Publicado
em 18/06/2019 - 16:59 - Por Letycia
Bond – Repórter da Agência Brasil
A
Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado
Federal, realizou na manhã de hoje (18) uma audiência que tratou do Dia do
Orgulho Autista, celebrado hoje (18). De acordo com o Ministério da Saúde,
o autismo se configura quando uma pessoa apresenta uma
deficiência persistente da interação social e das comunicações verbal e não
verbal. Também são consideradas autistas pessoas que adotam padrões restritivos
e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades. Isso significa que
elas não conseguem desapegar de comportamentos ritualizados, ou seja, sentem
que precisam de rotina e gostam sempre das mesmas coisas, de maneira fixa.
Algumas pessoas têm, por exemplo, o hábito de lamber objetos, enquanto outras
só bebem algo se utilizarem o mesmo copo.
Presente
no evento, a jornalista Carolina Spínola, coordenadora do Movimento Orgulho
Autista Brasil (Moab) no Mato Grosso do Sul, afirmou que a Política Nacional de
Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, instituída
pela Lei nº 12.764/2012, não está sendo cumprida na prática.
"A
política nacional não está sendo respeitada em sua integralidade. Não existe
tratamento para a pessoa com transtorno, principalmente para a pessoa com
transtorno no nível 3, que é o severo", acrescentou. Carolina tem três filhos,
dos quais dois são gêmeos e autistas, com graus diferentes do transtorno. Um
deles não consegue se comunicar verbalmente.
A
legislação em vigor prevê que o autista tem direito a diagnóstico, atendimento
multiprofissional, nutrição adequada, terapia nutricional e acesso a
medicamentos e informações que auxiliem no diagnóstico e no tratamento. Em
outros âmbitos, a lei cita o direito à vida digna, à integridade
física e moral, ao livre desenvolvimento da personalidade, à segurança e ao
lazer e, ainda, à proteção contra qualquer forma de abuso e exploração.
Carolina
Spínola avalia que o zelo que tem pelos gêmeos é "um caso de amor",
mas reconhece que teve de renunciar à sua carreira para se dedicar à criação
deles, que têm 12 anos de idade e estão, segundo ela, em uma fase
"intensa", que demanda mais cuidados. "Eu parei a minha vida, me
dedico, hoje, 100% [a eles]. Parei de trabalhar, decidi que não ia mais
trabalhar, porque decidi que, se eu não parasse para atendê-los, eles não iam
conseguir evoluir no sistema público", comentou.
Durante
a audiência, a jornalista chamou a atenção para os quadros de autistas que têm,
além do transtorno, outras deficiências, como a visual e a auditiva. "Um
dos meus filhos nunca foi ao cinema e tem 12 anos de idade. A gente tem casos
assim. E por quê? Porque tem uma particularidade dessa pessoa. Eu tenho orgulho
de ter meus filhos? Sim, mas o autismo severo tem doenças associadas. Então,
vamos olhar melhor para essa situação."
Atendimento
público
Ana
Paula Soares Machado é diretora de eventos do Moab e mãe de Leonardo, que
também tem diagnóstico de autismo. Ela conta que acabou se especializando em
terapia e dá cursos para outras mães de autistas qua aguardam o tratamento da
rede pública. "Nós conseguimos pagar as terapias do Leonardo, que são
particulares – só tem uma que é gratuita [pelo Sistema Único de Saúde (SUS] –,
e a gente sempre teve condições de manter isso, mas conheço mães que não têm.
Eu dou curso pra mães, porque acabei estudando pra me especializar e dou curso
pra que elas sejam as terapeutas de seus filhos, enquanto elas estão na fila
[aguardando o atendimento dos filhos]. E, quando a gente é chamada na fila,
fica trinta minutos por semana numa sala. Como se esses trinta minutos fossem
fazer diferença na vida dessa criança, mas não fazem".
Ela
conta que luta por manter melhores condições de vida para Leonardo, como o
tratamento com canabidol, substância extraída da folha da Cannabis Sativa,
a planta da maconha. "Ele toma risperidona [antipsicótico]. A médica está
diminuindo e está entrando com o canabidol, que acredito ser mais natural pra
ele e ele tem respondido muito bem. Alguns autistas não respondem muito bem, mas
ele tem respondido bem. Sempre entrei nos caminhos certos. Alguns eu tive que
arrombar. A gente diz que mãe de pessoa com deficiência é arrombadora de portas
abertas. A porta tava aberta, mas você teve que arrombar pra entrar, porque a
inclusão é um mito e uma utopia pra nós que lutamos", afirmou.
O
Ministério da Saúde informou que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem à
disposição dos pacientes com Transtornos do Espectro do Autismo 2.486 serviços
de reabilitação. Desse total, 223 são Centros Especializados em Reabilitação,
37 Oficinas Ortopédicas e 243 serviços de reabilitação habilitados em apenas
uma modalidade de reabilitação. Também há, na rede, 2.020 serviços de
reabilitação credenciados pelos gestores locais (municipal e estadual).
"O
atendimento nos Centros Especializados em Reabilitação compreende, além da
avaliação multiprofissional, acompanhamento em Reabilitação Intelectual e dos
Transtornos do Espectro do Autismo, bem como Orientações para uso Funcional de
Tecnologia Assistiva. A avaliação multiprofissional é realizada por uma equipe
composta por médico psiquiatra ou neurologista e profissionais da área de
reabilitação para estabelecer o impacto e repercussões no desenvolvimento
global do indivíduo e sua finalidade", disse o ministério, em nota.
Além
dos lém dos Centros Especializados em Reabilitação, o ministério informa que os
pacientes com autismo também podem ser atendidos nos Centros de Atenção
Psicossocial (Caps), unidades de saúde abertas, que proporcionam atenção
integral e contínua do SUS. "É um componente da RAPS para tratamento das
pessoas com transtornos mentais e usuários de álcool e outras drogas. O
objetivo do Caps é oferecer atendimento à população de sua área de abrangência,
realizando o acompanhamento de saúde mental e a reinserção social, pelo acesso
ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços
familiares e comunitários. Atualmente, existem 2.585 Caps em funcionamento no
país. Vale informar ainda que é responsabilidade do gestor local verificar as necessidades
de saúde de sua população para articular a rede de forma a garantir atendimento
adequado e de qualidade aos pacientes", complementou.
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