Depois de mais de um ano
deixado de lado, volto com essa que foi uma ideia iniciada nos primeiros meses
de 2013, que teve e tem por objetivo, repostar aqui no Blog, postagens
relevantes feitas nas redes sociais. Nesta quinta edição do “Pescado
no Facebook” escolhi a publicação do Octavio Caruso,
que é escritor, ator e critico de cinema.
Octavio Caruso trata com
propriedade o fato do comodismo e o medo das mudanças tão presentes na
sociedade contemporânea.
Boa leitura!
Por Octavio Caruso*
Existe uma grande parte da sociedade
que se acostumou a ser como uma aranha constantemente amedrontada, posicionada
no centro de um círculo de chifres de unicórnio. Misticismo e teatralidade,
ferramentas utilizadas historicamente para controlar os seres humanos. São
raras as aranhas que questionam e conseguem enxergar que unicórnios não
existem, logo, entendem que o círculo místico que os limita, na verdade, é
formado por mundanos e inofensivos ossos de galinha.
O poder de um homem ideologicamente
livre é impossível de ser contido pelos grilhões da ignorância consciente e
meticulosamente administrada por aqueles que intencionam controlar outrem,
movidos pela ganância ou por uma noção abstrata de um bem comum maior. A
escuridão conduz à possibilidade de diversas interpretações, especialmente
aquelas equivocadas, conduzindo ao radicalismo, ao torpor da cegueira
intelectual.
A aranha se aproxima dos chifres de
unicórnio, com a curiosidade natural que impulsionou o homem em cada descoberta
importante, o desejo que motivou o atrito de pedras e a primeira faísca de
fogo. O medo a detém, as lendas que foram nutridas através do tempo, a ira do
unicórnio. Um sistema que dita costumes e fomenta preconceitos, que necessita
segregar, no intuito de distinguir escolhidos e ignorados, especiais e aqueles
que ainda não foram tocados pelo divino. O problema está na força que
teoricamente prega a bondade mais acalentadora, o erro ocorre quando se limita
a complexidade do ser humano a qualquer manual de regras. A aranha estende
lentamente uma de suas patas, tentando tocar o universo desconhecido que se
localiza além dos chifres do unicórnio. O conformismo a detém, a necessidade de
se misturar na multidão, viver mentiras frágeis e defendê-las sem convicção. O
hábito de falar incessantemente, uma balbúrdia de sons desconexos que não
significam nada, usualmente debochando daqueles mais calados, que preferem
escutar, tornando-os alvo de escárnio nos grupos sociais. Exatamente por
estarem conscientes de que somam no coro da propagação de uma farsa, eles não
ousam tornar público o pavor que sentem da pungência da verdade que reside no
silêncio.
A pata da aranha toca o solo
desconhecido, reconhecendo-o como tendo a mesma textura e temperatura daquele
em que habitava até segundos atrás. O desconhecido é formado da mesma matéria
que o conhecido. Não há mais medo, apenas coragem, a curiosidade natural
desperta após um longo repouso. O ser humano finalmente evolui, até que novos
sistemas voltem a ser criados na tentativa de controlá-lo. A aranha está livre.
***
"Que o unicórnio não amedronte
mais as aranhas. Que o passar do tempo realmente signifique o acúmulo de
conhecimento, não apenas a aproximação da inexorável finitude. Que não se
disfarce a preguiça intelectual com coitadismo. Que o conforto seja temido mais
do que a ousadia. Que eu possa continuar contando com o seu carinho, querido
leitor. Obrigado pela companhia até este momento."
Postado no Facebook (Grupo Consciência Política Razão Social)
*Octavio Caruso – Ator, Escritor e Crítico de Cinema