pudessem ser acessadas e utilizadas indiscriminadamente, sem a autorização do consumidor e violando o sigilo de seus dados.
Também foi vetado o trecho que não permitia o cancelamento, por parte do consumidor, de seu cadastro a qualquer momento. Dilma vetou ainda o artigo que não permitia ao consumidor acessar as informações do seu cadastro quando lhe conviesse, limitando os acessos gratuitos a apenas uma vez a cada quatro meses.
A adesão ao cadastro positivo é facultativa e o governo ainda estuda a regulamentação para disciplinar o funcionamento do sistema. “A lei hoje aprovada é resultado de um longo trabalho de acompanhamento e participação da sociedade nas mais diversas formas, o que define a vitória do consumidor”, afirma a gerente jurídica do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), Maria Elisa Novais.
Especialistas acreditam que os benefícios da medida serão notados no médio prazo. Estimativas apontam que será necessário um período de 12 a 18 meses para a criação do banco de dados e para que as instituições financeiras desenvolvam as políticas de crédito para os bons pagadores.
Adesão
O consumidor deve avaliar bem antes de autorizar o uso de seus dados para o cadastro, pois além da pontualidade de pagar as contas, outras informações sobre a vida financeira também serão pesquisadas e armazenadas. O alerta é da ProTeste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor).
Quem entrar no cadastro positivo e não mantiver as contas em dia perde o benefício de contratar crédito com taxas mais atrativas. Assim, as informações podem se virar contra o próprio consumidor. A entidade teme que a Lei possibilite risco de “haver diversas categorias de bons pagadores sem muita transparência sobre os critérios usados na classificação”. O projeto do Cadastro Positivo tramitava no Congresso há oito anos, se transformou em Medida Provisória no final de 2010 e virou Projeto de Lei de Conversão (MP alterada pelo relator) para ser aprovado.

A mãe do PAC

Mary Zaidan


Cria cuervos
Por *Mary Zaidan

Em março de 2008, no Complexo do Alemão, no Rio, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva criava o título de mãe do PAC para a sua ministra da Casa Civil Dilma Rousseff. “É ela que cuida, cobra, vê o andamento das coisas.”
Dias depois, nas comemorações do Dia Internacional da Mulher no Congresso Nacional, Dilma aceitava a insígnia. “Para o bem ou para o mal, eu sou a mãe do PAC”; iria se exibir assim, por mais de dois anos, em todos os palanques do país.
A idéia, bem arquitetada e bem sucedida, era disseminar a capacidade gerencial de Dilma, a escolhida.
Naquela época, a mesma penca de suspeitos tocava – e continua tocando - a maior parte dos recursos do PAC.
Aboletados no Ministério dos Transportes, com o patrocínio do ex-PL, atual PR, ali estavam o ex-ministro Alfredo Nascimento e seu chefe de gabinete Luis Tito Bonvini, os presidentes da Valec, José Francisco Neves, e do Dnit, Luiz Antônio Pagot. O recém-defenestrado José Henrique Sadok de Sá e o atual ministro, Paulo Sérgio Passos.
Tudo e todos sob os olhos maternos de Dilma.
Difícil crer que ela não soubesse, ou não desconfiasse, das falcatruas dessa turma. Pior: se ignorava as aves de rapina que só nos primeiros meses de seu governo foram aquinhoadas com 68,5% do dinheiro pago pelo PAC, não merecia a fama de competente.
Muito menos de mãe, dado o descaso com a cria.
O PAC está lotado de problemas. Não chegou nem perto das metas no saneamento ou na saúde. Está longe de cumprir o mínimo previsto para a infraestrutura - os usuários de aeroportos, rodovias e ferrovias que o digam.
E muito menos de se livrar de obras superfaturadas, erros de projeto e indução em licitações.
De acordo com o Tribunal de Contas da União, ao Ministério dos Transportes cabe o maior naco de contratos sob suspeita, com desvios que batem na casa dos R$ 3 bilhões. Há indícios e mais indícios de irregularidades, alguns já detectados pela Polícia Federal.
Mas Dilma só encarnou a mãe severa quando a imprensa trouxe à tona os descalabros. Ainda assim, o fez com parcialidade, zangando-se com uns e acarinhando outros.
Manifestou confiança em Nascimento, que seria preservado se o jornal O Globo não descobrisse o fabuloso enriquecimento de seu filho. Fez mesuras para o PR, mantido como dono e senhor da mesma sesmaria que lhe rende frutos desde o início do governo Lula.
Mãe do PAC era apenas um título marqueteiro, coisa de campanha, que nada vale hoje em dia. Mas as falhas de lá somadas ao ziguezaguear de agora imprimem as primeiras marcas em Dilma e no seu governo. E elas estão longe de serem animadoras para a pátria-mãe.

Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan

sábado, 16 de julho de 2011

BRASIL PODE SER SOLUÇÃO ALTERNATIVA PRA CRISE ECONÔMICA E POLÍTICA na UE e nos EUA


Brasil pode ser solução alternativa para crise econômica e política na UE e nos EUA
A ameaça de calote em certos países da União Europeia (UE) e o impasse político sobre a dívida pública dos Estados Unidos levaram alguns comentaristas a estabelecer paralelos entre as duas crises.
Gideon Rachman, editor-chefe do serviço internacional do jornal britânico "Financial Times" expôs os dados do problema. Segundo ele, os EUA e a UE se desenvolveram seguindo padrões históricos distintos.
De um lado, haveria o modelo europeu baseado no intervencionismo governamental e no Estado de bem-estar social (Welfare State), ou seja, nas garantias da saúde e do ensino público e de uma legislação protetora dos assalariados. De outro lado, o modelo americano, fundado na iniciativa privada, na livre empresa e na flexibilidade do mercado de trabalho.
Contudo, defende Rachman, os dois modelos enfrentam atualmente os mesmos entraves : "O problema básico é o mesmo. Os Estados Unidos e a União Europeia têm suas finanças públicas fora de controle e possuem sistemas políticos que não conseguem resolver o problema. A América e a Europa estão afundando no mesmo barco".
Prolongando a discussão, o editorial do jornal parisiense "Le Monde" situou a reflexão numa perspectiva histórica : "Os filósofos terão que estudar um dia esta características das democracias ocidentais deste começo do século 21: elas estão todas gravemente endividadas. Além do mais, essencialmente, este endividamento público precede a crise financeira de 2008-2009".
Um dos colunistas da revista "Economist" (que assina sempre com suas iniciais, M.S.), retomou o assunto no contexto global. Frente à crise econômica das democracias ocidentais, observa M.S., o crescimento da China enfraquece o argumento de que a democracia é uma condição necessária para o progresso econômico.
No final das contas, os desdobramentos da crise econômica e governamental na UE e nos EUA trazem de novo à ordem do dia as interrogações sobre a eficácia dos regimes políticos ocidentais e sobre os valores intrínsecos da democracia.
Para além do caso da China, tais dúvidas dão de novo destaque às vias políticas e econômicas seguidas pelos diferentes países emergentes. Neste contexto, a consolidação do grupo dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), segundo a formulação elaborada pela economista Jim O’Neill, (o qual desconsidera a inclusão da Africa do Sul no grupo, visto que o país possui apenas 50 milhões de habitantes), oferece à democracia brasileira todo a sua singularidade.
De fato, o Brasil é o único país dos Brics que se apresenta como uma plena democracia (ao contrário da Rússia e da China) e que não tem graves clivagens étnicas ou ameaça de conflito atômico com seus vizinhos (caso da Índia).

Por Luiz Felipe de Alencastro Colunista do UOL

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Este é um blog de ideias e notícias. Mas também de literatura, música, humor, boas histórias, bons personagens, boa comida e alguma memória. Este e um canal democrático e apartidário. Não se fundamenta em viés políticos, sejam direcionados para a Esquerda, Centro ou Direita.

Os conteúdos dos textos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores, e nem sempre traduzem com fidelidade a forma como o autor do blog interpreta aquele tema.

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