Por Dag Vulpi –
Postada originalmente em 15/12/2014
No artigo de
hoje vamos falar de um assunto que é abordado no livro Manual de Melhoria: o
viés de confirmação. Você sabe o que é isto? Muita gente não sabe, mas ele esta
presente em quase todas as decisões que tomamos em nosso dia a dia. Sugiro
também que após o fim da leitura você assista ao vídeo que está inserido no
final desta postagem.
É normal do
ser humano priorizar as informações que confirmem suas crenças ou hipóteses,
independentemente de serem ou não verdadeiras. Como resultado, as pessoas
colhem evidências e trazem informações da memória de forma seletiva, interpretando-as
de maneira às vezes enviesada (tendenciosa). O efeito é mais forte no caso de
assuntos que envolvem o emocional e nos casos em que se está lidando com
opiniões fortemente arraigadas.
Nosso cérebro
procura confirmar os desejos e crenças que temos o tempo todo. Assim,
descartamos tudo que não tem a ver com nossas opiniões anteriores e nos atemos
a sinais que confirmam o que acreditamos. É o que a ciência chama de viés da
confirmação, um estudo feito na Universidade de Ohio demonstrou como ele
funciona. A pesquisa mostrou que as pessoas passam 36% mais tempo lendo um
ensaio que esteja alinhado com suas opiniões do que um que vá contra o que elas
pensam.
É inerente ao
ser humano tender a considerar apenas as informações que estão de acordo com
nossas crenças. Seja quando lemos um livro, assistimos a uma notícia no
telejornal, ou mesmo numa conversa entre amigos. Nas redes sociais, onde
cada um de nós pode encontrar milhares, ou milhões, de outras pessoas que
concordam conosco, seu poder se amplifica enormemente. Inconscientemente
absorvemos aquelas informações que fortalecem nossas crenças e rejeitamos
aquelas que vão ao desencontro a elas, independentemente das evidências, das
provas, do senso comum, e muitas vezes, até mesmo do bom senso. É a
interpretação seletiva e tendenciosa da realidade de acordo com nossos desejos
mais íntimos e crenças mais arraigadas. Todos agimos assim, em menor ou maior
grau.
O vício em
confirmação tem raízes no modo como as emoções funcionam: quando algo reforça
nossas crenças, nos sentimos triunfantes; quando são desmentidas, nos sentimos
frustrados ou até ofendidos.
Saber que o
viés existe, que nossa “busca pela verdade” muitas vezes não passa de uma busca
enviesada pela confirmação de velhos preconceitos e ideias pré-fabricadas, é só
um começo — mas um começo importante, numa sociedade que convive com fortes
emoções e opiniões polarizadas em questões como futebol, moral, religião e
também, principalmente, na política.
Além de todos
esses conceitos, tem também a impressão, a simpatia e muitos outros julgamentos
que fazemos sobre coisas e pessoas, sem nenhum embasamento. Você vê alguém e
implica. Não gosta. Talvez por razões subjetivas que nem você conheça.
Em geral, tudo
o que lemos, as notícias que buscamos, as pessoas em quem acreditamos, são
aquelas que reafirmam o que já pensamos. Primeiro você gosta ou não gosta da
pessoa e, em função disso, você vai concordar ou discordar dela.
É muito mais
fácil convencer alguém ao usar argumentos que têm a ver com a crença que a
pessoa já possui do que propor uma revolução.
O viés da
confirmação é realmente algo interessante. Mas há muitas outras demonstrações
que provam como é fácil vender mentiras por causa das associações sem
sentido que fazemos. As pessoas tendem a acreditar que todo rico é inteligente
(o que não é verdade), que todo famoso é correto (o que nem sempre é verdade),
que todo político é corrupto (o que em alguns casos não se confirma), que toda
pessoa bonita é boazinha (o que não tem nenhuma ligação).
Existem
inúmeras ocasiões em que o viés da confirmação aparece, entre elas podemos
citar dois exemplos:
Torcedores
fanáticos por determinado time de futebol, que só leem ou acatam argumentos e
informações favoráveis ao seu time, refutando todo o resto;
Partidários ou
ativistas políticos que buscam somente informações que enalteçam os aspectos
positivos do lado que estão, refutando inúmeros escândalos ou provas que
demonstrem ao contrário.
Há diferenças
insuperáveis entre o “conhecimento” e a “crença”: o primeiro tem a ver com a
razão, a realidade e a avaliação criteriosa das evidências; a segunda tem a ver
com nossas emoções e com aquilo que desejamos que seja verdade,
independentemente das contradições e das evidências. O conhecimento é o filho
da razão e a crença é filha de nossos desejos e temores. O conhecimento é amigo
das provas e das evidências: admite falhas, muda e assim se fortalece; a crença
só admite o que convém e lhe reforça. Algumas vezes a verdade é contra
intuitiva e as relações de causa e efeito nem sempre são evidentes, mas a
natureza nunca mente. Ela é o juiz supremo de todos os litígios do
conhecimento.
Uma maneira
bem segura de saber se algo em que acreditamos está sendo influenciado pelo
viés de confirmação é saber o que a ciência e os especialistas dizem sobre o
assunto. A ciência não é perfeita, mas teorias científicas são permanentemente
revisadas e se autocorrigem, impedindo os efeitos nocivos do viés de
confirmação. Se a ciência vai de encontro com o que pensamos, devemos entrar em
alerta. Ela é e sempre será nossa melhor guia na busca do conhecimento.
Meu objetivo
com este artigo, apesar de ter pedido no inicio do texto uma atenção especial
daqueles que normalmente divergem das minhas opiniões, não foi o de tentar
insinuar que algum dia estive certo por defender algum ponto de vista, mas
sim, apresentar uma proposta que possa levar ao entendimento de que em quase
tudo, por mais convictos que estivermos, ainda assim, sempre poderá existir
mais de uma possibilidade.