O
ex-ministro Antônio Palocci disse hoje (6) que a Odebrecht adquiriu um
apartamento em São Bernardo do Campo para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e um terreno para a construção do Instituto Lula, como compensação pelas
vantagens que a empresa recebeu durante o governo do petista. Ele depôs diante
do juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba, na condição de réu da ação penal da
Opereção Lava Jato que apura estes fatos, apresentados em denúncia do
Ministério Público Federal (MPF).
“Eu
queria dizer, a princípio, que a denúncia procede. Os fatos narrados nela são
verdadeiros. Eu diria apenas que os fatos narrados nessa denúncia dizem
respeito a um capítulo de um livro ainda maior de um relacionamento da
Odebrecht com o governo do ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma, que foi
uma relação bastante intensa, bastante movida a vantagens dirigidas à empresa,
a propinas pagas pela Odebrecht para agentes públicos em forma de doação de
campanha, em forma de benefícios pessoais, em forma de caixa 1 e caixa 2”,
disse Palocci ao iniciar o depoimento. “E eu tenho conhecimento porque
participei de boa parte desses entendimentos na qualidade de ministro da
Fazenda do presidente Lula e ministro da Casa Civil da presidente Dilma”.
O
ex-ministro detalhou, ainda, como as diretorias da Petrobras foram divididas
entre os três principais partidos que compunham o governo durante as
administrações petistas. “Na Diretoria de Serviços, [ficou] o PT, na Diretoria
Internacional, o PMDB, e na Diretoria de Abastecimento, o PP. Desenvolveu-se
uma relação de intenso financiamento partidário de políticos, pessoas, empresas.
Esse foi um ilícito crescente na Petrobras, até porque as obras cresceram muito
e, com elas, os ilícitos”, disse.
Palocci
também disse a Moro que conversava com Lula sobre essas relações. Ele narrou
como foi questionado pelo ex-presidente em 2007 se estaria havendo “muita
corrupção” nas diretorias de Serviços e de Abastecimento.
Segundo
o ex-ministro, a Odebrecht repassou R$ 4 milhões em espécie ao Instituto Lula
como propina. Palocci disse ainda que a empreiteira havia disponibilizado uma
reserva de R$ 300 milhões em propina ao PT, e que o ex-presidente sabia se
tratar de “dinheiro sujo”.
Dilma
Antônio
Palocci contou que havia uma desconfiança da Odebrecht quanto à eleição da
ex-presidente Dilma Rousseff. Ele narrou uma reunião que teria ocorrido no dia
30 de dezembro de 2010 entre Lula e Emílio Odebrecht, dono da empreiteira.
“Nessa
reunião, o presidente Lula leva Dilma, presidente eleita, para que ele diga a
ela das relações que ele tinha com a Odebrecht e que ele queria que ela
preservasse o conjunto daquelas relações em todos os seus aspectos, lícitos e
ilícitos”, contou o ex-ministro. Ele disse que não estava na reunião, mas que
ficou sabendo dela através de Lula.
Em
seguida, Palocci disse que a Odebrecht foi beneficiada durante o governo Dilma
em algumas situações. A pedido do juiz Sérgio Moro, o ex-ministro citou como
exemplo que a empreiteira desejava assumir a administração de um aeroporto de
grande porte e havia perdido as licitações para concessão dos aeroportos de
Guarulhos, Campinas e Brasília. Segundo ele, a licitação do aeroporto do
Galeão, no Rio de Janeiro, foi direcionada para que a empreiteira vencesse o
certame. “Havia uma cláusula que impedia o vencedor da licitação de Cumbica de
participar da licitação do Galeão em condições livres. Isso foi colocado por
solicitação da Odebrecht”, contou.
Detido em Curitiba
O
ex-ministro está detido na carceragem da Polícia Federal (PF) de Curitiba. Ele
já foi condenado em outra ação penal da Lava Jato a 12 anos de prisão por
corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Neste
processo, o Ministério Público Federal (MPF) afirma que o Grupo Odebrecht comprou
um terreno no valor de R$ 12,4 milhões para a construção do Instituto Lula —
obra que não chegou a ser executada. Ainda segundo a denúncia, o ex-presidente
também recebeu como vantagem indevida da empreiteira uma cobertura vizinha ao
apartamento onde mora, em São Bernardo do Campo.
O
depoimento do ex-presidente Lula nesta ação penal está marcado para o dia 13 de
setembro.
Outro lado
O
Instituto Lula, em sua página no Facebook, divulgou uma nota em que diz que o
depoimento de Antonio Palloci é contraditória “ com outros depoimentos de
testemunhas, réus, delatores da Odebrecht e provas e que só se compreende
dentro da situação de um homem preso e condenado em outros processos” e que
busca negociar com o MPF e com o juiz Sérgio Moro um acordo de delação premiada
“que exige que se justifique acusações falsas e sem provas contra o
ex-presidente Lula”.
“Palocci
repete o papel de réu que não só desiste de se defender como, sem o
compromisso de dizer a verdade, valida as acusações do Ministério Público para
obter redução de pena e que no processo do tríplex foi de Léo Pinheiro”, diz a
nota.
A
nota também diz que a acusação do Ministério Público usa o argumento de que o
terreno teria sido comprado com “com recursos desviados de contratos da
Petrobrás” só para poder ser julgado dentro do âmbito da Operação Lava Jato
pelo juiz Sérgio Moro e que “não há nada no processo ou no depoimento de
Palocci que confirme isso”. Também cita que Palocci falou de uma série de
reuniões onde “não estava e de outras onde não haveriam testemunhas de suas
conversas. Todas falas sem provas.”
O
Instituto Lula reafirma, na nota, que jamais solicitou ou recebeu qualquer
terreno da Odebrecht e que nunca teve outra sede além daquela em que instituto
funciona atualmente. Lula reafirmou que “jamais cometeu qualquer ilícito nem
antes, nem durante, nem depois de exercer dois mandatos de presidente da
República eleito pela população brasileira.”
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