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segunda-feira, 17 de abril de 2017

No Brasil demorou, mas o Almagesto não resistiu ao Heliocentrismo


Por Dag Vulpi 17/04/2017

Estava eu revendo alguns rabiscos que tracei nos últimos anos, quando me chamou a atenção um determinado parágrafo que colo abaixo.

//... Para Ptolomeu, o grande astrônomo egípcio, a terra era o centro do universo e essa verdade arrastou-se por séculos, até que 1.340 anos depois, apesar da imensa resistência e perseguição, Copérnico criou uma mudança naquele paradigma ao colocar o sol no centro. E foi a partir daquela mudança de percepção que tudo o que antes se acreditava ser a verdade absoluta, passou a ser interpretado de modo bem diferente...//

Este parágrafo foi tirado de uma postagem onde eu sugeria que talvez a mais importante noção a ser aprendida com a demonstração da percepção, esteja na área de mudança no paradigma, àquilo que poderíamos chamar de experiência do tipo Ah-ah! - onde uma pessoa finalmente "vê" o desenho inteiro de outro modo. 

Por uma razão lógica, ao menos para mim, o conteúdo daquele paragrafo me despertou uma visão análoga aos últimos acontecimentos políticos pelos quais passa o nosso país. E eu convido o amigo leitor a me acompanhar nessa analogia. Garantindo-lhe que chegando ao ponto derradeiro desse texto restarão apenas duas possibilidades, ou estaremos de acordo e nesse caso nossas expectativas convergirão para um único ponto ou, o máximo que poderá acontecer é de as nossas opiniões serem diversas. Nesse caso posso garantir-lhe que, caso seja do seu interesse, poderemos estende-lo para o espaço democrático dos comentários, o que por certo renderá um bom debate.

Muito bem, para alinharmos nossas percepções sobre a proposta e chegarmos, ou não, a um ponto de convergência, detalharei, esforçando-me para não me estender além do necessário, nas minucias que sedimentaram as minhas considerações desta analogia.

É de conhecimento de todos aqueles que tenham acesso às informações, ainda que aquelas sejam na maioria das vezes tendenciosas e enviesadas, que o Brasil está passando por momento onde a idoneidade de seus três Poderes está sendo colocado em cheque.

Enfim levantou-se o tapete da moralidade deixando a amostra uma montanha de sujeira que segundo o empresário Emílio Odebrecht em seu depoimento ao Ministério Público Federal (MPF), como parte do acordo de delação premiada, foi acumulada durante os últimos trinta anos. O empresário ex-presidente executivo e atual presidente do conselho de administração da empreiteira Odebrecht, disse que o esquema descoberto pela Operação Lava Jato ocorre há mais de 30 anos na relação da construtora com a classe política. Corroborando com a afirmativa do ex-presidente, está a fala do empresário Marcelo Odebrecht que, num dos seus depoimentos gravados pela força-tarefa de investigadores da Operação Lava Jato e divulgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), afirma que está mentindo o político que disser não ter recebido valores não contabilizados em campanhas eleitorais. "Político que disser que não recebeu caixa 2 está mentindo", diz Odebrecht.

Dessarte, podemos ir ao ponto onde sugeri que haveria espaço para uma analogia.

Iniciemos por Cláudio Ptolemeu, ele foi um respeitável cientista grego que viveu em Alexandria entre os anos 90 e 160 (há controvérsias quanto à exatidão dessas datas). Ele é reconhecido por seus trabalhos em matemática, astrologia, astronomia e geografia. Realizou também trabalhos importantes em óptica e teoria musical. Na época de Ptolomeu os estudos tendiam a mesclar ciência e misticismo.

A astrologia ocupava-se dos estudos da localização e movimento dos corpos celestes, mas também da associação da localização dos mesmos com a adivinhação. Por essa razão, séculos mais tarde, houve a necessidade de separar o componente científico da mística e criou-se o termo "astronomia" para referir o estudo apenas do componente científico. A sua obra mais conhecida é o Almagesto, que significa "O grande tratado", um tratado de astronomia. Nela está descrito todo o conhecimento astronômico babilônico e grego e nela se basearam as astronomias árabes, indianas e europeias até o aparecimento da teoria heliocêntrica de Copernico. No Almagesto, Ptolomeu apresenta um sistema cosmológico geocêntrico, isto é, a Terra está no centro do universo e os outros corpos celestes, planetas e estrelas, descrevem órbitas ao seu redor. Estas órbitas eram relativamente complicadas resultando de um sistema de epiciclos, ou seja, círculos com centro em outros círculos. Ptolomeu foi considerado o primeiro "cientista celeste".

Passemos agora para Nicolau Copérnico (1473 a 1543). Ele foi um astrônomo e matemático, polonês, foi também cónego da Igreja Católica, governador e administrador, jurista, astrônomo e médico. Na época de Copérnico os estudos não mesclavam ciência e misticismo. Foi ele que desenvolveu a teoria heliocêntrica do sistema solar. Na sua teoria o sol ficou como o centro do sistema, contrariando a então vigente teoria Geocêntrica de Ptolomeu (que considerava a terra como o centro), é considerada como uma das mais importantes hipóteses científicas de todos os tempos, tendo constituído o ponto de partida da astronomia.

Muito bem, considerando a complexidade da corrupção que está instalada no Brasil, exemplifiquei, valendo-me de uma argumentação radicalmente sintetizada, os depoimentos de dois presidentes, o atual e o do seu antecessor, da principal empresa envolvida no esquema político/empresa/corrupção.

A analogia que faço e compartilho com o amigo leitor, orbita em torno da afirmativa de Ptolemeu, onde, mesclando ciência com adivinhação e misticismo, criou o Almagesto. Conseguindo com isso sustentar por quase um milênio e meio sua teoria que foi passada e endossada por cientistas, astrônomos, matemáticos, místicos e adivinhos por várias gerações, até que finalmente, 1473 anos depois, a verdade enfim se fez presente. Coube a Copérnico desenvolver a teoria do Heliocentrismo. Uma teoria embasada por estudos científicos e não por adivinhações.

Assim como ha quase dois mil anos o “grande tratado" de Ptolomeu enganou muitos durante muito tempo, aqui no Brasil, criou-se um “grande tratado moderno" que foi compactuado entre uma Justiça caolha, mesquinha e pessimamente representada em conluio com uma mídia igualmente mesquinha, seletiva, descompromissada com a verdade e representada por pseudojornalistas e uma corja de políticos corruptos. Juntos, essas três entidades conseguiram conscientemente enganar muitos brasileiros durante muito tempo, vendendo a ideia de que a corrupção no Brasil estaria a cargo de um único partido e de alguns políticos a aquele filiados.

Apesar de o “Almagesto moderno” ter provocado estragos irreparáveis, como no caso do impeachment da presidente Dilma, felizmente a verdade não ficou oculta por mais de mil e quatrocentos anos. O nosso Heliocentrismo moderno veio para desnudar a falácia dessa mídia venal com seus jornalistas de moral rasa e ódio abundante que salivaram sua baba gosmenta e fétida por décadas, conseguindo, assim como Ptolemeu, enganar muitos por bastante tempo.


Agora, depois que finalmente o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou abertura de inquéritos para investigar políticos citados nas delações da Odebrecht eu finalmente posso dizer: 

Ah-ah! Pois sei que muitos estão finalmente "vendo" o desenho inteiro de outro modo.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Eleições passadas e futuras: consciência do eleitor capixaba


Por Dag Vulpi – 04/04/2017

Faço esta postagem com a intenção de que ela chegue e se possível sensibilize um público específico, refiro-me ao meu digníssimo e seleto amigo leitor capixaba, morador deste querido estado do Espirito Santo e que, nas eleições de 2014 escolheu democraticamente um, entre os 157 candidatos que disputavam uma vaga na Câmara Federal para ser o seu legítimo representante.  

É importante ressaltar que naquelas eleições existiam 157 opções de voto para deputado Federal a nosso dispor e que, por decisão da maioria dos capixabas, escolhemos os dez nomes que somados aos demais 503 candidatos também escolhidos através do voto direto em todo o território nacional, totalizariam os 513 representantes da nação que juntos decidiriam nos próximos quatro anos, através de suas decisões, as Leis que poderiam beneficiar, caso suas escolhas fossem as mais acertadas e preocupadas com os seus representados, ou prejudicar-nos, caso suas intenções sejam a de preocuparem-se exclusivamente com os seus próprios interesses.

Confira abaixo como ficou a composição da Câmara dos Deputados pelos dez candidatos capixabas eleitos democraticamente pelo voto proporcional e direto que nos representarão no quadriênio 2015/2018:

 - Sérgio Vidigal (PDT)
 - Lelo Coimbra (PMDB)
 - Max Filho (PSDB)
 - Foletto (PSB)
 - Helder Salomão (PT)
 - Dr. Jorge Silva (Pros)
 - Carlos Manato (SD)
 - Givaldo (PT)
 - Evair de Melo (PV)
 - Marcus Vicente (PP)

Dito, e feito esse importante esclarecimento, vamos ao ponto que realmente interessa que é a crítica à aprovação na Câmara dos Deputados, do Projeto de Lei (PL) 4.302/1998 ocorrida na quarta-feira (22/03/2017). Projeto esse que libera a terceirização para todas as atividades das empresas. Com a aprovação dessas novas regras a tendência é a de que vão diminuir os salários e o número de vagas de trabalho em tempo integral, precarizando a vida dos trabalhadores de todo o país.

Volto agora ao inicio da postagem, onde lembrei aos distintos leitores, no caso os capixabas, que em 2014 tínhamos à nossa disposição 157 opções de voto para a Câmara Federal e que, dentre aqueles escolhemos dez nomes para nos representar. Ao escolhermos aqueles dez nomes nós estávamos outorgando-lhes uma procuração em branco, onde confiávamos a aqueles totais direito para decidirem em nossos nomes, tudo que fosse levado para votação naquela casa de Leis.  

É bom guardarmos os nomes dos três deputados capixabas que votaram a favor da aprovação do Projeto de Lei de terceirização para que, quem ficou feliz com a aprovação, possa lembrar e confiar-lhes mais uma vez o seu voto nas eleições de 2018 e, para quem ficou decepcionado, lembrar-se de jamais voltar a confiar seus votos a esses candidatos.

Os três candidatos capixabas que votaram favoravelmente a aprovação do Projeto de Lei da terceirização, foram:

 - Lelo Coimbra (PMDB)
 - Carlos Manato (SD)
 - Marcus Vicente (PP)

Confira abaixo as opiniões do subprocurador-geral do Ministério Público do Trabalho (MPT), Ricardo José Macedo de Britto Pereira e do presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait), Carlos Fernando da Silva Filho, sobre esse tema.

O presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait), Carlos Fernando da Silva Filho, fez críticas à proposta de reforma trabalhista. Para ele, as novas regras vão diminuir os salários e o número de vagas de trabalho em tempo integral, precarizando a vida dos trabalhadores. Ele avalia que a aprovação da proposta vai incentivar a contratação de mais trabalhadores de tempo parcial pelas empresas, ao permitir que esses empregados trabalhem 32 horas semanais, em vez das 25 horas atuais.

O que está na reforma sobre o trabalho em tempo parcial é na verdade uma das iniciativas que vai promover a redução salarial e assim concorrer com as vagas que queremos aumentar que são as vaga em tempo integral e por prazo indeterminado porque são essas que têm uma ligação direta com a própria natureza do trabalho e do emprego - Carlos Fernando da Silva Filho.

Direitos

Para o subprocurador-geral do Ministério Público do Trabalho (MPT), Ricardo José Macedo de Britto Pereira, a maior rotatividade dos trabalhadores pode comprometer a concessão de benefícios básicos, como décimo terceiro salário e férias.

O problema é que toda vez que você coloca um intermediário na relação de trabalho, haverá a tentativa de explorar para ter ganho maior. A empresa que faz intermediação [terceirizada] também quer ganhar. Além disso, não há nenhuma garantia de que o empregador não dispense o seu empregado direto e o contrate em seguida em uma empresa prestadora de serviços. A lei não previu isso. Agora tem esse risco, o que é muito ruim - Ricardo José Macedo de Britto Pereira).

Segundo ele, outro ponto negativo é a permissão de empresas com capital social muito baixo. De acordo com a nova lei, empresas com até dez empregados deverão ter capital mínimo de R$ 10 mil.

São pequenas empresas que não terão o cuidado necessário com o ambiente do trabalho, e isso só vai confirmar dados de que a terceirização causa o adoecimento no trabalho, alto grau de acidentes, violação de vários direitos, enumera.

Para o representante do MPT, órgão que anteriormente havia divulgado uma nota técnica solicitando o veto, a lei não traz direitos, apenas uma liberação geral no campo das relações de trabalho. Ele acredita que as diversas interpretações da legislação darão espaço a questionamentos no Poder Judiciário, tanto na Justiça do Trabalho quanto no Supremo Tribunal Federal (STF). Além do caso analisado esta semana no STF, que tirou a responsabilidade da administração pública em passivos trabalhistas, outros recursos relativos à terceirização tramitam na corte.

Divulgado em março, estudo feito pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que os trabalhadores terceirizados recebem salários entre 23% e 27% mais baixos, têm uma jornada maior e ficam durante menos tempo na empresa.

Com base em dados do Ministério do Trabalho e na Classificação Nacional de Atividades Econômicas, o estudo comparou informações registradas entre 2007 e 2014. Mostrou também que a rotatividade dos terceirizados e o afastamento por acidente de trabalho são maiores que entre os contratados diretamente.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Um novo estatuto do PT, Reforma Política Interna


Por Dag Vulpi 10/05/2011 editado em 14/02/2017
O PT era um partido que se destacava por valorizar a participação democrática de sua militância nas tomadas de decisão de sua legenda. E esse era um diferencial em relação aos demais partidos.  Porém, com a chegada e permanência no poder ele começou a dar impressão de perda da identidade, afastando-se das raízes ideológicas e tornando-se um partido comum, mostrando vícios que o nivelam com os demais. O PT perdeu a capacidade de pensar estrategicamente e se sobrepor às disputas internas, fazer das ideologias as lutas maiores e mais importantes para o partido. Os verdadeiros petistas perderam espaço dentro do PT, por excesso de desunião, projetos pessoais, e principalmente, com a ausência de projetos nacionais.

Já se passaram sete anos da realização do 4º Congresso Nacional do PT ocorrido em fevereiro dos idos anos de 2010. Nele deliberou-se pela realização de um amplo debate a respeito de sua trajetória organizativa e dos desafios presentes e futuros daquela instituição partidária que naquela data completava 31 anos de fundação. 

Aquele congresso teve por objetivo principal atualizar seu estatuto partidário e reforçar os instrumentos institucionais internos que garantiriam a democracia e concepção organizativa do partido. 

Passados sete anos, o que mudou no PT? 

Se algo mudou, essa mudança foi benéfica ou o tempo provou que as lideranças do partido estavam completamente equivocadas na forma escolhida para promover as tais mudanças tão necessárias?

A resolução que estabeleceu essa reforma definiu uma pauta obrigatória, fruto das reflexões acerca da vivência política que os levou a tantas vitórias importantes, mas que também passou por crises e impasses marcantes.

Debateu-se o financiamento da atividade partidária, ou seja, foram discutidas sem reservas as formas de sustentar materialmente o partido e reduzir sua dependência de financiamentos externos. Aquele foi um ponto decisivo para estabelecer, de forma transparente, uma estratégia permanente que viabilizaria o crescimento sustentável de sua presença política na sociedade.

Naquele congresso também destacou-se a necessidade de ser mantido o caráter coletivo das campanhas eleitorais do Partido, ou seja, como garantir que os projetos individuais não se sobreponham às demandas coletivas e à democracia interna. Em um partido como o PT, o risco de tornarem-se reféns da estrutura política externa ao partido é sempre presente, quanto mais o partido cresce mais seus líderes tornarem-se atores decisivos da vida política da Nação.

Tratou-se também e especialmente, da necessidade de aumentar o número de filiados e melhorar a vida orgânica do Partido. O PT, na maioria das pesquisas de opinião, tinha mais de 20% de simpatia popular, em torno do triplo do segundo colocado, o PMDB, que registrava entre 6 a 9% dos pesquisados. É razoável que o partido tenha a ambição de trazer 20% desses simpatizantes, para o ato de filiação formal ao partido com o qual se identificam. Isso representaria quintuplicar o quadro. Mas para que isso fosse conquistado de consciência e participação, teriam que tratar da ampliação da democracia interna, inclusive garantindo formação política e comunicação interna regular para o conjunto dos filiados. Por mais que o PT fosse a experiência mais efetiva de participação partidária do Brasil naquele ano e referência para inúmeros partidos de outros países nesse aspecto, sabia-se que havia um enorme desafio para superar o abismo entre a filiação e a real participação democrática nos rumos da vida interna do partido.

As experiências positivas e negativas verificadas nos PEDs de 2001 a 2009 haviam determinado o desafio de consolidar o instrumento do voto direto e afastar do seu caminho os desvios típicos das disputas eleitorais despolitizadas. Para tanto, era necessidade urgente o fortalecimento da capacidade dirigente das instâncias partidárias.

A combinação entre a agenda institucional do Partido e as lutas sociais determinava o caráter multifacetado de um partido que buscava intervir nos mais variados espaços do Brasil. Para que isso se sustentasse em termos estratégicos, era vital capacitar o Partido para o debate ideológico e programático em curso na sociedade brasileira da época.

O debate a ser feito seria determinante para que a construção partidária se consolidasse nos próximos anos. Mais que discutir regras isoladas de eleição de instâncias, o fundamental era ousar no projeto organizativo e buscar a qualidade das relações políticas como insumo básico para seu projeto político.


No momento em que a sociedade brasileira retoma a questão da reforma política, a primeira iniciativa de sua reforma interna deveria ser a participação das bases do partido na discussão. As centenas de milhares de filiados deveriam dar a demonstração de que aquele não era um problema da direção, nem as respostas viriam da cúpula. O PT sempre mostrara que a militância é que defendia e protegia o partido, na luta pela democracia de seu projeto socialista. 

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Muito obrigado Tadeu Spalenza

Dag Vulpi

Venho publicamente agradecer ao amigo Tadeu Spalenza por ter me oportunizado a honra de caminharmos juntos nesses mais de quarenta dias, que foi o tempo transcorrido entre o planejamento da nossa campanha e o dia derradeiro das eleições, 02 de outubro.

Além de agradecer quero parabeniza-lo por sua honradez e a forma limpa com a qual tratou esse processo eleitoral.

Apesar de o resultado não nos ter sido favorável, ainda assim, estou convicto de que fizemos a campanha de forma acertada, e que, se por um lado não saímos vitoriosos no pleito, por outro, saímos de cabeça erguida, afinal fizemos uma campanha pautada pela ética.

Agradeço também a toda a equipe por ter abraçado a ideia e seguir juntos com um único propósito até o ultimo momento. Sei do esforço que cada um de vocês fizeram. As variáveis que a natureza impôs não foram suficientes para conseguir fazer com que a equipe desistisse de levar o nome e as propostas do nosso candidato.

Infelizmente 75% dos moradores do Soteco mais uma vez optaram por votar nos candidatos residentes em outros bairros, deixando-nos assim, mais uma vez desamparados de representatividade na Câmara Municipal por mais quatro anos.

Penso que o momento é oportuno para que cada um de nós procure avaliar onde houve erros, se é que eles existiram, para que não voltemos a repeti-los no futuro.

O momento é de reflexão, tanto para os candidatos, quanto para a comunidade, de forma que, juntos possamos entrar num entendimento e nos pleitos futuros possamos eleger um representante entre os moradores do nosso bairro.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

A desimportância de dizer o que o outro não deseja ouvir


Dag Vulpi - 12 de agosto de 2016


É normal para o ser humano priorizar as informações que confirmem suas crenças ou hipóteses, independentemente de serem ou não verdadeiras. Como resultado, as pessoas colhem evidências e trazem informações da memória de forma seletiva, interpretando-as de maneira, às vezes, enviesada (tendenciosa). O efeito é mais forte no caso de assuntos que envolvem o emocional e nos casos em que se está lidando com opiniões fortemente arraigadas.


Inicialmente, meu propósito seria escrever um artigo que esclarecesse de uma vez por todas essa celeuma que envolve as urnas eletrônicas e as desconfianças de fraudes que as cercam todas as vezes que terminam as apurações dos votos e os vitoriosos não foram aqueles que alguns desejavam que o fossem. Os derrotados, invariavelmente, colocam sob suspeita a confiabilidade das desafortunadas urnas e fazem isso sem a menor desfaçatez, pois muitos dos agora derrotados e chorosos não questionaram a confiabilidade daquelas quando seus escolhidos saíram-se vitoriosos em pleitos passados.


Ao mesmo tempo em que digito, e por mais que me certifique de tratar das veras que envolvem o tema, prevejo que a estas alturas, mesmo ainda estando na apresentação do texto, alguns já estejam em desarmonia com o que assevero. Desarmonia essa que tentarei reverter, ao menos para aqueles que conferirem o texto na íntegra e com a atenção necessária. Certamente não haverá unanimidade, mas isso muito provavelmente se justificará pela inevitável interferência dos seus vieses de confirmação.


Pensando nessas hipóteses, me veio à memória duas situações que, apesar de distintas, sintetizam bem essa ideia.


A primeira lembrança que tive foi relacionada aos livros de cânticos que são entregues nas entradas das igrejas. Explico.


Quando vou à missa, percebo que na entrada da igreja ficam aquelas senhorinhas entregando aqueles livretos onde, com todo o esmero, elas os organizaram. Certamente, até se reuniram com antecedência para certificarem-se de que tudo sairá nos conformes. Pois bem, quando finalmente chega o momento para os livretos serem usados, que é quando o celebrante avisa, “abram o livro de cânticos na página tal". Naquele momento ocorre algo inusitado, ao menos para mim, pois a maioria das pessoas, por conhecerem os louvores, abre o livreto na página determinada, mas sequer lançam os olhos sobre sua letra, afinal, para quem sabe a letra o livreto faz-se desnecessário. Por outro lado, há também aqueles que não sabem a letra, que na maioria das vezes é o meu caso. Esse segundo grupo acaba por valer-se do tal livreto, porém, apesar de acompanhar a letra, não conseguem entoá-lo em harmonia com os demais. Resumindo, todo aquele trabalhão feito com tanto carinho por aquelas senhoras acaba sendo em vão.


Outra lembrança que me remete a esse tema é a de uma passagem que vivi logo no início de minha carreira profissional.


Naquela ocasião, eu tinha meus tenros 19 anos e havia sido contratado para trabalhar no hoje extinto Banco Nacional, banco esse que pertencia ao saudoso José de Magalhães Pinto. Muito bem, estando eu com apenas alguns meses de trabalho naquela instituição financeira, na função de escriturário, comecei a observar algumas deficiências que, como é normal em quase toda empresa, passavam despercebidas por aqueles que ali trabalhavam há muito tempo; esse é um "fenômeno" normal, pois é inerente ao ser humano se adequar ao meio em que vive. No entanto, como eu estava quase me formando em administração na época e ainda não havia me adequado completamente ao ambiente de trabalho, ao menos não com aquelas situações que iam ao desencontro do que aprendi na sala de aula, resolvi tentar implantar na prática do meu trabalho o conhecimento absorvido na teoria.


Naquela manhã, assim que o sr. Lourival Lourenço, que era nosso gerente de serviços, chegou, fui até sua sala e perguntei se ele teria alguns minutinhos para ouvir umas ideias que eu havia tido para a melhoria da nossa agência. Prontamente, ele disse que sim, pediu para que a dona Cristina trouxesse dois cafezinhos e mostrando-se muito receptivo, pediu para que eu falasse sobre elas. Aí, eu falei que faria um breve resumo de todas as ideias que eu tinha, e ele falou que estava ótimo para ele. Pois bem, falei superficialmente sobre as propostas, e ele mostrou-se muito interessado, extasiado, diria eu. Ao final, ele levantou-se, bateu nas minhas costas e disse: "Dagmar, você é um jovem de futuro nessa instituição. Por favor, passe essas ideias para o papel que eu as levarei para o nosso gerente geral, mas de antemão, posso garantir-lhe que, se não em sua totalidade, pelo menos 90% do que você sugeriu será implantado, não somente nessa, mas em todas as demais agências Brasil afora, pois essas são deficiências generalizadas dessa instituição".


Com o auxílio da minha inseparável Olivetti, cuidei de transferir para o papel todas as ideias de melhorias que eu considerava pertinentes a serem implantadas. Ao final, somaram-se seis o número de páginas digitadas.


No outro dia, fui até a sala do gerente e deixei sobre a mesa o envelope a ele endereçado. O dia foi passando, e o expediente chegava ao seu fim quando ele me chamou em sua sala. Cheio de otimismo, certo de que as minhas ideias seriam aproveitadas, entrei e fui convidado a sentar. Antecipei-me e perguntei o que ele havia achado das ideias. Ele respondeu que começou a ler, mas que seria mais produtivo caso eu fizesse um resumo das ideias. Saí dali às pressas, fui para a faculdade, chegando em casa por volta das 23:00 hs. Tomei um banho e, de volta à minha velha Olivetti, consegui reduzir de 6 para 3 o número de páginas. No outro dia, logo cedo, deixei sobre a mesa o envelope, agora com as ideias resumidas em apenas três páginas. Lá pelas tantas, o Sr. Lourenço me chamou até a sua sala, e lá fui eu todo animado. Chegando lá, ele pediu os tradicionais 2 cafezinhos para a dona Cristina, mandou que eu me sentasse e disse: "Dagmar, suas ideias são muito interessantes, mas eu preciso que você me faça um favor. Faça um novo resumo, mas coloque somente aquilo que conversamos no primeiro dia."


Resumindo, de que valeriam minhas ideias, ou melhor, do que valeu todo o meu trabalho em chegar da faculdade depois de um dia estressante e detalhar em seis folhas cada passo para a instalação de melhorias, se, no fundo, nada do que eu havia dito teve alguma importância para o gerente?


E assim também acontece por aqui. Estou convicto de que pouco, ou de nada adiantaria estender esse texto teorizando sobre a eficiência e segurança das urnas eletrônicas e tentando desconstruir um pensamento já arraigado no subconsciente de alguns, se para aqueles pouco importarão as minhas justificativas. Afinal, a ideia de que de fato houve fraude, mesmo que não tenha havido, é mais oportuna do que as possíveis provas que comprovem o contrário.


Nosso cérebro procura confirmar os desejos e crenças que temos o tempo todo. Assim, descartamos tudo que não tem a ver com nossas opiniões anteriores e nos atemos a sinais que confirmam o que acreditamos.

Viés de confirmação: Na verdade buscamos apenas confirmar as nossas certezas





Por Dag Vulpi – Postada originalmente em 15/12/2014

No artigo de hoje vamos falar de um assunto que é abordado no livro Manual de Melhoria: o viés de confirmação. Você sabe o que é isto? Muita gente não sabe, mas ele esta presente em quase todas as decisões que tomamos em nosso dia a dia. Sugiro também que após o fim da leitura você assista ao vídeo que está inserido no final desta postagem.

É normal do ser humano priorizar as informações que confirmem suas crenças ou hipóteses, independentemente de serem ou não verdadeiras. Como resultado, as pessoas colhem evidências e trazem informações da memória de forma seletiva, interpretando-as de maneira às vezes enviesada (tendenciosa). O efeito é mais forte no caso de assuntos que envolvem o emocional e nos casos em que se está lidando com opiniões fortemente arraigadas.

Nosso cérebro procura confirmar os desejos e crenças que temos o tempo todo. Assim, descartamos tudo que não tem a ver com nossas opiniões anteriores e nos atemos a sinais que confirmam o que acreditamos. É o que a ciência chama de viés da confirmação, um estudo feito na Universidade de Ohio demonstrou como ele funciona. A pesquisa mostrou que as pessoas passam 36% mais tempo lendo um ensaio que esteja alinhado com suas opiniões do que um que vá contra o que elas pensam.

É inerente ao ser humano tender a considerar apenas as informações que estão de acordo com nossas crenças. Seja quando lemos um livro, assistimos a uma notícia no telejornal, ou mesmo numa conversa entre amigos.  Nas redes sociais, onde cada um de nós pode encontrar milhares, ou milhões, de outras pessoas que concordam conosco, seu poder se amplifica enormemente. Inconscientemente absorvemos aquelas informações que fortalecem nossas crenças e rejeitamos aquelas que vão ao desencontro a elas, independentemente das evidências, das provas, do senso comum, e muitas vezes, até mesmo do bom senso. É a interpretação seletiva e tendenciosa da realidade de acordo com nossos desejos mais íntimos e crenças mais arraigadas. Todos agimos assim, em menor ou maior grau.

O vício em confirmação tem raízes no modo como as emoções funcionam: quando algo reforça nossas crenças, nos sentimos triunfantes; quando são desmentidas, nos sentimos frustrados ou até ofendidos.

Saber que o viés existe, que nossa “busca pela verdade” muitas vezes não passa de uma busca enviesada pela confirmação de velhos preconceitos e ideias pré-fabricadas, é só um começo — mas um começo importante, numa sociedade que convive com fortes emoções e opiniões polarizadas em questões como futebol, moral, religião e também, principalmente, na política.

Além de todos esses conceitos, tem também a impressão, a simpatia e muitos outros julgamentos que fazemos sobre coisas e pessoas, sem nenhum embasamento. Você vê alguém e implica. Não gosta. Talvez por razões subjetivas que nem você conheça.

Em geral, tudo o que lemos, as notícias que buscamos, as pessoas em quem acreditamos, são aquelas que reafirmam o que já pensamos. Primeiro você gosta ou não gosta da pessoa e, em função disso, você vai concordar ou discordar dela.

É muito mais fácil convencer alguém ao usar argumentos que têm a ver com a crença que a pessoa já possui do que propor uma revolução.

O viés da confirmação é realmente algo interessante. Mas há muitas outras demonstrações que provam  como é fácil vender mentiras por causa das associações sem sentido que fazemos. As pessoas tendem a acreditar que todo rico é inteligente (o que não é verdade), que todo famoso é correto (o que nem sempre é verdade), que todo político é corrupto (o que em alguns casos não se confirma), que toda pessoa bonita é boazinha (o que não tem nenhuma ligação).

Existem inúmeras ocasiões em que o viés da confirmação aparece, entre elas podemos citar dois exemplos:

Torcedores fanáticos por determinado time de futebol, que só leem ou acatam argumentos e informações favoráveis ao seu time, refutando todo o resto;
Partidários ou ativistas políticos que buscam somente informações que enalteçam os aspectos positivos do lado que estão, refutando inúmeros escândalos ou provas que demonstrem ao contrário.

Há diferenças insuperáveis entre o “conhecimento” e a “crença”: o primeiro tem a ver com a razão, a realidade e a avaliação criteriosa das evidências; a segunda tem a ver com nossas emoções e com aquilo que desejamos que seja verdade, independentemente das contradições e das evidências. O conhecimento é o filho da razão e a crença é filha de nossos desejos e temores. O conhecimento é amigo das provas e das evidências: admite falhas, muda e assim se fortalece; a crença só admite o que convém e lhe reforça. Algumas vezes a verdade é contra intuitiva e as relações de causa e efeito nem sempre são evidentes, mas a natureza nunca mente. Ela é o juiz supremo de todos os litígios do conhecimento.

Uma maneira bem segura de saber se algo em que acreditamos está sendo influenciado pelo viés de confirmação é saber o que a ciência e os especialistas dizem sobre o assunto. A ciência não é perfeita, mas teorias científicas são permanentemente revisadas e se autocorrigem, impedindo os efeitos nocivos do viés de confirmação. Se a ciência vai de encontro com o que pensamos, devemos entrar em alerta. Ela é e sempre será nossa melhor guia na busca do conhecimento.

Meu objetivo com este artigo, apesar de ter pedido no inicio do texto uma atenção especial daqueles que normalmente divergem das minhas opiniões, não foi o de tentar insinuar que algum dia estive certo por defender algum ponto de vista, mas sim, apresentar uma proposta que possa levar ao entendimento de que em quase tudo, por mais convictos que estivermos, ainda assim, sempre poderá existir mais de uma possibilidade. 

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Este é um blog de ideias e notícias. Mas também de literatura, música, humor, boas histórias, bons personagens, boa comida e alguma memória. Este e um canal democrático e apartidário. Não se fundamenta em viés políticos, sejam direcionados para a Esquerda, Centro ou Direita.

Os conteúdos dos textos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores, e nem sempre traduzem com fidelidade a forma como o autor do blog interpreta aquele tema.

Dag Vulpi

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