Da AFP
Um caminhão lançado contra uma multidão em uma feira de Natal no
centro de Berlim, nesta segunda-feira à noite (19), deixou pelo menos 9 pessoas
mortas e 50 ficaram feridas, informa o último boletim da polícia, em um evento
que já começa a ser considerado como um "ataque" pelo governo. As
informações são da AFP.
De acordo com o ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière,
"muitas razões" levam a pensar que foi um ataque.
"Ainda não quero - por enquanto - pronunciar a palavra
'atentado', mesmo que muitas razões levem a pensar nisso", disse ele à
emissora pública ZDF.
No Twitter, o ministro alemão da Justiça, Heiko Mass, informou que a
investigação será conduzida pelo Ministério Público. Na Alemanha, o órgão é
responsável por assuntos ligados ao terrorismo.
"Uma pessoa, que é claramente o motorista, foi detida. Um
passageiro morreu", disse a Polícia à AFP, citando um boletim provisório
de "ao menos nove mortos" e "pelo menos 50 feridos, quatro em
estado grave".
"Examinamos a pista de um atentado terrorista, mas ainda não
sabemos as motivações desse ato", disse um outro porta-voz policial.
A Polícia também pediu à população que "fique em casa", como
medida de precaução.
De acordo com diferentes veículos da imprensa alemã, o motorista do
caminhão, cuja placa é da Polônia, conseguiu fugir.
O proprietário da empresa dona do caminhão confirmou o desaparecimento
do polonês.
"Não temos contato com ele desde esta tarde. Não sei o que
aconteceu com ele. É meu primo. Eu o conheço desde a infância. Eu respondo por
ele", declarou Ariel Zurawski por telefone à AFP.
Questionado pelo canal de notícias 24 horas TVN24 sobre se o motorista
se sentia ameaçado, ou em perigo, Zurawski respondeu "de modo algum".
Segundo Lukasz Wasik, um diretor da empresa, o contato com o
motorista, de 37 anos, foi perdido por volta das 15h locais (12h, horário de
Brasília).
"Não sabemos no que ele se transformou, se foi sequestrado,
morto, não sabemos de nada. Estamos muito preocupados com ele", declarou,
acrescentando que "a última vez que estivemos com ele no telefone foi esta
manhã, por volta das oito, ou nove".
O motorista transportava 25 toneladas de produtos metalúrgicos,
procedentes da Itália.
Em Berlim, "a empresa onde ele devia descarregar não pode
recebê-lo e disseram a ele para voltar na terça de manhã. Dissemos a ele para
esperar em Berlim, em alguma parte", acrescentou Wasik.
Por enquanto, a Polícia descarta novas ameaças para a população.
"Não há atualmente indícios de outras situações perigosas"
no centro de Berlim oeste, tuitou a Polícia.
A chanceler alemã, Angela Merkel, disse estar "em luto"
pelos mortos.
"Estamos em luto e esperamos que os muitos feridos recebam a
ajuda necessária", disse o porta-voz de Merkel, Steffen Seibert, em sua
conta no Twitter, em alusão às "terríveis notícias" vindas de Berlim.
Imagens do jornal local Berliner Morgenpost publicadas on-line mostram
várias barracas da feira de Natal destruídas pelo caminhão.
As forças da ordem estabeleceram um perímetro de segurança e
bloquearam o acesso.
Reações
Por suas circunstâncias, esse evento remete ao atentado de 14 de julho
de 2016, em Nice, na França, quando um caminhão atropelou várias pessoas no
Passeio dos Ingleses, no dia da festa nacional do país. Nesse sentido, a França
manifestou prontamente sua solidariedade.
Em nota divulgada pelo Palácio Eliseu, o presidente francês, François
Hollande, declarou que "os franceses compartilham o luto dos alemães
frente a essa tragédia que atinge toda a Europa".
O chefe de Estado francês manifestou "sua solidariedade e sua
compaixão à chanceler (alemã, Angela) Merkel, ao povo alemão e às
famílias".
O ministro francês do Interior, Bruno Le Roux, anunciou que a
segurança foi "imediatamente reforçada" nas feiras de Natal no país.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disse estar
"entristecido" com o episódio de hoje.
Os americanos também reagiram, condenando o suposto "ataque
terrorista".
"Os Estados Unidos condenam nos termos mais firmes o que parece
ser um atentado terrorista em um mercado de Natal de Berlim", afirmou o
porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, Ned Price, em um comunicado.
"A Alemanha é um dos nossos mais fortes aliados, e estamos junto
com Berlim na luta contra todos aqueles que atentam contra nossa forma de vida
e ameaçam nossas sociedades", acrescentou.
"Estivemos em contato com funcionários alemães, e estamos prontos
para oferecer ajuda, enquanto investigam e se recuperam desse horrível
incidente", afirmou Price.
Alta tensão
O mercado natalino atingido pelo caminhão, que partiu para cima de
transeuntes e rolou sobre a calçada, fica no centro da capital, a dois passos
da Gedächtniskirche - a Igreja da Lembrança, uma das principais atrações
turísticas berlinenses - e de uma movimentada avenida de comércio, a
Kurfürstendamm.
No local, um turista entrevistado pela AFP disse não saber se o
motorista "estava bêbado", ou se ele lançou o caminhão de forma
deliberada, "mas ele não procurou parar, ele simplesmente continuou".
"Acabei de ver esse gigantesco caminhão preto, que embestou na
direção do mercado e atropelou tantas pessoas, então, todas as luzes se
apagaram, e tudo ficou destruído", relatou a turista australiana Trisha
O'Neill, em entrevista à emissora Australian Broadcasting Corporation.
"Havia sangue e corpos por todos os lados", incluindo
crianças e idosos, completou ela.
Em julho passado, em Nice, um tunisiano jogou seu caminhão contra uma
multidão no Passeio dos Ingleses. Esse atentado deixou 86 mortos e mais de 400
feridos e foi reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI). O agressor foi
morto pela Polícia.
Até agora, a Alemanha havia sido poupada do ataques extremistas de
ampla envergadura, mas vários atentados islâmicos foram cometidos,
recentemente, por "lobos solitários".
Em julho, o EI assumiu a autoria de um atentado cometido por um sírio
de 27 anos, que deixou 15 feridos, e de um ataque lançado por um demandante de
asilo, provavelmente de origem afegã, de 17 anos, que deixou cinco feridos.
Em outubro, um sírio se suicidou na prisão após ser detido. Segundo os
investigadores, ele se preparava para lançar um ataque contra um aeroporto de
Berlim.
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