A
Comissão de Ética Pública da Presidência da República abriu processo de
investigação contra dois ministros e ex-integrantes do governo federal citados
nas delações de executivos da JBS. A decisão foi tomada em reunião
extraordinária convocada para discutir as delações de Joesley e Wesley Batista,
donos do grupo JBS; e do Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais e
Governo da J&F (holding da JBS).
Os
ministros citados nos depoimentos e que serão investigados são: Marcos Pereira
(Indústria e Comércio) e Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia e Comunicações).
Também serão alvo de investigação Antônio Carlos Vieira (vice-presidente da
Caixa Econômica Federal), Geddel Vieira Lima (ex-ministro da Secretaria de
Governo), Fernando Pimentel (ex-ministro da Indústria e Comércio Exterior e
atual governador de Minas Gerais) e Guido Mantega (ex-ministro da Fazenda).
É
a primeira vez que a comissão se manifesta sobre as delações da JBS, que
tiveram o sigilo retirado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em maio. Em
acordo de colaboração premiada firmado com o Ministério Público, os empresários
apresentaram áudio de conversa com o presidente Michel Temer. Nos depoimentos,
os delatores relatam o envolvimento das autoridades em esquema de pagamento de
propina e troca de favores em benefício de terceiros.
Segundo
o presidente da comissão, Mauro Menezes, os ministros poderão apresentar as
defesas e prestar esclarecimentos no prazo de dez dias corridos a partir do
recebimento dos ofícios de intimação.
"A
comissão, mesmo que não se antecipa a fazer um juízo condenatório , ela tem
também o papel de propagar os valores da ética pública, de estabelecer uma
atuação que projete, do ponto de vista cultural, a evolução da ética pública no
país. A comissão não pode ficar, inerte, alheia diante dessa profusão de
situações que exigem esclarecimentos para que as autoridades se conservem à
altura dos cargos que exercem e as ex-autoridades à altura da conservação como
figuras públicas perante a sociedade", disse Menezes.
A
Comissão de Ética Pública é o órgão responsável, entre outras atribuições, por
apurar, mediante denúncia ou de ofício, condutas de autoridades ocupantes de
cargos do Poder Executivo, que violam o Código de Conduta da Alta Administração
Federal. Não cabe à comissão analisar violação de condutas dos presidentes e
vice-presidentes da República.
O
código estabelece que ministros, secretários executivos, presidentes ou
diretores de agências ou autarquias devem “pautar-se pelos padrões da ética”.
As sanções previstas no código são advertência ou sugestão de exoneração, para
autoridades no exercício do cargo; e censura ética, para as que tiverem deixado
o cargo.
Em
nota, o ministro Gilberto Kassab disse que “sempre pautou sua atuação pela
ética e pelo cumprimento das leis”. Também por meio de nota, o ministro Marcos
Pereira afirmou que apresentará sua defesa perante a Comissão de Ética,
“convicto de sua inocência e certo de que a apuração imparcial pode
restabelecer a verdade dos fatos”.
O
advogado de Fernando Pimentel informou que "recebe com perplexidade essa
informação". Segundo a defesa, tem se afirmado por várias vezes "a
mendacidade dos depoimentos dos perdoados da JBS".
Os
demais investigados ainda não se manifestaram.
*Texto
atualizado às 12h48 para correção de informação. Diferentemente do informado, a
comissão abriu processo para investigar o ex-ministro Geddel Vieira Lima, e não
o ministro Bruno Araújo. Texto atualizado também às 16h40 para incluir nota dos
ministros Gilberto Kassab e Marcos Pereira
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