Governo
convoca entidade privada para gerenciar unidade no centro da capital, que terá
leitos para desintoxicação e moradias para usuários de crack
Por Fabio
Leite - O Estado de S.Paulo
Após
sucessivos fracassos na tentativa de acabar com a Cracolândia, o governo
Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu terceirizar o atendimento aos usuários de crack
da região central de São Paulo com um novo espaço de convivência e internação
que terá até "moradias de crise" para 30 dependentes químicos, em
pleno quarteirão onde há consumo aberto da droga.
A Secretaria
de Estado da Saúde abriu anteontem concorrência para que uma Organização Social
de Saúde (OSS) gerencie a unidade do Programa Recomeço que ficará na Rua
Helvetia, 55, no coração da Cracolândia. O local vai oferecer atividades
esportivas e culturais para 100 usuários por dia, 21 leitos para
desintoxicação, além de dormitórios onde os dependentes poderão morar por até
três meses.
"A gente
chama isso de linha de cuidado. Do contato mais superficial, passando pela
desintoxicação, até a moradia para reinserção social, o paciente terá um
tratamento mais intensivo no mesmo ambiente, o que aumenta a chance de dar
certo", disse o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador do programa.
"O grande desafio é como empurrar aquelas pessoas na rua para o
tratamento."
A ideia é que
ao menos o centro de convivência, que funcionará de segunda a sábado, esteja em
operação até fevereiro. Já a estrutura completa, que foi espelhada em modelos
adotados em Nova York, nos EUA, deve ficar pronta em seis meses.
O local
servirá como retaguarda ao Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras
Drogas (Cratod), que funciona a 1,4 km da Cracolândia e atende cerca 30
usuários 24 horas por dia. Quem optar pelo tratamento será encaminhado para a
Helvetia, onde poderá ficar até quatro semanas na enfermaria de desintoxicação,
antes de subir para a moradia assistida.
Segundo
Laranjeira, a terceirização do atendimento para uma OSS visa a dar agilidade
operacional ao projeto. "Será preciso fazer uma reforma rápida no prédio,
contratar e treinar profissionais. Isso exige uma agilidade que, se fosse pela
administração direta, seria difícil porque teríamos de fazer licitação e
concurso público", disse. Serviço semelhante já é feito, por exemplo, no
Hospital Lacan, em São Bernardo, Grande São Paulo, que tem 120 leitos.
Solução. Para
Laranjeira, porém, para acabar com a Cracolândia será preciso também
"intensificar o combate ao tráfico de drogas" na região. Em janeiro
de 2012, a Polícia Militar chegou a prender mais de 100 traficantes numa
megaocupação que espalhou usuários de drogas para outros 27 bairros.
À época, a
ação foi criticada porque havia pouca opção de atendimento aos usuários. Hoje,
mesmo com um equipamento inaugurado pela Prefeitura, cerca de 600 usuários
habitam a Cracolândia. "Do ponto de vista da saúde não tem mais o que
fazer", disse Laranjeira.