Dag Vulpi 18 de Novembro de 2024
Embora promovidas como soluções para a melhoria do ensino público, as escolas cívico-militares frequentemente repelem grupos vulneráveis, como pessoas periféricas, negras, LGBTQ+, neurodivergentes e outros. Essa exclusão não só esvazia a diversidade das instituições, mas também camufla os reais desafios do sistema educacional, melhorando o público atendido em vez de promover inclusão e equidade.
“Essas escolas, para justificar sua existência, que são melhores que as outras, vão na lógica da entrega de resultados. E aí, para entregar resultados, eles mandam embora os mais vulneráveis, os periferizados. Embora o discurso seja ‘vamos militarizar as escolas de vulneráveis’, o público da escola, após a sua militarização, muda completamente. Quando se estabelece um padrão, aqueles que têm mais marcadores de diversidade no seu corpo, mais violentados serão.” - Catarina Santos, professora associada da Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora da Rede Nacional de Pesquisa sobre Militarização da Educação
Implantadas sob a justificativa de disciplinar e elevar a qualidade do ensino, essas escolas vêm gerando outro tipo de problema na sociedade. Por trás da aparência de ordem e progresso, apresentam um ambiente pouco acolhedor para estudantes de grupos vulneráveis, como pessoas negras, LGBTQ+, neurodivergentes e moradores de periferias.
As regras de conduta, os códigos de vestimenta e a ênfase na ênfase militar frequentemente entram em conflito com as identidades e realidades desses alunos. Relações de discriminação e falta de suporte pedagógico para lidar com a diversidade são comuns, levando muitos estudantes a abandonar essas escolas ou sequer a buscar uma vaga nelas. Esse movimento resulta em uma substituição silenciosa do público atendido, atraindo alunos de contextos sociais mais privilegiados e gerando uma "melhoria" artificial dos índices de desempenho escolar.
Embora os dados possam sugerir avanços, eles escondem um problema estrutural: a exclusão de uma parte significativa da população que mais necessita de uma educação pública de qualidade e inclusiva. Ao invés de enfrentar os reais desafios educacionais, as escolas cívico-militares aprofundam as desigualdades, reforçando a ideia de que determinados perfis de estudantes não pertencem a esse espaço.
É uma reflexão urgente sobre o papel dessas instituições na construção de uma educação que respeite a diversidade, promova a inclusão e proporcione igualdade de oportunidades. Sem isso, perpetuamos um sistema que, sob a fachada de eficiência, mascara exclusões e aprofunda injustiças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi