Por
Dag Vulpi 17/04/2017
Estava
eu revendo alguns rabiscos que tracei nos últimos anos, quando me chamou a
atenção um determinado parágrafo que colo abaixo.
//...
Para Ptolomeu, o grande astrônomo egípcio, a terra era o centro do universo e
essa “verdade” arrastou-se por
séculos, até que 1.340 anos depois, apesar da imensa resistência e perseguição,
Copérnico criou uma mudança naquele paradigma ao colocar o sol no centro. E foi
a partir daquela mudança de percepção que tudo o que antes se acreditava ser a
verdade absoluta, passou a ser interpretado de modo bem diferente...//
Este
parágrafo foi tirado de uma postagem onde eu sugeria que talvez a mais
importante noção a ser aprendida com a demonstração da percepção, esteja na
área de mudança no paradigma, àquilo que poderíamos chamar de experiência do
tipo Ah-ah! - onde uma pessoa finalmente "vê" o desenho inteiro de
outro modo.
Por
uma razão lógica, ao menos para mim, o conteúdo daquele paragrafo me despertou
uma visão análoga aos últimos acontecimentos políticos pelos quais passa o
nosso país. E eu convido o amigo leitor a me acompanhar nessa analogia.
Garantindo-lhe que chegando ao ponto derradeiro desse texto restarão apenas
duas possibilidades, ou estaremos de acordo e nesse caso nossas expectativas
convergirão para um único ponto ou, o máximo que poderá acontecer é de as
nossas opiniões serem diversas. Nesse caso posso garantir-lhe que, caso seja do
seu interesse, poderemos estende-lo para o espaço democrático dos comentários,
o que por certo renderá um bom debate.
Muito
bem, para alinharmos nossas percepções sobre a proposta e chegarmos, ou não, a
um ponto de convergência, detalharei, esforçando-me para não me estender além
do necessário, nas minucias que sedimentaram as minhas considerações desta
analogia.
É
de conhecimento de todos aqueles que tenham acesso às informações, ainda que
aquelas sejam na maioria das vezes tendenciosas e enviesadas, que o Brasil está
passando por momento onde a idoneidade de seus três Poderes está sendo colocado
em cheque.
Enfim
levantou-se o tapete da moralidade deixando a amostra uma montanha de sujeira
que segundo o empresário Emílio Odebrecht em seu depoimento ao Ministério
Público Federal (MPF), como parte do acordo de delação premiada, foi acumulada durante
os últimos trinta anos. O empresário ex-presidente executivo e atual
presidente do conselho de administração da empreiteira Odebrecht, disse que “o esquema
descoberto pela Operação Lava Jato ocorre há mais de 30 anos na relação da
construtora com a classe política”. Corroborando
com a afirmativa do ex-presidente, está a fala do
empresário Marcelo Odebrecht que, num dos seus depoimentos gravados pela
força-tarefa de investigadores da Operação Lava Jato e divulgados pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), afirma que está mentindo o político que disser não ter
recebido valores não contabilizados em campanhas eleitorais. "Político que disser que não recebeu caixa 2
está mentindo", diz Odebrecht.
Dessarte,
podemos ir ao ponto onde sugeri que haveria espaço para uma analogia.
Iniciemos
por Cláudio Ptolemeu, ele foi um respeitável cientista grego que
viveu em Alexandria entre os anos 90 e 160 (há controvérsias quanto à
exatidão dessas datas). Ele é reconhecido por seus trabalhos em matemática,
astrologia, astronomia e geografia. Realizou também trabalhos importantes
em óptica e teoria musical. Na época de Ptolomeu os estudos
tendiam a mesclar ciência e misticismo.
A
astrologia ocupava-se dos estudos da localização e movimento dos corpos
celestes, mas também da associação da localização dos mesmos com a adivinhação.
Por essa razão, séculos mais tarde, houve a necessidade de separar o
componente científico da mística e criou-se o termo
"astronomia" para referir o estudo apenas do componente científico. A
sua obra mais conhecida é o Almagesto, que significa "O grande
tratado", um tratado de astronomia. Nela está descrito todo o
conhecimento astronômico babilônico e grego e nela se basearam as
astronomias árabes, indianas e europeias até o aparecimento da teoria
heliocêntrica de Copernico. No Almagesto, Ptolomeu apresenta
um sistema cosmológico geocêntrico, isto é, a Terra está no
centro do universo e os outros corpos
celestes, planetas e estrelas, descrevem órbitas ao
seu redor. Estas órbitas eram relativamente complicadas resultando de um
sistema de epiciclos, ou seja, círculos com centro em outros círculos.
Ptolomeu foi considerado o primeiro "cientista celeste".
Passemos
agora para Nicolau Copérnico (1473 a 1543). Ele foi um astrônomo e
matemático, polonês, foi também cónego da Igreja Católica,
governador e administrador, jurista, astrônomo e médico. Na época de Copérnico
os estudos não mesclavam ciência e misticismo. Foi ele que desenvolveu
a teoria heliocêntrica do sistema solar. Na sua teoria o sol
ficou como o centro do sistema, contrariando a então vigente teoria Geocêntrica de
Ptolomeu (que considerava a terra como o centro), é considerada como uma das
mais importantes hipóteses científicas de todos os tempos, tendo constituído o
ponto de partida da astronomia.
Muito
bem, considerando a complexidade da corrupção que está instalada no Brasil,
exemplifiquei, valendo-me de uma argumentação radicalmente sintetizada, os
depoimentos de dois presidentes, o atual e o do seu antecessor, da principal
empresa envolvida no esquema político/empresa/corrupção.
A
analogia que faço e compartilho com o amigo leitor, orbita em torno da
afirmativa de Ptolemeu, onde, mesclando ciência com adivinhação e misticismo,
criou o Almagesto. Conseguindo com isso sustentar por quase um milênio
e meio sua teoria que foi passada e endossada por cientistas, astrônomos,
matemáticos, místicos e adivinhos por várias gerações, até que finalmente,
1473 anos depois, a verdade enfim se fez presente. Coube a Copérnico
desenvolver a teoria do Heliocentrismo. Uma teoria embasada por estudos científicos
e não por adivinhações.
Assim
como ha quase dois mil anos o “grande tratado" de Ptolomeu enganou muitos
durante muito tempo, aqui no Brasil, criou-se um “grande tratado moderno"
que foi compactuado entre uma Justiça caolha, mesquinha e pessimamente representada
em conluio com uma mídia igualmente mesquinha, seletiva, descompromissada
com a verdade e representada por pseudojornalistas e uma corja de
políticos corruptos. Juntos, essas três entidades conseguiram conscientemente enganar
muitos brasileiros durante muito tempo, vendendo a ideia de que a corrupção
no Brasil estaria a cargo de um único partido e de alguns políticos
a aquele filiados.
Apesar
de o “Almagesto moderno” ter provocado estragos irreparáveis, como no caso do
impeachment da presidente Dilma, felizmente a verdade não ficou oculta por mais
de mil e quatrocentos anos. O nosso “Heliocentrismo
moderno” veio para desnudar a falácia dessa mídia venal
com seus jornalistas de moral rasa e ódio abundante que salivaram sua baba
gosmenta e fétida por décadas, conseguindo, assim como Ptolemeu, enganar muitos
por bastante tempo.
Agora,
depois que finalmente o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal
(STF), autorizou abertura de inquéritos para investigar políticos
citados nas delações da Odebrecht eu finalmente posso dizer:
Ah-ah! – Pois sei que muitos estão finalmente "vendo" o
desenho inteiro de outro modo.
Amigo dagmar, no caso do Almagesto de Ptolomeu , seria mais apropriado dizer-se que havia um engano pois não havia a intenção de iludir ou confundir , o que não se pode dizer desta impensa alugada aos interesses do grande capital.
ResponderExcluirBoa tarde, Márcio Peixoto.
ExcluirAgradeço sua visita ao blog e sua participação neste espaço democrático.
De fato há diferença entre as intenções do Ptolomeu e da nossa mídia. Mas confesso que ao reler uma postagem que fiz em 2012, onde eu tratava da mudança de paradigmas, acabei por associar o fato de tantos terem sido enganados por tanto tempo com o "grande tratado" do Ptolomeu ao atual momento, onde, muitos também foram e ainda estão sendo enganados.
Reitero que sua observação é oportuna.
Abraço
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBom dia. Márcio Peixoto releva, destaca, pontua fato importante: em Ptolomeu, não há intencionalidade de iludur. Há, sim, metodologia, descoberta, mescla de ciência com misticismo, enfim, se há intencionalidade, é-o por parte da imprensa da época, a igreja. E esta não temia a verdade, mas como se a ela chegou, ou seja, o perigo não é o novo paradigma, mas sim como a história poderá passar a ser contada. A igreja não temia o heliocentrismo em si, mas sim a possibilidade de o homem começar a especular, pensar fora da caixa. Tem sido assim desde que os primatas bípedes notaram que havia como persistir Informações, contar histórias.
ResponderExcluirAbraços.
Grande Dagmar, infelizmente as pessoas não querem enxergar o sol, só a terra. Oligarquia sempre foi pauta no Brasil. Tudo desde seu suposto descobrimento,levou os a corrupção. A unica coisa que mudou foram as danças das cadeiras. Todo mundo quer o seu quinhão. Embora não admitam, corruptos sempre fomos e sempre seremos. Na existe Oligarquia sem corrupção. Um puxa o outro.
ResponderExcluirBoa noite, meu caro amigo e leitor, D2.
ExcluirAgradeço sua visita e seu comentário.
Perfeita a sua observação: "Não existe Oligarquia sem corrupção".
Abração e no aguardo de novas visitas e comentários.