Min.
Gilmar, mais uma vez, com todo respeito, não precisava mexer os pauzinhos nos
bastidores para aprovar projeto de abuso de poder!
Por José Herval Sampaio Júnior no
Jusbrasil
Agora
se fosse um Juiz de 1º grau, como Vossa Excelência agiria?
Quem
nos acompanha sabe que não costumo ficar calado com agressões a minha pessoa e
muito menos a carreira que abraçamos com tanto amor, contudo, sempre tive a
cautela de falar o que penso sem atingir ninguém e de cumprir o Estatuto da
Magistratura e em especial o seu Código de Ética, mesmo sendo professor e tendo
a ressalva legal em sala de aula, sou e sempre serei comedido.
Entretanto,
como disse outrora, paciência tem limite e mais uma vez vou falar com Vossa
Excelência, através de um texto, mas não para respondê-lo como no anterior e
sim indagá-lo, a partir da confirmação de que as conversas ocorreram e que
sinceramente ousarei dizer que não eram institucionais! E muito menos
republicanas!
Será
que Vossa Excelência iria aceitar, com a naturalidade que quer que aceitemos,
uma conversa desse nível de intimidade, por exemplo, com um vereador influente
na cidade que atuamos?
O
Senador Aécio Neves conversa com Vossa Excelência com uma intimidade que
asseguro lhe dizer, a maioria esmagadora dos mais de 15 mil juízes não têm com
qualquer político e os que têm, corretamente, estão alegando suspeição em
possíveis processos, coisa que inclusive Vossa Excelência tem restringido
muito, mas não nos cabe falar de casos que não temos mais elementos e o
referido Código nos impede como Vossa Excelência sabe, ou pelo menos, deveria
saber.
E
os que não estão fazendo e com todo respeito, continuam a ter toda essa
intimidade, devem no nosso entender, serem investigados e não serem
considerados de plano como culpados, isso defendo, desde já, ser a saída para
seu caso, usando com fundamento as diversas manifestações que Vossa Excelência
fez e faz quando acontece caso semelhante que envolve juízes. Mas defendo para o
senhor e todos os investigados e acusados, o devido processo legal!
O
problema é que Vossa Excelência age com dois pesos e duas medidas!
E
ouso dizer que eu e meus colegas de primeiro grau seríamos, talvez,
sumariamente punidos em eventual voto de Vossa Excelência, pelo menos, pelas
declarações que o senhor vive dando na imprensa, mas não defenderei isso ao seu
caso, pois quero, como já disse, que se cumpra a Constituição e as leis
reputadas constitucionais pelos meus colegas, como o senhor muito bem nos ensina
em seus livros de Direito Constitucional, inclusive muito bons, pois é assim
que deve ser.
Nós
juízes, temos a obrigação de sempre fazer valer a Constituição e as leis, tanto
para os “amigos” quanto inimigos, mas parece que Vossa Excelência lê outra
Constituição quando se trata das pessoas que fala com tanta intimidade e nós
não, pelo menos a
maioria, seguimos com uma só, justamente a que o senhor tão bem comenta em seus livros e a aplica quando não tem qualquer relação de intimidade.
maioria, seguimos com uma só, justamente a que o senhor tão bem comenta em seus livros e a aplica quando não tem qualquer relação de intimidade.
Outra
pergunta: será que os juízes de primeiro grau teriam a mesma complacência acaso
comentassem na imprensa, com tanta liberalidade, como o senhor faz, em casos de
colegas do Supremo?
Penso
que não, pois nós do primeiro grau somos olhados de cima pra baixo como se diz
e tratados como fôssemos culpados em simples inspeções feitas, sem que se leve
em consideração a estrutura que dispomos.
Falando
em estrutura, o CNJ corretamente normatizou que nós do primeiro grau devemos
ser priorizados e Vossa Excelência no TSE expediu uma portaria que pode vir a
extinguir quase metade das Zonas Eleitorais de todo o Brasil, sem que se
mexesse em nada nos Tribunais, em especial o Superior da qual Vossa Excelência
o preside.
A
indicação dos textos supra é justamente para não fugirmos do assunto em tela,
mas ainda nos cabe afirmar que se a extinção combatida, na qual tenho certeza
que o STF não deixará se operar, tendo a Anamages (Associação Nacional dos
Magistrados Estaduais) já intentando ação nesse sentido, viesse a ocorrer,
beneficiaria, justamente, muitos políticos que Vossa Excelência conversa com tanta
intimidade.
E
olhe que não sou daqueles juízes radicais que não conversam com políticos, pelo
contrário, converso quase que diariamente com muitos e tenho até o dever como
Diretor do Fórum da Comarca de Mossoró/RN, representando institucionalmente um
dos Poderes, mas lhe asseguro que não tenho intimidade alguma para ligar para
nenhum vereador e influenciá-lo a votar em dado projeto, pois se assim
procedesse, não tenho nenhuma dúvida, que o Vereador com certeza iria ficar
tendente a votar nesse sentido, pois quem não quer agradar um Juiz que um dia
pode vir a julgá-lo?
Vou
parafrasear nosso colega Lênio Streck. Bingo. Vossa Excelência tem um processo
na qual o Senador Aécio Neves é acusado, tendo havido recentemente adiamento de
sua oitiva, por decisão monocrática de Vossa Excelência.
E
aí mais uma pergunta: será que se nós, juízes de primeiro grau, estivéssemos
julgando processos envolvendo vereadores ou prefeitos e conversássemos com os
mesmos, no mesmo grau de intimidade, que Vossa Excelência conversou com o
Senador Aécio e Flexa, poderíamos normalmente continuar no processo, sem
nenhuma suspeição?
Penso
sinceramente e espero que Vossa Excelência não leve para o lado pessoal, que o
senhor daria uma daquelas suas declarações que nos motivou ao primeiro texto
citado em que o respondi, pois seríamos trucidados, sem direito a qualquer tipo
de defesa e no CNJ, no mínimo, seríamos suspensos, quiçá aposentados, além do
processo criminal que iríamos responder.
Entretanto,
não estou defendendo isso para Vossa Excelência, pelo contrário, não quero
prejulgá-lo e uma coisa é certa, e até advogo em seu favor, o senhor sempre
defendeu que a maioria dos juízes abusam da autoridade, logo o pedido que o senhor
fez ao senador Flexa, a pedido do senador Aécio, era coerente mesmo com suas
posições, só não era e não é com seus colegas, que não mereciam ser tratados
por Vossa Excelência como criminosos, eis que o senhor sabe que os possíveis
excessos já podem ser punidos com a legislação atual, mas insiste em querer que
se aprove um projeto, talvez por outros interesses e aí não serei leviano de
acusá-lo, mas sim de nos defender, pois nós, os juízes de primeiro grau, base
da magistratura brasileira, não têm esse nível de conversa, regra geral, com os
políticos.
E
não tem por uma coisa muito simples. Cada qual no seu quadrado.
Não
faz sentido algum que um integrante da mais alta Corte do Poder Judiciário
fique ligando para senadores da República para influir no mérito de sua votação
e nesse caso, segundo o senador Aécio, bastava o senhor ligar e sequer
precisava explicar muito porque o senador Flexa não iria entender, mas que
acompanhasse o Senador Aécio e depois se fazia uns destaques, tudo de “H” como
se diz e o senhor concordou com tudo.
Seria
normal a mesma coisa acaso fosse aqui, por exemplo, na cidade de Mossoró com um
vereador?
Não,
Sr. Ministro, na qual continuarei o respeitando pessoalmente, mas confesso que
perdi o glamour com Vossa Excelência, pois mesmo querendo sim, chegar, quem
sabe, ao STF um dia ou qualquer outro Tribunal Superior, sendo Ministro, não
quero chegar para agir como Vossa Excelência, que mesmo tendo intimidade e
talvez isso, por si só, não seja o grande pecado, interfere diretamente na vontade
de outro Poder, descumprindo a nossa Constituição, que é mais do que clara no
sentido de que as leis não são feitas por Ministros do Supremo Tribunal
Federal.
E
será que um senador não vai querer votar do jeito que um Ministro do Supremo
está pedindo individualmente a ele?
Então,
Sr. Ministro, o fato de o senhor ter claramente publicizado que era a favor do
projeto de abuso de autoridade, não lhe dava o direito de sair ligando para os
Senadores, fazendo valer a força de seu cargo, para que votassem na sua linha,
ou melhor na linha do Senador Aécio, porque pelo áudio que o senhor confirmou,
só houve concordância total com o pedido do Senador.
Para
finalizar eu digo ao senhor e ao Brasil, que tanto pessoalmente quanto
institucionalmente, na mesma linha que o senhor confirmou e se defendeu em
nota, falo muito, tanto em textos quanto em vídeos, bem como palestras e
cursos, mas não me dou ao direito de sair ligando e influenciando os políticos
porque sou Juiz e quando fazemos na linha associativa, diferente do senhor que
luta contra a sua classe, o faço com o devido respeito que os políticos
merecem, pois cada qual tem a sua devida atribuição constitucional.
Sei
do risco pessoal que porventura possa ter com este escrito e na realidade o
faço consciente, mas aguardo em Vossa Excelência que o veja da forma mais
republicana possível, coisa que nesse momento falta à boa parte dos políticos e
algumas autoridades, mas que tenho a esperança de que assim haja, pois tão
somente penso refletir o pensamento da grande maioria dos juízes de primeiro
grau desse país, qual seja, ficaram constrangidos com tal diálogo, pois não
reflete nem perto, o nosso dia a dia, nas Comarcas e seções judiciárias de todo
o país!
Que
Vossa Excelência possa reconhecer o erro e quem sabe mudar com o tratamento, a
nós juízes de primeiro grau, em especial ao povo brasileiro e reflita sobre
seus últimos atos, pois sinceramente, uma coisa não tenho a menor dúvida, não
tem engrandecido em nada o Poder da qual Vossa Excelência faz parte, pelo
contrário, tem nos deixado, perante o povo, em situação bem difícil!
José Herval Sampaio Júnior - um
cidadão indignado com a corrupção
Mestre
e Doutorando em Direito Constitucional, Especialista em Processo Civil e Penal,
Professor da UERN, ESMARN, Coordenador Acadêmico do Curso de Especialização de
Direitos Humanos da UERN. Autor de várias obras jurídicas, Juiz de Direito e
ex-Juiz Eleitoral.
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